Testemunha do atentado de Nice: “As pessoas pulavam no mar para se esconder”
Pessoas presentes no ataque relatam como presenciaram o massacre, como escaparam e se esconderam pela ameaça de que existissem mais terroristas
Nice amanheceu nesta sexta-feira sitiada pela polícia e o exército após o atentado da noite de quinta no qual morreram dezenas de pessoas e outras centenas ficaram gravemente feridas. Navios militares e da Gendarmerie patrulhavam na manhã de sexta a praia da avenida Promenade des Anglais (Passeio dos Ingleses), onde ocorreu a matança na noite de quinta durante a comemoração do dia nacional da França. Na rua ainda estão alguns restos do atropelamento, como pedaços de carrinhos de bebê e sapatos perdidos na corrida. A vizinhança e muitas das testemunhas que presenciaram a tragédia se aproximaram até os limites do passeio, completamente fechado pela polícia, onde ainda está o caminhão branco dirigido pelo terrorista com a cabine totalmente perfurada pelos disparos com os quais a polícia conseguiu abatê-lo.
Ninguém ainda acredita no que aconteceu. Desmet Germian, um aposentado belga de 73 anos, estava vendo um show de jazz na avenida pouco depois das 22h30 (17h30 de Brasília). De repente, lembra, escutou gritos e viu um caminhão branco se aproximar a toda velocidade deixando pelo caminho dezenas de corpos destroçados. “Os músicos jogaram os instrumentos no chão e saltaram para trás do palco. Eu tropecei e cai no chão e outras pessoas caíram por cima de mim. Não pude me mexer por um bom tempo. Era horroroso. As mulheres corriam com os carrinhos muito mais rápido do que eram capazes e as crianças caíam no chão”, lembra exatamente em uma das ruas onde as pessoas correram para se refugiar.
Durante uma hora, correu o rumor de que havia outro terrorista armado na região. A maioria dos comerciantes da área abriu suas lojas e deixou entrar qualquer um que coubesse. Gino, o dono de uma loja de arte veneziana, se trancou nela com uma dezena de pessoas. “Havia muito pânico e baixamos a porta de aço. Não sabíamos o que estava acontecendo do lado de fora”. Camsarvararayen, dona vietnamita de uma loja de comestíveis de oito metros quadrados, fez a mesma coisa. “Coloquei 20 pessoas dentro, uns jogados no chão, outros apoiados onde podiam...”, lembra. “Estávamos com muito medo, não sabíamos se podia aparecer um terrorista e matar a todos nós”.
Milhares de pessoas nesse momento corriam pelo passeio e pelas ruas próximas. Muitos chegaram até mesmo a saltar o muro do passeio. “Algumas pessoas pularam de uma altura de três metros até a praia. Correram para se esconder dentro da água caso existisse algum terrorista atirando”, lembra Cons Gerard, de férias com sua família em Nice. “O problema é que não sabia para onde correr. Fomos embora três minutos antes do caminhão invadir o passeio porque havia começado a chuviscar. Nós nos salvamos por milagre”.
Gilles, um taxista que trabalha na região, explica como, junto com outros colegas, começaram a fazer viagens aos hospitais com os feridos. “Todos nós colocamos as mãos à obra. Existiam tantos feridos que precisamos usar guardanapos e toalhas dos restaurantes próximos para fazer torniquetes e fechar feridas”, lembra. “Estamos em guerra, essa situação chegou a um limite insuportável”, analisa dentro do táxi. Muitos aqui acreditam que, em parte, Nice foi atacada por estar em uma região na qual a Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen tem uma forte presença. Além disso, diz um morador, “o prefeito teve problemas aqui ao se opor à instalação de uma mesquita”.
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