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Obama em Dallas: “Não estamos tão divididos como parece”

Presidente chega à cidade em que cinco policiais foram assassinados na quinta-feira

Pablo Ximénez de Sandoval

Barack Obama termina sua presidência convertido em um curandeiro-chefe em um país aonde as matanças se superam em quantidade ou em qualidade a cada poucas semanas. Na terça-feira, aterrissou em Dallas (Texas) para realizar uma tarefa que se tornou comum na agenda da presidência. Na cidade onde cinco policiais foram assassinados na quinta-feira, pronunciou um novo discurso de unidade após novo tiroteio, executado por um novo assassino insensível, mas sem problemas com a justiça, com armas a sua disposição e uma razão para odiar.

De esquerda a direita, Joe Biden, Laura Bush, George Bush, Michelle Obama e Barack Obama, no funeral de Dallas.
De esquerda a direita, Joe Biden, Laura Bush, George Bush, Michelle Obama e Barack Obama, no funeral de Dallas.Eric Gay (AP)
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“Estou aqui para insistir que não estamos tão divididos como parece. Estou aqui para dizer que devemos repelir esse desespero”, disse Obama em um discurso de quase meia hora no qual mencionou tanto os agentes mortos como os dois negros mortos na mesma semana por policiais, motivo de protestos como o de Dallas na quinta-feira em que ocorreu a última matança.

A primeira reação de Obama sobre o ocorrido foi chamá-lo de “horrível, premeditado e desprezível ataque às forças de segurança”. Um jovem negro provocou a maior matança de policiais, cinco, desde o 11 de setembro. Foi a segunda vez em dois dias em que precisou falar sobre a violência do país, após a morte a tiros de dois homens negros por policiais, Alton Sterling e Philando Castile.

Obama compareceu em Dallas a uma cerimônia em homenagem aos policiais da qual também participou seu predecessor, George W. Bush, que vive na cidade.

A matança ocorreu durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) em protesto pelas mortes de Sterling e Castile. Quando se soube que o assassino pretendia matar brancos e seu ódio era de origem racial, o país prendeu a respiração se perguntando se estava assistindo o começo de algo muito inquietante.

Cinco dias depois, Dallas ao menos abraçou a si mesma com massivas demonstrações de solidariedade à polícia e pedidos de compreensão mútua. A cidade, traumatizada pelo ocorrido e novamente vítima de certo estigma que a persegue desde o assassinato do presidente Kennedy, organizou uma homenagem somente 12 horas depois da matança. Milhares de pessoas se reuniram em um parque da cidade para ouvir líderes de diversas religiões e o chefe da polícia, David Brown, pedirem à sociedade empatia com os policiais. Serviços religiosos por toda a cidade no domingo ajudaram a lidar com o luto.

Famílias destroçadas

Na segunda-feira, a cidade organizou outro grande ato ao qual compareceram milhares de pessoas na praça da Prefeitura para relembrar os mortos. Nesses dias, o chefe Brown, negro do Texas, cujo filho matou um policial e foi morto pela polícia, se transformou em uma voz de autoridade e bom senso. Era prevista a fala de Brown no ato de segunda-feira.

Há um ano, em julho de 2015, Obama decidiu cantar o hino gospel Amazing Grace na homenagem a nove pessoas negras assassinadas por um branco em um crime racista em uma igreja de Charleston (Carolina do Sul). A ideia central de seu sermão foi que os caminhos do Senhor são inescrutáveis e que, talvez, o horror de Charleston tenha servido para finalmente colocar sobre a mesa um debate franco e construtivo sobre assuntos como as armas e o racismo nos Estados Unidos.

Um ano depois, o funeral ecumênico em Dallas começou com um coro cantando esse mesmo hino para famílias destroçadas. Dallas demonstrou o longo caminho que ainda é preciso percorrer, se é que já começou a ser.

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