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Efeito dominó: cai ministro do Turismo, o terceiro do Governo Temer

Henrique Alves (PMDB) é investigado na Lava Jato e foi citado na delação de Sérgio Machado

Henrique Alves, que deixou Governo Temer.
Henrique Alves, que deixou Governo Temer. José Cruz/Agência Brasil

Acusado de ser um dos agraciados com propinas por meio da corrupção na Petrobras, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, entregou na tarde desta quinta-feira sua carta de demissão ao presidente em exercício da República, Michel Temer (PMDB). No documento, o demissionário alegou que não queria criar constrangimentos ou dificuldades para a gestão e disse que o “momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior”.

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Alves é a terceira baixa na gestão Temer, em 35 dias de governo, por conta da delação premiada assinada pelo ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, no âmbito da Operação Lava Jato. Antes dele caíram os então ministros do Planejamento, Romero Jucá, e da Transparência, Fabiano Silveira. O primeiro era suspeito de obstruir o trabalho dos policiais, o segundo foi gravado orientando um dos investigados (o presidente do Senado, Renan Calheiros, também do PMDB) de como se defender.

Antes de pedir sua demissão, Alves havia dito que repudiava as informações dadas pelo delator Machado e as chamou de "irresponsável" e "leviana". Na carta, ele afirmou estar seguro de que as ilações envolvendo o seu nome serão esclarecidas. Sem o cargo de ministro, o peemedebista perde a prerrogativa de foro privilegiado e pode passar a responder ao juiz Sergio Moro, da primeira instância da Justiça Federal no Paraná.

O ministro era considerado um dos fiéis aliados de Temer na Esplanada dos Ministérios. Por essa razão, assessores do presidente interino ressaltaram que foi o próprio Alves quem pediu demissão, e não que ele foi demitido.

A situação de Alves se complicou depois que veio à tona a delação premiada de Machado citando que o ministro teria recebido 1,5 milhão de reais em recursos ilícitos disfarçados de doações eleitorais entre os anos de 2008 e 2014. O anúncio da demissão, ocorreu poucas horas depois de Michel Temer dizer que a declaração do ex-senador era mentirosa e criminosa. O próprio presidente interino foi acusado por Machado de ter pedido a ajuda para obter recursos ilícitos, disfarçados de doação eleitoral, para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012.

Filiado ao PMDB do Rio Grande do Norte, Alves já presidiu a Câmara dos Deputados entre 2013 e 2015. Foi eleito deputado federal por 11 mandatos consecutivos e tentou, sem sucesso, se eleger governador no ano de 2014. Como não foi eleito, a então presidenta Dilma Rousseff (PT) o nomeou ministro do Turismo, cargo que manteve na gestão interina de Michel Temer, mesmo sendo um dos investigados pela operação Lava Jato.

O ministro demissionário fora citado ao menos três vezes no esquema que desviou mais de 20 bilhões de reais da Petrobras. A primeira citação, que resultou a inclusão de seu nome na lista do Janot, foi feita pelo doleiro Alberto Yousseff, o operador do Partido Progressista (PP) que ajudou a desvendar o sistema de corrupção que corroeu a maior empresa estatal brasileira. A segunda vez ocorreu no ano passado, quando a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão em sua residência. E a última na quarta-feira, quando a delação de Machado foi tornada pública.

No Congresso Nacional, os parlamentares governistas disseram que a demissão de Alves era um gesto correto de Temer, pois ele não compactuaria com irregularidades.

“O Governo anterior [de Dilma Rousseff] passava a mão na cabeça dos seus. Esse, não. Se há suspeita de questões ilícitas, o presidente Michel Temer afasta. O Governo não pode deixar a sensação de que pactua com algum tipo de ilícito”, disse o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Pauderney Avelino.

Já os opositores, disseram que a queda de Alves era esperada e que outras estão perto de ocorrer. “Era só uma questão de tempo. Certamente teremos outras demissões em breve porque esse Governo foi montado com um monte de investigados. É uma gestão irresponsável”, afirmou o líder do PT na Câmara, Afonso Florence.

A íntegra da carta de Alves

Excelentíssimo Senhor Presidente Michel Temer,

O momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior. O PMDB, meu partido há 46 anos, foi chamado a tirar o Brasil de uma crise profunda. Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional. Assim, com esta carta entrego o honroso cargo de Ministro do Turismo.

Estou seguro de que todas as ilações envolvendo o meu nome serão esclarecidas. Confio nas nossas instituições e no nosso Estado Democrático de Direito. Por isso, vou me dedicar a enfrentar as denúncias com serenidade e transparência nas instâncias devidas.

Pensei muito antes de tomar esta difícil decisão, porque acredito que o Turismo reúne as melhores condições para ajudar o Brasil a enfrentar o momento difícil que vive. Esta foi a motivação que me levou a voltar ao comando do Ministério depois de tê-lo deixado por uma questão política, de coerência partidária.

Acredito ter honrado os desafios do setor no pouco mais de um ano que estive no Ministério do Turismo. Registramos conquistas importantes como a isenção de vistos para países estratégicos durante a Olimpíada e Paralimpíada, a redução do imposto de renda para o turismo internacional e a execução de obras de infraestrutura turística em todas as regiões, para citar alguns exemplos.

Presidente Michel, agradeço à sua sempre lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida política e partidária, sabendo que sempre estaremos juntos nessa trincheira democrática em busca de uma nação melhor. A sua, a minha, a nossa luta continuam. Pelo meu Rio Grande Norte e pelo nosso Brasil.

Respeitosamente,

Henrique Eduardo Alves

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