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No momento de glória de Hillary Clinton, o racismo de Trump alarma a direita

Candidato republicano adota tom mais contido após uma semana de ataques verbais contra um juiz por sua origem mexicana

Marc Bassets
Trump fala em seu clube de golfe de Westchester (Nova York).
Trump fala em seu clube de golfe de Westchester (Nova York).CARLO ALLEGRI (REUTERS)

Enquanto o Partido Democrata escolhia a primeira mulher candidata à Casa Branca, o Partido Republicano entrava em uma espiral autodestrutiva de críticas e lamentações pelo racismo de seu maior líder. As vociferações do candidato Donald Trump semeiam o pânico em seu partido. Após se juntarem a Trump nos últimos dias, vários dirigentes da direita se distanciaram do candidato na terça-feira. As dúvidas sobre se sua indicação foi um enorme erro que entregará a Casa Branca aos democratas, e talvez o Congresso, chegam ao mesmo tempo que o final do processo de indicação democrata e o início das alianças em torno de Hillary Clinton.

Na semana passada, Trump acusou o juiz federal Gonzalo Curiel de parcialidade por ser mexicano. Curiel, nascido nos Estados Unidos e cidadão norte-americano, se ocupa do caso da suposta fraude da Trump University, uma falsa universidade promovida pelo magnata nova-iorquino que oferecia aulas e conselhos para se investir no mercado imobiliário. O candidato republicano afirma que Curiel, por sua origem latina, está incapacitado para julgar o caso. De acordo com seus argumentos, a proposta de construir um muro entre o México e os EUA cria um conflito de interesses. Para o juiz.

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O racismo de Trump não é uma novidade, mas poucas vezes ele o havia expressado de maneira tão rude. A ideia de vetar um funcionário público por sua origem étnica e nacionalidade viola todas as leis de qualquer democracia. O próprio Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes e cabeça visível do establishment conservador, disse que as palavras de Trump eram racistas, mas se negou a retirar-lhe o apoio. O nacional-populismo de Trump pode apelar a um setor do eleitorado branco, mas afasta as minorias que cada vez mais têm peso maior nas eleições dos EUA.

O efeito que as palavras de Trump causam entre os republicanos ficou claro no discurso do candidato após as últimas eleições primárias, em Nova York. Excepcionalmente, não improvisou, mas o leu. Ele se ateve ao roteiro. Atacou os Clinton, algo que entusiasma a todos os republicanos, favoráveis e contrários a Trump. Lançou mensagens de aproximação aos afro-americanos e à esquerda do Partido Democrata. Apelou à unidade e prometeu responsabilidade. Afastou a retórica identitária e centrou-se na economia. Depois de uma semana de autocombustão e oratória racista, parecia um garoto envergonhado após receber uma bronca de seus pais.

Trump, imprevisível e temperamental, xenófobo e misógino, conquistou a indicação um mês atrás, mas desperdiçou esse tempo com subidas no tom dos discursos, ataques aos próprios republicanos, gestos que enfraqueceram a unidade do partido, negativas em publicar suas declarações de impostos, insultos a jornalistas e, finalmente, o infeliz ataque ao juiz Curiel. O Partido Republicano projetou uma imagem de racismo que envergonha alguns de seus membros mais notáveis, e que está a anos-luz de suas melhores tradições, que são as dos EUA. E o Partido Democrata corrigiu uma anomalia: nunca uma mulher havia chegado tão perto da Casa Branca. A dualidade desse país, resumida em uma eleição.

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