EL PAÍS completa 40 anos
Jornal comemora quatro décadas de informação, valores democráticos e prestação de serviço
Quarenta anos é bastante coisa. Ainda mais à saída de uma ditadura. O surgimento do diário EL PAÍS, em 4 de maio de 1976, no início da transição para a democracia na Espanha, foi mais do que uma notícia. EL PAIS nasceu de um impulso em defesa das liberdades individuais, da avidez por construir uma democracia no mesmo patamar dos demais países europeus e da convicção de que os espanhóis eram capazes de recompor a sua convivência pacífica depois de três décadas de ditadura. A explicação é de Juan Luís Cebrián, primeiro diretor do jornal e hoje presidente do EL PAIS e do Grupo PRISA, no artigo que abre a edição especial, em formato de revista, com 316 páginas, distribuída gratuitamente nesta quarta-feira, na Espanha, com a edição diária habitual.
Aquele pequeno impresso, cujas páginas eram fechadas no início da madrugada e que se tornou rapidamente a grande referência jornalística em espanhol, equiparando-se aos mais prestigiosos periódicos internacionais, é hoje um jornal global, dedicado ao mundo ibero-americano, e que, por meio de sua edição digital, possui abrangência global, situando-se na vanguarda da informação e da tecnologia.
Desde o início, a empresa, seus jornalistas e funcionários em geral tiveram os olhos voltados para os leitores como os únicos depositários do direito à liberdade de expressão, como lembra Cebrián. A edição especial, cuja capa foi criada por Rafael Canogar, apresenta os acontecimentos mais significativos desses 40 anos. Da guerra fria ao jihadismo, passando pela queda do Muro de Berlim, a chegada do primeiro presidente afro-americano à Casa Branca, a revolução da Internet, os cinco escritores de língua castelhana que ganharam o Nobel desde 1977 e os feitos da seleção espanhola de futebol. Toda a história protagonizada por grandes personalidades, mas também pelo povo da rua, que encontrou no EL PAIS um aliado com o qual pode contar para realizar as suas esperanças.
Além dos artigos de Juan Luis Cebrián e do diretor Antonio Caño, que podem ser lidos abaixo, a revista inclui textos assinados pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls; o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos; o ex-primeiro-ministro Felipe González e o acadêmico e escritor Antonio Muñoz Molina; assim como entrevistas com Ana Botín, presidenta do Banco Santander, e Pablo Isla, presidente do grupo Inditex. Entre os políticos espanhóis, destacam-se as conversas com Soraya Saénz de Santamaría, vice-primeira-ministra em exercício; Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE; Albert Rivera e Pablo Iglesias, dirigentes de Ciudadanos e do Podemos, respectivamente; e o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba. Do mundo dos esportes e da cultura, o leitor encontrará conversas com o artista plástico Miquel Barceló, o tenista Rafael Nadal, o cineasta Fernando Trueba e o ator Antonio Banderas.
Essa grande empreitada jornalística impulsionada por Jesús de Polanco e José Ortega Spottorno sempre se pautou pela independência profissional e empresarial. “Sem ser hostil a ninguém, mas também sem compromissos e sem partidarismos”. Esse foi um dos lemas que guiou Polanco, à frente do grupo PRISA, até o seu falecimento, em 2007. Desde a fundação do jornal, foram cinco os diretores que estiveram à sua frente. Juan Luís Cebrián foi sucedido em 1988 por Joaquín Estefanía, seguido de Jesús Ceberio em 1993. Javier Moreno assumiu as rédeas da direção em 2006, passando o bastão, em 4 de maio de 2014, para Antonio Caño.
Juan Luis Cebrián: 'Para a liberdade'
"Foi a defesa da liberdade individual, a avidez por construir uma democracia equiparável às do nosso entorno geopolítico e a convicção de que os espanhóis eram capazes de reconstruir sua convivência em paz, após décadas de ditadura, o que levou algumas poucas centenas de cidadãos, convocados por José Ortega Spottorno, a arriscar patrimônio e prestígio intelectual na fundação deste jornal."
Antonio Caño: 'Um período maravilhoso'
“Um veículo com a amplitude e a variedade do EL PAIS serve para facilitar o diálogo e o entretenimento. Hoje em dia, fazemos isso com a ajuda de ferramentas tão sofisticadas que eu mesmo não consigo entender. Mas não acredito que seja possível que uma dessas máquinas consiga produzir uma notícia como o faz um redator de EL PAIS”.
Com uma sala de redação renovada e dotada da mais avançada tecnologia, EL PAIS se dispõe a enfrentar o futuro global em meio a uma conjuntura turbulenta para as empresas de comunicação. Antonio Caño tem bastante clareza quanto à missão deste jornal. “Neste momento, existem por aí milhões de leitores olhando para as telas de seus equipamentos, esperando para ler, ver ou ouvir o que temos para lhe contar. Contemos, portanto, algo interessante”, afirma Caño na edição especial, em que também revela ter colocado em sua nova sala de trabalho uma foto de 23 de fevereiro de 1981 em que um grupo de pessoas lê afoitamente alguns exemplares de EL PAIS na escadaria do hotel Palace, a poucos metros de onde se gestava uma tentativa de golpe de Estado na Espanha. “Escolhi esta fotografia para nunca esquecer as razões que justificam a existência deste jornal: a publicação da informação de que a sociedade necessita para se defender das ameaças que sempre a espreitarão”.
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