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China investiga Baidu após morte de estudante

Jovem recorreu a um tratamento duvidoso contra o câncer em hospital anunciado no popular buscador

As autoridades da China abriram uma investigação sobre o gigante da internet Baidu depois da morte de um estudante que recorreu a tratamento de um câncer em um dos hospitais indicados pelo buscador. O tratamento – uma terapia experimental sem resultados comprovados – não deu certo –, o que desencadeou críticas dos internautas ao gigante tecnológico por permitir que tratamentos como esse, de eficácia duvidosa, continuem aparecendo nos primeiros lugares do motor de busca chinês.

Uma mulher caminha junto ao logótipo de Baidu em sua sede de Beijing.
Uma mulher caminha junto ao logótipo de Baidu em sua sede de Beijing.JASON LEE (REUTERS)
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Wei Zexi, 21, sofria de sarcoma sinovial, um tipo raro de tumor que se forma no tecido que envolve as articulações, atingindo normalmente os tornozelos e os joelhos. Depois de se submeter a diversos tratamentos com quimioterapia em diferentes hospitais e não verificar nenhuma melhora em sua situação, o jovem decidiu procurar outras soluções no Baidu – o equivalente do Google na China. Entre os primeiros resultados da busca, apareceu o Segundo Hospital da Polícia Armada de Pequim, que oferecia um tratamento baseado no uso de células geradas pelo sistema imunológico do próprio paciente.

O centro médico afirmava que se tratava de uma nova terapia resultante de uma pesquisa realizada em parceria com uma universidade norte-americana, o que era falso. Wei e sua família pagaram cerca de 200.000 yuans pelo tratamento (cerca de 106.000 reais), e o estudante morreu no último dia 12 de abril, segundo a agência oficial de notícias Xinhua.

Em fevereiro, ao perceber que o tratamento não dava qualquer resultado, o jovem denunciou à Justiça as práticas nocivas da instituição e o fato de esse centro constar dentre os primeiros resultados anunciados pelo buscador. “Baidu, não sabíamos o quanto você pode fazer mal”, escreveu. A divulgação do caso provocou a manifestação irada de milhares de internautas na China e obrigou a que se abrissem investigações por parte da Administração Estatal de Internet e da Comissão Nacional de Saúde.

Tal como ocorre no caso do Google, grande parte das receitas do Baidu provém daquilo que é pago por anunciantes para aparecerem logo no início das pesquisas. No entanto, no buscador chinês, a diferença entre os links normais e os links patrocinados não fica clara. A empresa se comprometeu a avaliar melhor os conteúdos de seus anunciantes. A agência reguladora de internet do gigante asiático pediu explicações sobre o caso ao próprio presidente da companhia, Robin Li, segundo os jornais locais. As autoridades também abriram uma investigação sobre o hospital em questão.

No Baidu, não fica clara a diferença entre os links normais e os links patrocinados

O Baidu já pediu desculpas e prometeu colaborar com as autoridades. Os veículos de comunicação estatais também atacaram a empresa, que é acusada de priorizar os lucros em detrimento da moral. “Existem hospitais que lucraram à custa da morte de pacientes levados por anúncios enganosos pagos para aparecer nos lugares mais altos nos resultados das buscas”, afirmou o Diário do Povo, em texto opinativo. “Como buscador que lidera o mercado na China, o Baidu acaba servindo de porta de entrada para a maioria dos usuários que buscam informações. Mas aparentemente trata-se de uma via de entrada para o conhecimento que acabou se entupindo com dinheiro”. As ações da companhia na bolsa Nasdaq caíram cerca de 8% depois do anúncio das investigações.

Este não é, porém, o primeiro caso em que se questiona a ética adotada pela Baidu na gestão do conteúdo de seus anunciantes. No começo do ano, a empresa vendeu os direitos de gestão de um foro de pacientes com hemofilia a uma clínica particular que não tinha licença e que usava a plataforma para promover seus tratamentos contra a doença. Muitos usuários, na época, defenderam um boicote contra o buscador, que domina cerca de 80% do mercado chinês.

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