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Yoko Ono convoca latino-americanas a contarem maus tratos

Histórias de violência machista que a artista receber serão incluídas na exposição Dream Come True, em Buenos Aires

Ressurgindo: Yoko Ono apresentará em Buenos Aires uma instalação com testemunhos da violência machista.
Ressurgindo: Yoko Ono apresentará em Buenos Aires uma instalação com testemunhos da violência machista.

Yoko Ono quer contar ao público argentino histórias de violência machista em primeira pessoa. Para isso, convidou pela Internet as mulheres latino-americanas a lhe enviarem seus testemunhos, a serem incluídos na instalação Ressurgindo, uma obra coletiva que estará na grande retrospectiva Dream Come True (sonho realizado), de 24 de junho a 31 de outubro no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba).

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“Você está convidada a enviar um testemunho de alguma agressão que tenha sofrido por ser mulher. Escreva o seu depoimento na sua própria língua, com suas próprias palavras, e com toda a franqueza que quiser. Você pode assiná-lo com seu prenome se quiser, mas não dê seu nome completo”, pede a artista japonesa pelo site do museu argentino.

As regras são simples. Solicita-se uma história breve, assinada só por um nome – real ou fictício – e acompanhada de uma foto dos olhos da protagonista. A própria Yoko Ono (Tóquio, 1933) mostra um exemplo no site: uma imagem na qual é vista com os óculos baixos, pretos e redondos, como os do seu marido John Lennon, e o olhar cravado na lente da câmera. Mal se nota o detalhe do seu tradicional chapéu preto.

O diretor artístico do museu, Agustín Pérez Rubio, diz que Ono “considera que o olhar tem um poder de cura, e que através dele podemos ver muito mais no ser humano”. O objetivo, continua, é permitir “entender o horror em primeira pessoa” sofrido por milhares de mulheres no continente e no mundo todo. “Acredito que seja uma peça muito poderosa e muito participativa”, diz Pérez, curador da exposição junto com o diretor do museu Astrup Fearnley de Oslo, Gunnar B. Kvaran.

A resposta ao chamado de Ono não tardou. Uma pessoa por minuto, em média, entrou no site preparado para receber os depoimentos. A convocatória ficará aberta até quase o final da exposição, e a ideia é que as histórias, impressas e penduradas por fios, sejam renovadas ao longo da mostra.

Ono, figura inescapável da arte conceitual e participativa contemporânea, viajará a Buenos Aires em junho para a retrospectiva, que incluirá quase 80 trabalhos vinculados às chamadas Instruction Pieces (instruções), que ela desenvolve desde os anos cinquenta. A criadora produz objetos, rituais e ações que convidam o espectador a interagir. “Muitas obras ficam no plano intelectual, poético. Por exemplo, a que diz ‘Olhe para o sol até que ele fique quadrado’”, salienta Pérez Rubio. Mas outras procuram fazer o espectador reagir e se ligam ao compromisso político e social da artista, a quem o curador define como “pacifista, feminista e ecologista”.

“Ela escreve as instruções, mas as obras só são realizadas quando o público as faz”, afirma o diretor artístico do Malba, que trabalha há um ano na exposição-estrela do museu para 2016. Mesmo sem visitá-la, será praticamente impossível para os portenhos ficarem alheios à exposição: as obras de Ono também ocuparão o espaço público – em outdoors e meios de transporte –, os meios de comunicação e as redes sociais.

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