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Odebrecht Cartel Esporte Clube

Usando metáfora esportiva, documentos apreendidos detalham, de acordo com a PF, as práticas de cartel

Gil Alessi
A ata de fundação do Tatú Tênis Clube
A ata de fundação do Tatú Tênis ClubeReprodução

Esqueçam a Fifa e a CBF. A corrupção no Brasil, segundo as investigações da Lava Jato, (também) leva o nome de duas outras entidades esportivas: o TatuTênis Clube (TTC) e o Sport Club Unidos Venceremos (SCUV). Foram os nomes escolhidos pelas empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato para redigir seu estatuto do cartel. Para a Polícia Federal, trata-se de uma das mais contundentes (e engraçadas) provas de que as empresas de construção que deram prejuízos à Petrobras se organizaram em cartel para lesar os cofres públicos. Os documentos, apreendidos na casa de Benedicto Barbosa Silva Junior, presidente da Odebrecht Infraestrutura, durante a 23ª etapa da Operação, realizada em fevereiro, foram tornados públicos na quarta-feira pela PF, depois postos em sigilo pelo juiz Sérgio Moro.

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No documento consta que o Tatu tem cinco jogadores: Guga, Becker, Koch, Kirmyer e Oncins. Os apelidos usados são referências diretas às lendas do esporte Gustavo Kuerten, Boris Becker, Thomaz Koch, Carlos Kirmayr e Jaime Oncins. No suposto esquema armado pelas empreiteiras, cada jogador é codinome para uma das empresas. Supõe-se, já que os papéis foram apreendidos na casa de um funcionário da Odebrecht, que ela seja um dos titulares do escrete.

O estatuto do TTC começa detectando problemas no modelo de negócios do esporte: “O TTC concorda que o esporte nacional vem deteriorando-se bastante e que é fundamental trabalhar conjuntamente para transformá-lo no melhor e mais rentável esporte nacional”. A ata não se refere, no entanto, à crise que o tênis brasileiro vive desde que Gustavo Kuerten despencou nos rankings mundiais após lesionar o quadril. Trata-se aqui, de acordo com a força-tarefa da Lava Jato, de um esquema montado para maximizar os lucros fraudando licitações em detrimento das boas práticas empresariais. Mais à frente, a metáfora em que a prática de cartel fica escancarada como a defesa do Brasil no fatídico 7 a 1: “Os jogadores do TTC acordam que irão trabalhar unidos para que os próximos campeonatos, nos âmbitos nacional, estadual e municipal, sejam organizados e dirigidos pelo TTC e que toda a renda dos jogos seja revertida para o TTC”.

O “equilíbrio” na escalação dos jogadores também é objeto do estatuto, e mesmo aquele zagueiro adepto da tática passa a bola mas não o atacante terá sua vez nos gramados das licitações: “Independentemente das vantagens apresentadas por cada jogador, deverá haver equilíbrio nas escalações para que todos possam atuar como titular a cada rodada de até três jogos”. Se traduzido para a prática de cartel, cada empreiteira deve obter predominância sobre as demais ao menos uma vez a cada três obras licitadas. Em alguns pontos o documento é mais complexo do que o regulamento da Copa do Brasil ou as instruções gritadas pelos técnicos à beira do gramado: “Dependendo do tamanho do campeonato e número de rodadas, o TTC organizará os jogos para que seja contemplada a participação dos cinco jogadores como titulares, escalando dois no primeiro jogo e três no segundo, ou vice-versa, e assim sucessivamente até o final do campeonato”.

E quando o time todo está com fome de bola para disputar aquela partida que vale o caneco? O TTC tem a solução: “Caso hajam mais jogadores interessados em ser titulares para determinado jogo, fica ajustado que as condições anteriores estabelecidas serão esgotadas até as últimas instâncias de negociação, devendo, só em ultimo caso e por apoio da maioria dos jogadores, fazer-se um sorteio para eleger os titulares”. Essa nem o comentarista Paulo Vinícius Coelho conseguiria decifrar.

A Odebrecht sempre negou que fizesse parte de um cartel. Um dos delatores da Lava Jato, o presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Dalton Avancini, diz que a empresa  capitaneava o “clube das empreiteiras”, o apelido dado para as 23 empresas que se reuniram para montar um cartel para contratos da Petrobras. Quando Marcelo Odebrecht foi preso em junho de 2015, a empresa disse em nota: "Não há cartel num processo de contratação inteiramente controlado pelo contratante, como ocorre com a Petrobras, onde a mesma sempre definiu seus próprios orçamentos e critérios de avaliação técnico-financeiro e de performance". Agora, com a decisão da Odebrecht de fazer uma "colaboração definitiva" com a Justiça, essa versão pode mudar.

Além do TTC há ainda o regulamento do Sport Club Unidos Venceremos, que segue as mesmas linhas do TTC mas conta com sete jogadores, prevê que seus "jogadores aceitarão uma participação de, no mínimo, 60% do valor total do bicho pago por jogo para os jogos da Federação Regional e 40% para os jogos da Federação Nacional levando se em conta as taxas locais e cotas para os adversários". Como diz o bordão, faltou só combinar com os russos. E com a Lava Jato.

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