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Coluna
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Meu amor, que será de mim, Quixeramobim

No calor da hora, óbvio que me juntaria às forças democráticas contra a arapongagem ilegal que assusta o mundo

O Congresso Nacional nesta sexta-feira, dia 18.
O Congresso Nacional nesta sexta-feira, dia 18. Eraldo Peres (AP)

No calor da hora, nesta semana que nos deu um capítulo da biografia do Brasil a cada segundo —como se estivéssemos dentro do livraço de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling—, óbvio que me juntaria às forças democráticas contra a arapongagem ilegal que assusta o mundo.

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Para completar, estive em Quixeramobim, em uma celebração dos 186 anos de vida de Antônio Conselheiro, com direito a uma prosa com o compositor Fausto Nilo, também filho da terra, sobre os caminhos poéticos do herói brasileiro de Canudos. Não há como se dizer pertencente a este país sem saber de tal história.

O pacote de brasilidade assumida se completa quando revejo Terra em Transe, do gênio-mor Glauber Rocha, crônica mais que atualizada do que vivemos hoje. Na fita está o conjunto completo das nossas contradições, a babá que resume e atualiza Casa Grande & Senzala na passeata, e, sobretudo, o dilema posto por Euclides da Cunha além dos Sertões: o Brasil da rua do Ouvidor versus o Brasil da caatinga.

A rua do Ouvidor, no começo do século passado, concentrava as sedes dos principais jornais. A caatinga, bem, é a nação semiárida além do simplesmente geográfico. Simbologia futebol clube do desconhecimento que se tem do Brasil Real etc.

Quanta comoção Quixeramobim adentro —meu amor que será de mim, que será de mim?

Comovido, óbvio, havia escrito para este mesmo espaço uma crônica mais punk e mais política. Sorte minha que, meu velho PC do século XIX fez uma lambança e o texto ficou todo truncado, no que posso agora refazê-lo em um outro momento histórico, estimadas Lilia e Heloisa.

Amor louco

No que posso voltar à minha crônica do amor louco. O eterno assunto desta coluna.

Para você, minha pequena, que acaba de se livrar de uma dor amorosa que a acompanhava pelas ruas como um vira-lata sadomasoquista.

Terra em Transe, do gênio-mor Glauber Rocha, é uma crônica mais que atualizada do que vivemos hoje

Para você que acabou de deixar essa dor no cemitério dos amores esquecidos ou no crematório dos encostos e homens-roubada.

Para você, neste exato momento em que se livra da praga, o cirúrgico instante em que você diz “baby, você já era”, como na versão da Clarah Averbuck para Out of Time, dos Rolling Stones, clássico dos concertos de Wander Wildner.

Pronto(a) para outro amor.

Está ai um momento lindamente difícil, primeiro plano, fechado, só você e a câmera do homem que filma tudo lá de cima, agora em 3D, para que todos acreditem e não vejam como truque ou chantagem…

Está ai o justo instante em que diz, aqui, câmera 1, a grua de Deus: acabou chorare, tá tudo lindo, chega de palhaçada!

Já reparou, amigo(a) que, quando doentes de amor, toda e qualquer canção é a história cagada e cuspida das nossas vidas?!

O momento da iluminação, meu santo Jack Kerouac, o beijo no vento, o sorriso, o fim da maldição de todas as músicas tristes que pareciam sempre biográficas, como as de Leonard Cohen, do Chico ou do Waldick.

Já reparou, amigo(a) que, quando doentes de amor, toda e qualquer canção é a história cagada e cuspida das nossas vidas?!

Maldita FM da madruga. No Hellcife, a rádio Caetés dá o bis! Lascou duplamente e de vez.

Entramos no carro ou em um táxi de madrugada, velho e bom amigo Serginho Barbosa, e lá está a trilha sonora da existência.

Agora você simplesmente ergue as mãos para os céus e diz: estou livre, carajo!

Penei, sofri, vivi o luto amoroso, mas essa(e) peste não me merece. Você ergue as mãos para os céus e agradece.

Você foi grande, não esnobou com o(a) primeiro(a) que apareceu pela frente, respeitou o luto sob trilha de Morrissey, viveu noites de insônia e solenes estiagens no reino da Carençolândia.

Você quase toma barbitúricos, você quase toma racumin como os suicidas antigos, mas você foi forte, enfim, você foi intenso(a) e segurou a onda em todas as medidas e trenas do possível.

Óbvio que às vezes você se enganou, achava que estava livre e teve ruidosas recaídas, todos nós dançamos esse tango sem manteiga, achamos que estamos libertos e lambemos, de novo, os pés de novo da mulher-abismo ou do homem-roubada, afinal de contas o amor é mesmo uma pedra de crack rumo à estação da Luz.

Amor é eclipse.

Agora não, você se sente livre mesmo, até recita um verso de Walt Whitman: “De hoje em diante não digo mais boa sorte, boa sorte sou eu!” E segue. Lindeza.

Pronto. Você se sente livre mesmo(a), se arruma bem linda, bota lor no cabelo, você, homem velho, luta boxe sozinho no banheiro, yeah!, você pede um uísque duplo, bota um Rolling Stones na radiola de ficha, sai bonito da sinuca, mata a bola preta de tabela, você está preparado(a) para uma nova vida, caiu a pena como um passarinho, caiu o pelo como um(a) gato(a), mudou de sina e com todo respeito ao clichê mais vagabundo, a fila anda.

Você fez todas as rezas, orou para Jesus, foi no terreiro e no centro espírita, baixou os tarôs e tomou carma-cola, pediu para a menina anônima que viu a virgem na mata e rendeu-se ao neo-orientalismo, você fez de tudo um pouco, santa.

É, amigo(a), se o pé-na-bunda é em preto e branco como naqueles bons, mudos e tristes filmes do expressionismo alemão, a salvação é em 3D, mais que léguas submarinas, é uma montanha russa, um carrossel de parque de diversão, um homem-aranha II, a roda gigante ou uma simples caminhada pelas ruas com um sorriso enigmático e um bom ventinho na cara.

Adeus, roubada!

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do romance “Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias” (editora do bispo), entre outros livros.

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