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Coluna
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Botões de amor e ódio no Face

O menino Mark Zuckerberg continua econômico em matéria de curtição, sinceridade ou zoeira

Demonstração dos novos botões do Facebook.
Demonstração dos novos botões do Facebook.Mary Altaffer (AP)
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Como alertara o ululante conselheiro Acácio, existem mais reações e sentimentos no mundo do que supõem os botões do Facebook.

O menino Mark Zuckerberg continua econômico em matéria de curtição, sinceridade ou zoeira. No que obriga o cronista de costumes, banal no último, a seguir com sugestões para enriquecer a edificante rede social responsável pelo maior número de intrigas entre colegas de trabalho, tretas de amigos, demissões na firma, arranca-rabos de vizinhos, alterações no serpentário dos parentes e barracos no relacionamento — do tipo sério ou do tipo fuleiro.

Sem se falar no mal maior nos lares doces lares: a capacidade do usuário do Facebook deixar o arroz queimar no fogo. Coitado do meu saudável sete grãos, tudo sempre perdido.

Melhor serventia teria se eu cedesse a panela de alumínio ao nobre vizinho para os seus protestos contra Dilma e o sapo barbudo. Coitado. Ele não pode continuar estragando as suas Mauviel, Garcima, Gordon Ramsay e outros tantos utensílios de grife com esse governo sem classe. Chupa, Tramontina!

Roupa suja

Sai desse Face e vai barrer a casa, menina (o). Lembro dessa antiga advertência que rolou, como todo aquele charme da prosódia nordestina, logo que percebemos os estragos desse ladrão de tempo. Barrer é o mesmo que varrer no falar do portuga arcaico.

Muitas casas e lavagens de roupa suja depois, ainda insistimos. Por que queimar apenas o arroz se podemos estragar também a merenda da tarde e o ponto do macarrão do jantar? Sem problema, as crianças também moram no smartphone e nem irão perceber. Pede pizza pelo aplicativo e cada um continuará exilado no seu mundinho. Que silêncio.

O botão do “Chupa!!!”

“Traduz e resume o textão, mermão”. Seria um sucesso esse emoji. Facilitaria a vida dos que se sentem humilhados e ofendidos pelos filósofos da rede que teimam em adornar seus manifestos com citações da Escola de Frankfurt.

“Aceita que dói menos”. Vale para quase tudo. No amor, na política que arrasta o seu eterno terceiro turno e no futebol. Perfeito.

Melhor mesmo para os torcedores fanáticos seria o “Chupa!!!”, com muitas exclamações, esse grito que ecoa pelas janelas e bares da cidade a cada rodada do campeonato. Na vida real faz muitos homenzarrões saírem no tapa. Dá até morte. No Face, acalmaria os ânimos. Fico imaginando como seria a carinha do “Chupa!!!”. Alguém se habilita e desenha?

Logo vi que esse botão não era novidade. Fiquei em dúvida. Um google e encontrei semelhante no blog do Beto Silva, queridíssimo ex e eterno da turma do Casseta.

Tens razão, conselheiro Acácio, a existência, mesmo virtual, não pode se resumir a 'Amei', 'Haha', 'Uau', 'Triste' e 'Grr'. Uma criança de oito anos hoje em dia está bem mais rica de reações e desabafos. Vamos enriquecer essa bagaça, menino Zuck.

Tampa de Crush

Sem se falar nos regionalismos. “Tampa de Crush”, por exemplo, faria o maior sucesso no Recife. Valeria para elogiar alguém por uma façanha, um épico, uma atitude corajosa etc. “Tabacudo” valeria pelo contrário.

No Ceará, que tal “macho réi”, para qualquer situação, indistintamente? Na Bahia, que tal “Fico retado”, equivalente a furioso, brabo que só o cão etc.

Um milhão de reações geniais, recomendo ao menino Zuck, estão no genialíssimo “Dicionário do Nordeste” (Cepe Editora), um ajuntado de palavras e expressões maior do que o Aurélio, de autoria de Fred Navarro. Que maravilha, que tesouro da língua brasileira e da humanidade.

Ao Sul de tanto bah, o que entraria? Sou analfa em gauchês, embora tenha convivido tanto com esses incríveis chinelões.

De Minas, escolhi um questionamento que serve para todo e qualquer post: Causdiquê? Por causa de quê? Tipo Tim Maia naquela música “Me dê motivo”.

E assim em cada sítio brasileiro. Vale a ideia do quanto mais regional mais universal, se liga no russo Tolstói, mimado menino dono da rede.

Esse louco amor

Que tal responder com um irônico coraçãozinho de galinha para os marmanjos que na véspera disparavam tempestades de suspiros cardíacos?

Agora bora entrar na parte mais pesada das reações, carinhas e sinais. Tipo rastros de ódio, como no faroeste das antigas que vi no cine Eldorado, em Juazeiro. Tipo o status “em um relacionamento sério” que vira, da noite para o dia, uma história de vingança e violência tal e qual o filme “O Regresso”.

Só vingança, vingança, vingança aos deuses clamar, caríssimo Lupicínio Rodrigues, o inventor da dor-de-cotovelo. Canalha, vadio(a), brocha, bicha, não enche (copiando o Caetano), gota serena, cão chupando manga, febre do rato, infeliz-das-costas-ocas (retomando o nordestinês), miserão, miseravona, homem-bouquet (o cara que só quer saber de cheirar a rolha de bons vinhos), homem de Ossanha (aquele que diz que vai e necas), fêmea Nostradamus (a mulher que acha que sempre e a qualquer momento é o fim do mundo), macho ocupação (o tipo caça-protesto de esquerda para aderir imediatamente, te ocupar que é bom, nada!) e assim muitos e muitos outros.

Saiu barato em matéria de emojis para vinganças amorosas. Ajudem o cronista a melhorar seu estoque. Sugestões nas redes sociais deste @elpaisbrasil. Regionalismos, oxe, serão mais benvindos ainda. É só mandar sem censura. Fofos coraçõezinhos para meus amados e sinceros leitores. Até a próxima. E lembrem-se: a sexta-feira é o dia em que até a virtude prevarica, bem que me avisou o tio Nelson. Uns beijos.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os machões dançaram –crônicas de amor & sexo em tempo de homens vacilões” (editora Record), entre outros livros.

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