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Obama visitará Cuba para falar de direitos humanos

É a primeira vez em quase 90 anos que um presidente norte-americano visita Cuba durante o mandato

Raúl Castro e Barack Obama no Panamá, em abril de 2015.Foto: atlas | Vídeo: Jonathan Ernst / ATLAS
Silvia Ayuso

Barack Obama, confirmou nesta quinta-feira que visitará Cuba entre os dias 21 e 22 de março acompanhado de sua esposa, Michelle Obama. "No mês que vem eu viajarei a Cuba para avançar nossos progressos e esforços que podem melhorar a vida dos cubanos", afirmou Obama, em uma mensagem publicada em seu Twitter. Na quarta à noite, fontes do Governo norte-americano já haviam antecipado o anúncio. De acordo com Obama, um dos focos do encontro será discutir a violação dos direitos humanos na ilha. "Ainda temos nossas diferenças com o Governo de Cuba, que serão discutidas diretamente. A América sempre defenderá os direitos humanos ao redor do mundo".

Desde que anunciou a normalização das relações bilaterais com Cuba, em 17 de dezembro de 2014, Obama já vinha manifestando seu desejo de visitar a ilha antes do final do seu mandato, encerrando definitivamente mais de meio século de inimizade entre os dois Governos.

Em julho do ano passado, EUA e Cuba restabeleceram formalmente suas relações diplomáticas. Um mês mais tarde, em agosto, John Kerry se tornou o primeiro secretário de Estado norte-americano a pisar em Cuba desde a revolução comunista de 1959. Na ocasião, ele inaugurou a Embaixada dos EUA em Havana e hasteou a bandeira das listras e estrelas em pleno Malecón, a avenida à beira-mar da capital cubana.

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Com a viagem a Cuba, Obama fará um pouco mais de história, pois há quase um século um presidente dos EUA não visita a ilha durante o seu mandato. Em 2002, o democrata Jimmy Carter esteve em Havana, mas naquela ocasião já fazia mais de 20 anos que ele havia deixado a Casa Branca, onde governou entre 1977 e 1981. É preciso recuar ao começo do século XX para encontrar o primeiro – e até agora único – precedente de uma visita de um presidente norte-americano à ilha durante o exercício do cargo. Trata-se da viagem do republicano Calvin Coolidge em janeiro de 1928, para participar da VI Conferência Pan-Americana, embrião da atual Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em uma entrevista ao Yahoo News publicada em dezembro, Obama estabeleceu a pauta da sua eventual viagem a Cuba. “Se eu for, então parte do acordo será que eu possa conversar com todos”, declarou o presidente. “Deixei muito claro em minhas conversas diretas com o presidente [Raúl] Castro que continuaríamos mantendo contatos com aqueles que querem ampliar o espectro da liberdade de expressão em Cuba”, afirmou.

Há várias semanas se especula com força que a histórica visita acontecerá no próximo mês de março, embora a data definitiva ainda esteja por ser confirmada.

Apesar de a atenção mundial estar garantida – será o terceiro encontro pessoal entre Obama e Raúl Castro, mas o primeiro em território não neutro, depois das suas reuniões no Panamá e na sede nova-iorquina da ONU –, a visita não é isenta de riscos. Obama chegará a Cuba para consolidar seu legado, mas sem ter obtido ainda – e sem esperança de conseguir isso ainda durante o seu mandato – que o Congresso revogue o embargo comercial a Cuba que vigora desde os anos sessenta. Cuba já deixou claro que não se poderá falar em normalização plena de relações enquanto esse “obstáculo” não for derrubado – e nisso o Governo Obama lhe dá razão repetidamente.

A viagem do presidente também colocará novamente o assunto Cuba na órbita da campanha eleitora

O presidente já conseguiu flexibilizar sensivelmente as restrições às viagens e ao comércio com Cuba. Mas, apesar de várias vozes democratas e republicanas se mostrarem favoráveis ao fim do embargo, e de projetos de lei já terem sido apresentados nesse sentido, parece não haver por enquanto votos suficientes para que isso se concretize no Congresso – e menos ainda em um ano eleitoral nos EUA.

Nesse contexto, a presença de Obama em Cuba poderia reforçar a imagem de um presidente que não consegue sustentar seu legado. Por outro lado, poderá servir de pressão adicional sobre os parlamentares, que têm a última palavra. Pressões, aliás, não faltam. As companhias aéreas norte-americanas já estão apresentando os documentos necessários para que sejam autorizadas a operar voos comerciais regulares para Cuba ainda neste ano, graças a um acordo bilateral sobre esse tema firmado na terça-feira. Empresas de cruzeiros também estão cumprindo os passos burocráticos para poder incluir escalas nos cobiçados pontos turísticos cubanos. Finalmente, o Airbnb já tem mais de mil quartos e apartamentos prontos para clientes dos EUA na ilha. E tudo isso apesar de oficialmente ainda ser proibido aos norte-americanos fazer turismo em Cuba.

Calvin Coolidge (segundo à esquerda) foi o primeiro e único presidente de EUA a visitar Cuba, em 1928. Na imagem, ele aparece ao lado do então presidente cubano, Gerardo Machado y Morales (à direita), e as esposas de ambos.
Calvin Coolidge (segundo à esquerda) foi o primeiro e único presidente de EUA a visitar Cuba, em 1928. Na imagem, ele aparece ao lado do então presidente cubano, Gerardo Machado y Morales (à direita), e as esposas de ambos.AP

A secretária de Comércio dos EUA, Penny Pritzker, e o ministro cubano de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca, concluem nesta quinta-feira a segunda rodada de negociações para impulsionar o comércio bilateral. E, apesar de comentários preliminares deixando claro que ainda há muitos pontos a resolver, constatou-se que os empresários norte-americanos, do setor do turismo ao influente agronegócio e às companhias tecnológicas, não estão dispostos a perder a oportunidade de ganhar dinheiro numa ilha pequena, mas cheia de possibilidades.

Dizer não a Obama é mais fácil do que contrariar alguns dos empresários mais influentes do país.

A viagem do presidente também colocará novamente o assunto Cuba na órbita da campanha eleitoral para a presidência. Embora vários candidatos – como os republicanos Marco Rubio e Ted Cruz, ambos de origem cubana – critiquem duramente a aproximação com Havana, o tema tem estado notavelmente ausente dos debates e discursos eleitorais. Um sinal, segundo observadores, de que, apesar da sua retórica, os candidatos estão conscientes do forte apoio da população norte-americana à normalização de relações com a ilha vizinha e de como seria impopular, para não dizer impossível, reverter o processo iniciado por Obama.

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