Obama visitará Cuba para falar de direitos humanos
É a primeira vez em quase 90 anos que um presidente norte-americano visita Cuba durante o mandato
Barack Obama, confirmou nesta quinta-feira que visitará Cuba entre os dias 21 e 22 de março acompanhado de sua esposa, Michelle Obama. "No mês que vem eu viajarei a Cuba para avançar nossos progressos e esforços que podem melhorar a vida dos cubanos", afirmou Obama, em uma mensagem publicada em seu Twitter. Na quarta à noite, fontes do Governo norte-americano já haviam antecipado o anúncio. De acordo com Obama, um dos focos do encontro será discutir a violação dos direitos humanos na ilha. "Ainda temos nossas diferenças com o Governo de Cuba, que serão discutidas diretamente. A América sempre defenderá os direitos humanos ao redor do mundo".
Next month, I'll travel to Cuba to advance our progress and efforts that can improve the lives of the Cuban people.
— President Obama (@POTUS44) February 18, 2016
Desde que anunciou a normalização das relações bilaterais com Cuba, em 17 de dezembro de 2014, Obama já vinha manifestando seu desejo de visitar a ilha antes do final do seu mandato, encerrando definitivamente mais de meio século de inimizade entre os dois Governos.
Em julho do ano passado, EUA e Cuba restabeleceram formalmente suas relações diplomáticas. Um mês mais tarde, em agosto, John Kerry se tornou o primeiro secretário de Estado norte-americano a pisar em Cuba desde a revolução comunista de 1959. Na ocasião, ele inaugurou a Embaixada dos EUA em Havana e hasteou a bandeira das listras e estrelas em pleno Malecón, a avenida à beira-mar da capital cubana.
Com a viagem a Cuba, Obama fará um pouco mais de história, pois há quase um século um presidente dos EUA não visita a ilha durante o seu mandato. Em 2002, o democrata Jimmy Carter esteve em Havana, mas naquela ocasião já fazia mais de 20 anos que ele havia deixado a Casa Branca, onde governou entre 1977 e 1981. É preciso recuar ao começo do século XX para encontrar o primeiro – e até agora único – precedente de uma visita de um presidente norte-americano à ilha durante o exercício do cargo. Trata-se da viagem do republicano Calvin Coolidge em janeiro de 1928, para participar da VI Conferência Pan-Americana, embrião da atual Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em uma entrevista ao Yahoo News publicada em dezembro, Obama estabeleceu a pauta da sua eventual viagem a Cuba. “Se eu for, então parte do acordo será que eu possa conversar com todos”, declarou o presidente. “Deixei muito claro em minhas conversas diretas com o presidente [Raúl] Castro que continuaríamos mantendo contatos com aqueles que querem ampliar o espectro da liberdade de expressão em Cuba”, afirmou.
Há várias semanas se especula com força que a histórica visita acontecerá no próximo mês de março, embora a data definitiva ainda esteja por ser confirmada.
Apesar de a atenção mundial estar garantida – será o terceiro encontro pessoal entre Obama e Raúl Castro, mas o primeiro em território não neutro, depois das suas reuniões no Panamá e na sede nova-iorquina da ONU –, a visita não é isenta de riscos. Obama chegará a Cuba para consolidar seu legado, mas sem ter obtido ainda – e sem esperança de conseguir isso ainda durante o seu mandato – que o Congresso revogue o embargo comercial a Cuba que vigora desde os anos sessenta. Cuba já deixou claro que não se poderá falar em normalização plena de relações enquanto esse “obstáculo” não for derrubado – e nisso o Governo Obama lhe dá razão repetidamente.
A viagem do presidente também colocará novamente o assunto Cuba na órbita da campanha eleitora
O presidente já conseguiu flexibilizar sensivelmente as restrições às viagens e ao comércio com Cuba. Mas, apesar de várias vozes democratas e republicanas se mostrarem favoráveis ao fim do embargo, e de projetos de lei já terem sido apresentados nesse sentido, parece não haver por enquanto votos suficientes para que isso se concretize no Congresso – e menos ainda em um ano eleitoral nos EUA.
Nesse contexto, a presença de Obama em Cuba poderia reforçar a imagem de um presidente que não consegue sustentar seu legado. Por outro lado, poderá servir de pressão adicional sobre os parlamentares, que têm a última palavra. Pressões, aliás, não faltam. As companhias aéreas norte-americanas já estão apresentando os documentos necessários para que sejam autorizadas a operar voos comerciais regulares para Cuba ainda neste ano, graças a um acordo bilateral sobre esse tema firmado na terça-feira. Empresas de cruzeiros também estão cumprindo os passos burocráticos para poder incluir escalas nos cobiçados pontos turísticos cubanos. Finalmente, o Airbnb já tem mais de mil quartos e apartamentos prontos para clientes dos EUA na ilha. E tudo isso apesar de oficialmente ainda ser proibido aos norte-americanos fazer turismo em Cuba.
A secretária de Comércio dos EUA, Penny Pritzker, e o ministro cubano de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca, concluem nesta quinta-feira a segunda rodada de negociações para impulsionar o comércio bilateral. E, apesar de comentários preliminares deixando claro que ainda há muitos pontos a resolver, constatou-se que os empresários norte-americanos, do setor do turismo ao influente agronegócio e às companhias tecnológicas, não estão dispostos a perder a oportunidade de ganhar dinheiro numa ilha pequena, mas cheia de possibilidades.
Dizer não a Obama é mais fácil do que contrariar alguns dos empresários mais influentes do país.
A viagem do presidente também colocará novamente o assunto Cuba na órbita da campanha eleitoral para a presidência. Embora vários candidatos – como os republicanos Marco Rubio e Ted Cruz, ambos de origem cubana – critiquem duramente a aproximação com Havana, o tema tem estado notavelmente ausente dos debates e discursos eleitorais. Um sinal, segundo observadores, de que, apesar da sua retórica, os candidatos estão conscientes do forte apoio da população norte-americana à normalização de relações com a ilha vizinha e de como seria impopular, para não dizer impossível, reverter o processo iniciado por Obama.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.