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Onda de violência contra jornalistas no México faz mais uma vítima

Anabel Flores, repórter sequestrada na segunda-feira em Veracruz, é achada morta

Pablo de Llano Neira
A jornalista assassinada Anabel Flores.
A jornalista assassinada Anabel Flores.EFE

O México continua a contabilizar seus jornalistas assassinados. O corpo de Anabel Flores Salazar, sequestrada na madrugada de segunda-feira por um grupo armado que invadiu sua casa, foi encontrado na última terça no acostamento de uma estrada do Estado de Puebla, que é vizinho a Veracruz, região-símbolo da violência contra a imprensa neste país. A vítima estava seminua e de mãos atadas. Flores, especializada no noticiário policial, havia colaborado recentemente com pequenos jornais de Orizaba, cidade veracruzana de 120.000 habitantes. A repórter tinha 27 anos e era mãe de um bebê recém-nascido e de outro menino de aproximadamente quatro anos.

Veracruz está pela enésima vez no topo da lista dos locais mais perigosos para exercer o jornalismo no México. Segundo dados da Procuradoria Geral da República, desde 2000, pelo menos 16 jornalistas foram assassinados nesse Estado. Em todo o México, nesse período, foram mortos 90 profissionais da imprensa, e outros 23 permanecem desaparecidos, segundo a ONG Artigo 19.

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O caso específico de Veracruz está marcado pela presença do cartel mais violento do México, o Los Zetas. Suas atividades abrangem todas as variantes de comércio ilícito (drogas, prostituição de mulheres, tráfico de pessoas e de órgãos), o roubo de combustível (Veracruz tem uma importante produção petrolífera) e a extorsão indiscriminada contra grandes, médios e pequenos empresários.

De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um em cada três assassinatos de jornalistas na América Latina ocorre no México, mais do que o dobro, por exemplo, da cifra do Brasil, que tem uma população 40% maior. A ONG Repórteres Sem Fronteiras considera o México um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo, responsabilizando por isso as facções criminosas e as autoridades federais e locais, principalmente policiais mancomunados com os cartéis. Some-se a tudo isso uma impunidade disseminada – nove em cada dez crimes ocorridos no México ficam sem esclarecimento.

Acusações de vínculos com o crime organizado

Nesta quarta-feira, o jornal local El Buen Tono revelou que Flores havia sido dispensada da publicação em setembro de 2014 “devido à constatação de que seu nível de vida não correspondia ao salário que recebia”, levantando suspeitas sobre a vítima. O jornal acrescentou que “ela dirigia uma caminhonete Patriot de sua propriedade, veículo que dificilmente pode ser adquirido por um repórter”. Segundo o procurador-geral de Veracruz, Luis Ángel Bravo, uma possível pista do assassinato é que um criminoso conhecido como El Pantera foi detido em 2014 enquanto conversava com Flores.

Em outra redação, com a bandeira do México atrás e ao lado uma imagem emoldurada do dono do jornal, o redator-chefe do El Sol, para o qual Flores colaborava nos últimos seis meses, rebate as acusações do concorrente. “Não, isso não. Eu a conheci e não vivia com luxos”, diz José Luis Ramos, que conversou com ela por telefone no domingo, horas antes do sequestro da jornalista. Na ocasião, ela lhe transmitiu a última notícia da sua vida: “Um trailer capotou”.

Nesta quarta-feira, no necrotério para onde foi levado o corpo da jornalista, o secretário da Comissão Estadual para a Atenção e Proteção de Jornalistas – um funcionário jovem, que acaba de assumir o posto interinamente – se apresentou para conversar com a imprensa.

– O que você acha de o procurador ter dito que a jornalista tinha vínculos com um criminoso?

– Da nossa parte, não temos informação que a relacione com isso – responde Geiser Manuel Caso.

–Isso não criminaliza a vítima?

– Seria preciso ver por que a procuradoria manifestou isso.

– Mas o que você acha de ele ter dito isso?

– Bom... Acho lamentável – admite afinal o encarregado de zelar pela segurança dos jornalistas. – E ele não deveria repetir isso.

– Como você definiria a situação de Veracruz.

– Há obviamente um contexto de violência. E deve ocorrer imediatamente um esforço que incida sobre o Estado de Direito.

–E como definiria, em uma palavra, a situação do Estado de Direito em Veracruz?

– Desafio.

– E em duas palavras?

– Grande desafio.

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