Onda de violência contra jornalistas no México faz mais uma vítima
Anabel Flores, repórter sequestrada na segunda-feira em Veracruz, é achada morta
O México continua a contabilizar seus jornalistas assassinados. O corpo de Anabel Flores Salazar, sequestrada na madrugada de segunda-feira por um grupo armado que invadiu sua casa, foi encontrado na última terça no acostamento de uma estrada do Estado de Puebla, que é vizinho a Veracruz, região-símbolo da violência contra a imprensa neste país. A vítima estava seminua e de mãos atadas. Flores, especializada no noticiário policial, havia colaborado recentemente com pequenos jornais de Orizaba, cidade veracruzana de 120.000 habitantes. A repórter tinha 27 anos e era mãe de um bebê recém-nascido e de outro menino de aproximadamente quatro anos.
Veracruz está pela enésima vez no topo da lista dos locais mais perigosos para exercer o jornalismo no México. Segundo dados da Procuradoria Geral da República, desde 2000, pelo menos 16 jornalistas foram assassinados nesse Estado. Em todo o México, nesse período, foram mortos 90 profissionais da imprensa, e outros 23 permanecem desaparecidos, segundo a ONG Artigo 19.
O caso específico de Veracruz está marcado pela presença do cartel mais violento do México, o Los Zetas. Suas atividades abrangem todas as variantes de comércio ilícito (drogas, prostituição de mulheres, tráfico de pessoas e de órgãos), o roubo de combustível (Veracruz tem uma importante produção petrolífera) e a extorsão indiscriminada contra grandes, médios e pequenos empresários.
De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um em cada três assassinatos de jornalistas na América Latina ocorre no México, mais do que o dobro, por exemplo, da cifra do Brasil, que tem uma população 40% maior. A ONG Repórteres Sem Fronteiras considera o México um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo, responsabilizando por isso as facções criminosas e as autoridades federais e locais, principalmente policiais mancomunados com os cartéis. Some-se a tudo isso uma impunidade disseminada – nove em cada dez crimes ocorridos no México ficam sem esclarecimento.
El brutal asesinato de #AnabelFlores es una muestra de la realidad del periodismo en México https://t.co/NJ44Yd59ff pic.twitter.com/2hEtco1s0F
— Amnistía Int. México (@AIMexico) February 10, 2016
Acusações de vínculos com o crime organizado
Nesta quarta-feira, o jornal local El Buen Tono revelou que Flores havia sido dispensada da publicação em setembro de 2014 “devido à constatação de que seu nível de vida não correspondia ao salário que recebia”, levantando suspeitas sobre a vítima. O jornal acrescentou que “ela dirigia uma caminhonete Patriot de sua propriedade, veículo que dificilmente pode ser adquirido por um repórter”. Segundo o procurador-geral de Veracruz, Luis Ángel Bravo, uma possível pista do assassinato é que um criminoso conhecido como El Pantera foi detido em 2014 enquanto conversava com Flores.
Em outra redação, com a bandeira do México atrás e ao lado uma imagem emoldurada do dono do jornal, o redator-chefe do El Sol, para o qual Flores colaborava nos últimos seis meses, rebate as acusações do concorrente. “Não, isso não. Eu a conheci e não vivia com luxos”, diz José Luis Ramos, que conversou com ela por telefone no domingo, horas antes do sequestro da jornalista. Na ocasião, ela lhe transmitiu a última notícia da sua vida: “Um trailer capotou”.
Nesta quarta-feira, no necrotério para onde foi levado o corpo da jornalista, o secretário da Comissão Estadual para a Atenção e Proteção de Jornalistas – um funcionário jovem, que acaba de assumir o posto interinamente – se apresentou para conversar com a imprensa.
– O que você acha de o procurador ter dito que a jornalista tinha vínculos com um criminoso?
– Da nossa parte, não temos informação que a relacione com isso – responde Geiser Manuel Caso.
–Isso não criminaliza a vítima?
– Seria preciso ver por que a procuradoria manifestou isso.
– Mas o que você acha de ele ter dito isso?
– Bom... Acho lamentável – admite afinal o encarregado de zelar pela segurança dos jornalistas. – E ele não deveria repetir isso.
– Como você definiria a situação de Veracruz.
– Há obviamente um contexto de violência. E deve ocorrer imediatamente um esforço que incida sobre o Estado de Direito.
–E como definiria, em uma palavra, a situação do Estado de Direito em Veracruz?
– Desafio.
– E em duas palavras?
– Grande desafio.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.