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A velha CBF resistirá a 2016?

Queda do grupo à frente do futebol no Brasil pode ser acelerada a depender dos Jogos

“Não acredito em corrupção no futebol brasileiro”. A frase não foi dita num show estilo stand-up, apesar de tudo o que aconteceu em 2015 na cúpula do futebol brasileiro. Ela saiu da boca do recém-eleito vice-presidente da CBF, Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, de 79 anos, em dezembro, alguns dias depois de o então presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, ter se licenciado do cargo após ter sido indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA por crimes de corrupção.

Presidente esteve presente na convocação da seleção.
Presidente esteve presente na convocação da seleção.Marcelo Sayão (EFE)
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A frase do futuro comandante da CBF, no entanto, combina perfeitamente com a conjuntura que o levou ao poder. Presidente da Federação Paraense de Futebol há mais de 20 anos, Coronel Nunes ganhou a eleição para vice da confederação porque Marco Polo Del Nero precisava de alguém de sua confiança para gerir a entidade durante seu afastamento. O estatuto da CBF diz que o vice mais velho deve assumir, e, para desespero de Del Nero, o primeiro na linha de sucessão era seu principal rival, Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol, de 74 anos. O chefão da entidade convocou eleições, driblou a Justiça, que chegou a proibir o pleito, e elegeu o sucessor que melhor lhe convinha, e com a idade adequada.

A história é o retrato que resume a luta dos dirigentes antigos para se manterem no poder depois do pesadelo que viveram em 2015. Perseguidos pela FBI, presos, acusados de corrupção e escrutinados em suas contas particulares para pagar multas milionárias, dinossauros do mundo da bola como Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marco Polo Del Nero vão, aos poucos, perdendo capacidade de manobra. O trio de ex-presidentes da entidade é acusado de estar envolvido em esquemas envolvendo mais de 200 milhões de dólares em subornos e propinas. Só na CBF, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o FBI apontou um esquema que rendeu 120 milhões de reais. É, portanto, no mínimo estranho (para não dizer desesperador) o fato de o novo vice da entidade dizer que não acredita em corrupção por aqui.

Apesar de todo o cerco que tem sido feito a Marco Polo Del Nero, o cartola mostrou que ainda tem poder, até na CPI do Futebol. Em depoimento prestado em 16 de dezembro, o dirigente só foi incomodado de verdade por dois parlamentares: os senadores Romário (PSB), presidente da Comissão, e Randolfe Rodrigues (Rede). Os outros integrantes praticamente assistiram ao embate entre Del Nero e os dois senadores. O cartola alegou ser inocente, disse que pretende voltar à presidência quando for liberado pela Justiça dos EUA e foi chamado de “corrupto, ladrão e mentiroso” por Romário. Ainda assim, o silêncio dos demais presentes mostrou que a influência da CBF dentro do senado ainda é grande. A comissão volta aos trabalhos em fevereiro do ano que vem para que os membros apreciem os requerimentos. O inquérito deverá ser concluído em agosto de 2016.

Nem mesmo um movimento liderado por atletas foi capaz de ferir verdadeiramente os chefões da entidade. Liderado pelos ex-jogadores Raí e Alex, o OcupaCBF foi para a frente da sede da confederação, no Rio de Janeiro, e pediu a pediu a “renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria”. “A crise de corrupção é a face mais visível de um profundo problema estrutural, que travou o desenvolvimento do futebol brasileiro em todas as suas dimensões”, diz o manifesto elaborado pelo grupo, que entregou um documento ao secretário-geral da entidade, Walter Feldman. Apesar do protesto feito pelos atletas, o apoio dos clubes na eleição do coronel Nunes aponta que, por enquanto, será difícil um novo grupo político chegar ao poder.

A única saída, por enquanto, parece ser esperar para que se repita no Brasil o cenário que derrubou os mais altos dirigentes na FIFA, entre eles o presidente do órgão, Joseph Blatter, suspenso por oito anos das atividades relacionadas ao futebol. O movimento do comitê de ética da entidade só ganhou força após as ameaças dos principais patrocinadores da FIFA, que se posicionaram contra os casos de corrupção que culminaram no indiciamento de 40 dirigentes, entre eles os três brasileiros da CBF. Diante da catástrofe política que foi 2015 e dos dias complicados que esperam pela CBF em 2016, se os resultados dentro de campo também continuarem ruins, é grande a chance de os patrocinadores começarem a agir.

Em 2016, a queda do grupo que comanda o futebol no Brasil pode ser acelerada dependendo dos resultados da seleção brasileira em três competições: as eliminatórias sul-americanas, em que o Brasil ocupa a terceira posição, a edição especial de 100 anos da Copa América, que será disputada nos EUA em junho e, principalmente, nos Jogos Olímpicos do Rio, uma espécie de segunda Copa do Mundo para o Brasil. Os resultados obtidos sob o comando de Dunga não permitem descartar novos vexames para minar o ciclo de João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marín, Marco Polo Del Nero e Coronel Nunes no comando da entidade. A situação do grupo é delicada, mas por enquanto eles têm conseguido se equilibrar no poder, adiando de novo a reforma geral, dentro e fora de campo, que futebol necessita urgentemente.

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