Os homens de Blatter na América
Justiça investiga pagamentos ilegais entre empresas de marketing e os executivos da FIFA
A maioria dos detidos nesta quarta-feira dirige atualmente, ou dirigiu até há pouco tempo, o futebol sul-americano e centro-americano, dois dos nichos de votos nos quais Joseph Blatter se apoiou nas duas últimas décadas para se manter no poder.
Dois dos oito vice-presidentes da FIFA estão entre os presos. A rede de corrupção teria cometido, entre outros, delitos de fraude maciça e lavagem de dinheiro durante mais de 20 anos, por um valor superior a 150 milhões de dólares (450 milhões de reais). Estes são os principais detidos e investigados:
José Maria Marin. Todo-poderoso presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) até poucos meses atrás (e hoje, vice-presidente), Marin encarna a oligarquia que dominou o futebol no Brasil durante as últimas décadas. Tem 83 anos e é o grande responsável da organização do futebol nos próximos Jogos Olímpicos. Criticado pelos cargos que ocupou durante a ditadura militar brasileira, foi nomeado presidente da CBF pelo também suspeito de corrupção Ricardo Teixeira e nomeou seu sucessor, sem debate, Marco Polo del Nero.
Eugenio Figueredo. Esse uruguaio de 83 anos, ex-jogador, presidiu a Federação de seu país entre 1997 e 2006 e foi o vice-presidente da Conmebol (entidade que comanda o futebol sul-americano) durante duas décadas, entre 1993 e 2013. Posteriormente voltou a ser presidente durante um ano, após a saída apressada de Nicolás Leoz, também detido e com pedido de extradição. Em 2014 foi substituído pelo paraguaio Juan Ángel Napout. Foi acusado de exigir subornos para a escolha das Copas de 2018 e 2022.
Eduardo Li. Este empresário costarriquenho de 56 anos e ascendência chinesa, crente fervoroso em Deus, é membro do comitê executivo da FIFA e da Concacaf (órgão dirigente do futebol centro-americano, norte-americano e do Caribe). Preside, além disso, a Federação Costarriquenha de Futebol, à frente da qual organizou a Copa do Mundo Sub-17 feminina de 2014. Em 13 anos, Li passou da presidência de um clube da Segunda Divisão a estar na mesa com os máximos responsáveis do futebol mundial.
Julio Rocha. Foi presidente da Federação Nicaraguense de Futebol durante 26 anos e membro do departamento da FIFA para o desenvolvimento do futebol no México, América Central e parte do Caribe. Dirigia a distribuição de dinheiro dentro do projeto Goal FIFA para a construção de infraestrutura e a expansão do esporte em países que precisavam. Foi acusado em seu país de malversações na construção do Estádio Nacional de Futebol em Manágua, cuja primeira pedra foi colocada pelo ubíquo Blatter em 2002. Um ano depois de sua inauguração, em 2012, Rocha assumiu como diretor do Escritório de Desenvolvimento que atende ao México, América Central, República Dominicana, Cuba e Porto Rico. Deixou a federação a cargo de Rolando López, primeiro vice-presidente e amigo muito próximo.
Nicolás Leoz. Esse paraguaio de 86 anos, ex-membro do comitê executivo da FIFA, presidiu a Conmebol durante 27 anos (1986 a 2013) até que foi obrigado a pedir demissão por um escândalo de corrupção relacionado com subornos recebidos de uma empresa de marketing associada à FIFA durante a década de 1990. Um funcionário britânico afirmou, além disso, que Leoz havia pedido que fosse nomeado Cavalheiro do Império Britânico em troca de apoiar a candidatura britânica para organizar a Copa do Mundo de 2018.
Jeffrey Webb. Esse carismático administrador nascido nas Ilhas Caimã há 50 anos, é presidente da Concacaf desde 2012, o que o converte em vice-presidente da FIFA e membro do comitê executivo. Sua prisão é algo relativamente chocante, por ter-se destacado na defesa da luta contra a corrupção e o racismo no mundo do futebol. Chegou a pedir a publicação de todos os relatórios relacionados com a polêmica indicação das Copas de 2018 e 2022. Dirige o grupo Antirracismo na FIFA.
Jack Warner. O tio Jack (Trinidad e Tobago, 1943) é ex-vice-presidente da FIFA e pertenceu a seu comitê executivo entre 1983 e 2011. Foi, além disso, presidente da Concacaf e conselheiro especial da Federação de seu país, posto que abandonou em 2011 por outro escândalo de corrupção. Foi central na reeleição de Blatter em 2002, quando convenceu os membros da Concacaf de que estava recebendo pressões do candidato camaronês Issa Hayatou (com chances, naquele momento, de desbancar o dirigente suíço). Com o tempo, a relação se deteriorou em uma sucessão de denúncias recíprocas por comissões ilegais. Sobre Warner recaíram, além disso, suspeitas de revenda de entradas nas Copas da Alemanha e da África do Sul.
Rafael Esquivel. Nascido em 1948, natural de Tenerife, passou toda a vida como dirigente: 27 anos à frente da Federação de Futebol da Venezuela (FVF). Esquivel é o dirigente federativo de maior longevidade na América do Sul e há muito é suspeito de corrupção por aferrar-se tanto ao cargo e por seu alto nível de vida. Sempre afirmou que seus negócios “não têm nada a ver” com sua condição de presidente da FVF e que suas empresas foram abertas em 1982, “anos antes” de sua entrada no organismo que organiza o futebol venezuelano.
Costas Takkas. Esse britânico de 58 anos, de acordo com fontes consultadas, é o ex-secretário geral da federação das Ilhas Caimã presidida por Jeffrey Webb e atua hoje como adjunto ao gabinete do presidente da Concacaf.
Aaron Davidson. Este norte-americano de 44 anos radicado em Miami é presidente da empresa promotora Traffic Sports USA e conselheiro da North American Soccer League. Sua empresa tem direitos comerciais sobre a Gold Cup e a Champions League da Concacaf; também foi dona do clube Fort Lauderdale Strikers.
Alejandro Burzaco. É um executivo de meios de comunicação argentinos; preside Torneos y Competencias S.A., uma importante empresa de marketing com sede em Buenos Aires que se dedica à transmissão de eventos esportivos. Foi durante muitos anos próximo ao poderoso ex-presidente da Federação Argentina, Julio Grondona, falecido em 2014, e é um personagem conhecido no mundo do esporte e da televisão argentinos.
Hugo e Mariano Jinkis. Pai e filho de 70 e 40 anos, respectivamente, dirigem Full Play, uma empresa de marketing esportivo com sede na Argentina que foi fundada em 1998 e tem os direitos televisivos da maioria das seleções da América do Sul, algumas pertencentes à Concacaf, das Eliminatórias Sul-Americanas e da Copa América do Chile 2015.
José Margulies. Brasileiro de 75 anos, apelidado de Lázaro, é empresário e presidente da Valente Corp. e Somerton Ltd. É acusado de atuar como intermediário que facilitava os pagamentos ilegais entre as empresas de marketing esportivo e os executivos da FIFA.
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