_
_
_
_

Filho de Bachelet lança ‘bomba’ contra o Palácio de La Moneda e a situação chilena

Sebastián Dávalos acusa o antigo homem de confiança da presidenta em depoimento ao Ministério Público pelo caso de corrupção Caval

Rocío Montes
Michelle Bachelet e o filho Sebastián Dávalos, em dezembro.
Michelle Bachelet e o filho Sebastián Dávalos, em dezembro.M. RUIZ (EFE)
Mais informações
Sombras familiares sobre Bachelet
Polêmica de financiamento de campanhas respinga em Bachelet

Entre todas as tramas de política e dinheiro que vieram à tona no Chile em 2015, provavelmente o caso Caval é o mais delicado, tanto por seus protagonistas como por seu alcance: a família da Presidenta Michelle Bachelet e o desempenho do próprio Governo. Embora o Ministério Público ainda não tenha formalizado a acusação contra os principais envolvidos nos polêmicos negócios imobiliários da Caval, empresa cuja propriedade está 50% nas mãos da nora de Bachelet, Natalia Compagnon, o processo judicial teve importantes efeitos políticos desde que o escândalo estourou em fevereiro passado. Uma das maiores consequências foi a queda dos principais atributos da socialista, como a credibilidade, e a diminuição de sua taxa de aprovação, que estaria em 24% segundo a última pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP).

O segundo semestre de 2015 havia sido relativamente tranquilo, talvez porque o escândalo Caval esteve em ponto morto: o promotor do caso, Luis Toledo, teve que se afastar devido à sua frustrada postulação ao cargo de promotor federal. Nos últimos meses, o Palácio de La Moneda conseguiu retomar a agenda de Governo e a própria presidenta começou a exercer novamente a liderança, após um longo período de paralisia. Mas, em novembro passado, Toledo retomou a investigação e começou a realizar os procedimentos pendentes. Entre eles, o terceiro depoimento do primogênito da presidenta, Sebastián Dávalos, que era gerente de projetos da Caval e que participou com a esposa de gestões essenciais em 2013, em plena campanha, para conseguir empréstimos bancários que permitiram fechar o negócio imobiliário.

O depoimento de Dávalo no Ministério Público, na condição de imputado, foi realizado na segunda-feira (21) e vazou à imprensa há algumas horas. Seus efeitos políticos foram imediatos: representaram uma espécie de bomba tanto para o Executivo como para a situação chilena, e reabriu uma frente complicada para o Governo.

O cientista político de 37 anos e pai de dois dos netos de Bachelet relatou aos promotores as razões pelas quais apagou a informação do computador que usava no Palácio de La Moneda, onde trabalhava como diretor sociocultural até que sua mãe o obrigou a renunciar quando estourou o caso Caval. Dávalos atacou sobretudo o antigo homem forte do Governo de Bachelet, Rodrigo Peñailillo, que a presidenta tirou do cargo de ministro do Interior em maio passado em virtude da perda de confiança e dos estilhaço da trama. “(Pedi) que apagassem meu perfil de usuário e senha porque não quis correr o risco de que fossem manipulados (...), pois tinha o medo fundado de que isso poderia ocorrer”, disse o primogênito de Bachelet aos promotores. Em referência a Peñailillo e seus colaboradores, Dávalos indicou: “Eu temia que essas pessoas, pela forma como haviam agido nos últimos 11 meses, pudessem manipular a informação contida no computador, seja pela introdução de arquivos ou enviando e-mails no meu nome.”

Dávalos aponta também para dirigentes relevantes do oficialismo como parte de uma operação política para o prejudicar

O filho da Presidenta contou em detalhes aos promotores a complexa relação que teve com Peñailillo enquanto os dois trabalhavam na sede do Governo chileno, entre março de 2014 e fevereiro de 2015. Dávalos relatou que sua nomeação como diretor sociocultural da Presidência provocou uma “forte reação adversa” por parte de Peñailillo e seu grupo político, G90, formado por militantes do Partido pela Democracia (PPD), de centro-esquerda, que estão na faixa dos 40 anos. “Segundo eles, seriam chamados a ser a nova geração da política”, afirmou. De acordo com Dávalos, a relação com Peñailillo ficou ainda mais conflituosa e distante assumiu a Direção Sociocultural do Palácio de La Moneda e revogou as nomeações que o G90 havia realizado anteriormente. “Eu não seguia suas linhas políticas, de indicar aos cargos pessoas não idôneas, e sua ânsia de controle do poder, que, segundo meu parecer, mostram seu desejo de chegar a ser Presidente algum dia”, afirmou o filho da Presidenta.

No depoimento ao Ministério Público, Dávalos afirmou também que dirigentes importantes da situação integram uma operação política para prejudicá-lo. Segundo o filho de Bachelet, no início de 2015 os rumores indicavam que tanto Peñailillo como líderes da coalizão Nueva Mayoría estavam envolvidos na trama Soquimich — contribuições irregulares à política feitas pela empresa do ex-genro de Pinochet. “A informação do negócio da Caval foi conservada e utilizada por parte do G90 e um setor do PPD de modo a aproveitar esse caso e sua cobertura na imprensa para baixar o perfil do caso Soquimich, que os envolvia, e me tirar de vez do cargo e intervir no Governo. No entanto, os que utilizaram a informação nunca imaginaram as enormes consequências de sua decisão, que finalmente fizeram com que o ministro do Interior (Peñailillo) também perdesse o cargo”, afirmou Dávalos em referência a políticos reconhecidos no Chile, como Sergio Bitar, Guido Girardi e Fernando Ayala.

Para o filho da mandatária socialista, portanto, “o tema Caval é, em parte, uma operação política para abafar outros casos relacionados com o financiamento da política, entre eles Soquimich, e prejudicar o Governo”. E reiterou sua inocência: “Me acusaram de tráfico de influência, negociação incompatível, fraude informática e fraude tributária, entre outras. Não tenho nenhuma participação em qualquer dessas acusações. Não cometi nenhuma falta ou delito.”

As tensões e a rivalidade entre Dávalos e Peñailillo, o filho natural e filho político de Bachelet, foram conhecidas aos poucos pela opinião pública em 2015. Até agora, contudo, Dávalos nunca tinha imposto um golpe tão direto contra Peñailillo, o principal colaborador de Bachelet desde o primeiro Governo (2006-2010) e que atualmente também está envolvido em casos de financiamento irregular da política. Os novos antecedentes dessa trama judicial e política desembocaram em aspectos pessoais, que chegam até os círculos mais íntimos da chefa de Estado. Desde que estourou o caso Caval, em fevereiro, Dávalos e a esposa parecem resguardar sua independência em relação ao Palácio de La Moneda e não mantêm um especial compromisso político com o Governo. O casal não conseguiu reconstruir uma vida normal e, sem trabalho nem poder sair nas ruas tranquilamente, dedica-se sobretudo a preparar sua defesa.

Nas próximas semanas, o Ministério Público faria as primeiras formalizações do caso. Até agora o Palácio de La Moneda guardou silencio sobre as declarações de Dávalos, que deixam a presidenta numa incômoda posição ante o seu Governo e a situação.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_