Rajoy ganha, mas terá dificuldade em formar Governo
Rajoy (PP) vê seu mandato se complicar e não soma o total de votos com o Cidadãos A soma de cadeiras de PSOE e Podemos supera a do PP e do partido de Rivera
Uma nova fase política começa hoje com a necessidade de acordos. O surgimento forte no Parlamento do Cidadãos, de centro, e, especialmente, do Podemos, de esquerda, desenhou um novo jogo no qual o Partido Popular (PP) de centro-direita, a legenda de Mariano Rajoy, é o mais votado, mas com menos de 30% dos votos e com muitas dificuldades para formar um Governo.
O novo Parlamento será um quebra-cabeças com mais peças do que as que tinha o anterior e, além disso, difíceis de encaixar, por incompatibilidade entre elas. A negociação e o acordo, e a sombra da ingovernabilidade marcarão o período posterior às eleições.
O PP perde mais de 60 deputados em relação a 2011 e ficam com 123, muito longe da maioria absoluta, inclusive mesmo com o apoio de Cidadãos. Em segundo lugar está o PSOE, que perde 19 deputados mas mantém a liderança na oposição e poderia buscar uma maioria alternativa. O terceiro seria o Podemos, com 69 deputados. O Cidadãos ficou muito abaixo de suas expectativas: 40 deputados.
O PP foi o partido mais votado nas eleições gerais de 20 de dezembro, as mais disputadas da democracia. Mas Mariano Rajoy, que encabeça a chapa dos populares, terá uma dificuldade imensa para formar uma maioria que lhe permita formar Governo. Também não será fácil garantir uma maioria alternativa ao PP e, em todo o caso, seria preciso fechar acordo entre mais de três partidos. O PSOE é o segundo e poderia tentar uma aliança de partidos de esquerda e nacionalistas, mas com mais de três partidos e complicações em acordos programáticos.
PSOE e Podemos, de Pablo Iglesias, somam quase o mesmo que PP e o Cidadãos, de Albert Rivera. O partido de esquerda deve decidir se governa com os socialistas e mais um partido.
Os 123 deputados do PP fazem com que o partido sequer consiga alcançar a maioria absoluta de 176 cadeiras necessária, junto com o Cidadãos, para que Mariano Rajoy continue sendo presidente. Já Albert Rivera, à frente da chapa do Cidadãos, tinha repetido na campanha que não votaria sim de forma alguma nesse mandato e, portanto, abre-se uma etapa política nova, inédita na Espanha, marcada pela necessidade de busca de acordos. Ainda que Rivera apoiasse Rajoy, seria necessário um terceiro partido para completar o quebra-cabeças.
Nunca antes um partido tinha vencido as eleições com tão pouca porcentagem de votos e nunca antes a noite eleitoral deixou o futuro tão incerto. Também não é possível numericamente a opção admitida pelo Cidadãos no último dia de campanha, ou seja, abstenção para facilitar a reeleição por maioria simples: o PP não teria votos suficientes sozinho diante do resto e da abstenção do Cidadãos.
O resultado está marcado pela presença forte de dois partidos novos: Podemos e Cidadãos. Especialmente bom é o resultado da candidatura de Pablo Iglesias, ainda que não chegue à altura do PSOE em sua primeiro comparecimento em eleições gerais: é o terceiro, com 69 deputados, segundo a contagem provisória. Ao resultado do Podemos deve somar-se o das outras três candidaturas que concorrem com candidato próprio na Galícia, Catalunha e Valência: Em Marea Podemos, En Comú Podem e Compromís/Podemos/És el moment, respectivamente. Aspiram a formar grupos parlamentares distintos, mas a base é o Podemos e, portanto, no global do resultado somam-se os votos e as cadeiras.
O partido de Pablo Iglesias obtém dados espetaculares na Catalunha e País Basco.
Cidadãos, quarta formação
O Cidadãos fica finalmente como quarto partido e o sistema eleitoral de atribuição de cadeiras o faz baixar na representação parlamentar a 40 deputados. O partido de Albert Rivera aspirava a ser o mais votado mas fica em quarto, ainda que com uma posição privilegiada para determinar a cor do Governo; ou seja, não cumpre as expectativas criadas por eles mesmos, mas pode ser árbitro para encaixar as peças incompatíveis do novo Parlamento.
A instabilidade política que se desenha é ainda maior porque é muito difícil configurar uma maioria alternativa ao PP. Nunca antes na Espanha governou um partido que não fosse o que venceu as eleições, mas nunca antes houve resultado tão apertado e um Congresso dos Deputados tão fragmentado.
Nessa suposta maioria alternativa, uma das dificuldades é que o Cidadãos também afirmou na reta final da campanha que não apoiaria um Governo com o Podemos nem com partidos nacionalistas e separatistas. E para somar 176 é necessário que um deles entre com o PSOE em uma coalizão para tirar o PP de La Moncloa, a sede do Executivo.
Essa posição de Rivera, motivada pelas radicais diferenças sobre como abordar o assunto da Catalunha, torna possível um bom número de combinações que realmente permitiria fechar a conta.
O PP e o PSOE sofrem um notável e previsto retrocesso e passam de mais de 80% dos votos a meros 50%. O bipartidarismo, entendido como a soma hegemônica de ambos e a alternância no poder sem dificuldades, cai como previsto.
Até o momento, só o PP e o PSOE tinham governado a Espanha desde 1982, com maioria absoluta e com maioria simples. Quando não chegaram sozinhos aos 176 cadeiras da maioria absoluta nunca tiveram problemas para chegar a acordos para o mandato do presidente, com acordos pontuais ou com pactos estáveis como o firmado por José María Aznar com CiU e PNV depois das eleições gerais de 1996.
O PSOE, em seu nível mais baixo histórico
O PSOE de Pedro Sánchez chega a seu nível mais baixo histórico com 91 deputados, abaixo de seu pior resultado na democracia, com as 110 cadeiras que Alfredo Pérez Rubalcaba obteve em 2011. Mas aguenta, porque com partidos novos ameaçando a esquerda e a direita sua perda é menor do que a esperada. O que mitiga a queda é o fato de que a fragmentação do Parlamento e, especialmente, da esquerda obriga a que todos os partidos reduzam necessariamente o número de cadeiras no novo Congresso.
E, sobretudo, consegue ser segundo para liderar a oposição e o paradoxo é que, com essa queda notável e sendo quase igualado pelo Podemos, Sánchez poderia tentar uma complicada maioria alternativa ao PP. O PSOE, não obstante, se dá mal em locais importantes como Madri.
A lista da Unidad Popular-Izquierda Unida, encabeçada por Alberto Garzón, ficaria com dois deputados, longe das cinco cadeiras que permitem ter um grupo parlamentar próprio.
Não estará no Congresso Josep Antoni Duran Lleida, que lidera a lista da Unió, e nesse Parlamento fragmentado não só há incerteza sobre o futuro Governo, mas também nas previsões para reformas legais essenciais. Por exemplo, a lei eleitoral cuja mudança é reivindicada pelos novos partidos exige 176 deputados. E o PP tem cadeiras suficientes para bloquear uma reforma constitucional como as que propõe os outros três partidos.
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