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Alinhado a Dilma, Barbosa deixa Planejamento para assumir lugar de Levy na Fazenda

Saída de economista ortodoxo aumenta turbulências na economia brasileira em recessão

Levy e seu substituto, Nelson Barbosa.
Levy e seu substituto, Nelson Barbosa.Lula Marques/Agência PT
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Depois de meses de especulações e rumores de ultimatos, Joaquim Levy deixou o cargo de Ministro da Fazenda nesta sexta-feira menos de um ano depois de assumir o posto com a missão de equilibrar as contas públicas e imprimir no mercado um selo de credibilidade ao segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff em meio aos primeiros sinais da crise econômica.

Diante das tarefas conferidas, o saldo de Levy é melancólico e tem um desprazer adicional: quem fica com seu posto é o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, com quem ele duelou durante todo o período no Governo. Enquanto Levy, um clássico ortodoxo doutor em economia pela emblemática Universidade de Chicago, defendia uma política de cortes profundos para fazer as contas públicas voltarem ao azul - mesmo que para isso fossem usados manobras de alto custo político, como atrasar o décimo terceiro de aposentados -, Barbosa se alinhava com as teses de maior relaxamento fiscal defendidos pela presidenta, ela própria a grande artífice da política econômica.

O Palácio do Planalto anunciou a troca nos ministérios por meio de uma nota à imprensa ainda no fim da tarde desta sexta-feira. Para o lugar de Barbosa, Rousseff vai empossar o atual chefe da Controladoria-Geral da União, Valdir Simão. A CGU será comandada interinamente por Carlos Higino Alencar, que era o número dois da pasta. Na nota, Rousseff agradeceu a Levy e disse que ele "teve papel fundamental no enfrentamento da crise econômica".

Minutos depois de assumir o cargo, Barbosa afirmou que deverá manter as políticas iniciadas por Levy com o objetivo de retomar o crescimento. Na mira do novo ministro estão a redução dos gastos públicos e a recriação de novos tributos como a CPMF (o imposto sobre movimentações bancárias) para sustentar os gastos com a previdência.

O nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o favorito do ex-presidente Lula, não foi aceito porque ele só entraria no cargo com porteira fechada e total autonomia para trabalhar, ou seja: poderia nomear quem quisesse e teria a chancela de Lula para agir contrariando a presidenta. Barbosa, contudo, acabou tendo o aval de Lula por ser bastante afinado com o PT.

O rumores da saída também já respingavam no mercado desde cedo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 2,98% na tarde desta sexta-feira, aos 44.290 pontos, e o dólar comercial subia 1,43%, a 3,94 reais, com as incertezas sobre os rumos da política econômica sem Levy aliados à grave crise política que impõe a Dilma enfrentar um processo de impeachment.

Ex-secretário do Tesouro do primeiro governo Lula e até então importante executivo do Bradesco, Levy viu, sob sua batuta, o Brasil perder o grau de investimento, o selo de bom pagador do Brasil, uma chancela de credibilidade para investidores interessados no país, em duas agência: a Fitch, nesta semana, e a Standard & Poor's, uma das mais prestigiadas do mercado, em setembro.

Quanto às contas públicas, o ministro que dava exemplo de austeridade voando com seu 1,92 de altura na classe econômica, também não tem o que comemorar. A última batalha perdida foi justamente sobre o Orçamento de 2016. O Governo decidiu reduzir a meta de superávit primário do próximo ano para 0,5% do PIB, ou 30,5 bilhões de reais. A decisão contrariou o ministro que vinha lutando para convencer a equipe econômica de manter uma meta de 0,7%. Levy já tinha afirmado que uma flexibilidade era ruim para conseguir a estabilidade fiscal necessária para a retomada do crescimento do país. Após a notícia de que a meta havia sido mudada, Levy confessou sua decepção. "Estou ligeiramente ofuscado", declarou.

Se a semana tinha sido de rumores, a novela da troca na Fazenda começou cedo nesta sexta-feira, quando Levy admitiu que vinha conversando com a presidenta Dilma sobre a possibilidade de deixar o cargo. Disse, então, não querer “criar nenhum constrangimento”. Um dia antes, na última reunião do ano do Conselho Monetário Nacional (CMN), Levy já teria feito uma espécie de discurso de despedida, indicando que não estaria no próximo encontro do colegiado, que ocorrerá em janeiro.

Em meio as incertezas do futuro do Ministério da Fazenda, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou, no final da manhã e sem falar sobre Levy, que "quem banca" a política econômica do país é a presidente Dilma. Alfinetou o agora ex-ministro ao ressaltar que o titular da pasta precisa ter um perfil político e técnico. “Não gosto dessa separação político e técnico porque eu brinco sempre: um técnico puro que for um elefante em cristaleira, em seis meses cria muito problema para o governo. E uma seda entre cristais, que não resolva nada, não resolve a vida do governo”, afirmou Jaques Wagner.

Dilma de mãos atadas

De acordo com vários analistas, Dilma está com as mãos atadas: diante de um processo de impeachment que pode lhe custar o cargo, deve garantir — antes de tudo — os votos favoráveis de todos os deputados de seu partido, o PT, e de seus aliados da esquerda. É um exemplo de como a política interfere e retorce a crise econômica brasileira, que apresenta números cada vez mais alarmantes.

O cabo de guerra entre as teses restritivas, da qual Levy era defensor, e as mais expansionistas dos líderes do PT e da ala mais de esquerda do Governo fez parte do dia a dia da ação política do Executivo desde o começo do segundo mandato. Agora ganham ainda mais relevância no momento em que movimentos sociais contrários à atual política econômica se mostram dispostos a ir às ruas para defendê-la e gostariam de ter um gesto de agradecimento do Planalto. Resta saber se vão considerar Barbosa, próximo do partido, esse sinal.

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