Resistir e persistir
Se tudo der certo continuaremos nas escolas onde escolhemos estar. Mas, as nossas escolas nunca mais serão as mesmas, até porque nós não somos mais os mesmos
Atualmente, estou vivendo uma aventura grandiosa! São tantas experiências de conhecimento, relacionamento, medo, luta, raiva e esperança… Coisas incríveis que jamais imaginei viver dentro da minha escola.
Nosso bordão é “Ocupar e resistir”. Ocupar nossa escola e resistir a um governo que manipula as pessoas, sonega informações e não ajuda a construir um país melhor pra se viver. A nova geração, da qual faço parte, não luta somente por uma educação de qualidade. Mas, sim, contra tudo de errado – que não é pouca coisa. Mas, a gente decidiu começar por aquilo que está mais perto da gente, que afeta diretamente a nossa vida.
Acredito que nós, como cidadãos, não podemos nunca nos calar diante de algo e lutar pelo que acreditamos, persistindo sempre. Mesmo quando nos deparamos com repressão, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e força física e moral – aconteceu quando fomos pra rua. Mas, o lance é que quando o ideal é forte não há quem derrube. Nem o Governo. Nem a polícia. Nem a violência.
Mas, sabe, para mim, o pior mesmo foi quando vi que uma pequena parte da população tentou reprimir os nossos protestos. Aconteceu, por exemplo, na manifestação do dia 3 de dezembro. Pessoas rasgaram nossos cartazes e tentaram nos tirar da rua à força.
Ônibus, motos e carros ficavam avançando na nossa direção – parecia que queriam e que iam passar por cima da gente. Fiquei bem triste. Mas, logo pensei: a única explicação para essas pessoas reagirem dessa maneira é a falta de informação. Elas não sabem o que está realmente acontecendo nas escolas, são manipuladas pela tevê, enganadas pelos políticos… Só pode ser por isso.
E pensar assim me deu força pra seguir na luta, porque só quem sabe o que realmente está rolando nas escolas ocupadas somos nós, estudantes, professores, funcionários e apoiadores. Gente que está acompanhando essa história de perto, de verdade. Por isso, nossa missão é explicar.
Reorganizar foi o nome que o governo deu para o ato de tentar mostrar que se preocupa com a educação, o que sabemos não que não é verdade. Se realmente houvesse preocupação, haveria investimento. E o mais importante: o governo deve consultar e escutar sempre a opinião da população - e não apenas ir decretando leis e esperar que acatemos calados.
A maneira que nós, alunos, encontramos para que fôssemos ouvidos foi ocupar as escolas. E estamos com mais cultura e educação do que se estivéssemos seguindo o currículo antiquado do Estado. Temos aula de física e até de música. Estamos organizando saraus, dinâmicas de grupo, conversas sobre assuntos variados, palestras, capoeira e tantas outras coisas que jamais pensei em vivenciar dentro da escola.
É uma experiência linda! Temos construído um certo carinho entre nós. Sem dúvida, estamos mais unidos, como uma família. Claro que discordamos em várias coisas. Mas, depois da discussão, juntos, nos resolvemos – por meio de conversas e assembleias diárias, nas quais todos podem expor suas opiniões.
Juntos cuidamos da escola, que agora se tornou uma segunda casa. Cozinhamos, limpamos, organizamos e, acima de tudo, adquirimos conhecimentos. Ah, e também nos divertimos, até porque somos jovens e necessitamos disso! Rir é a melhor forma de estarmos bem - e nisso somos bons :)
Se tudo der certo continuaremos nas escolas onde escolhemos estar (e parece que deu certo, né?). Mas, as nossas escolas nunca mais serão as mesmas, até porque nós não somos mais os mesmos.
Nós mudamos e estamos fazendo a diferença nas nossas escolas. Fizemos história, porque estamos fazendo a nossa revolução. Não ficaremos quietos, lutaremos por mudanças, pra que o país seja melhor. E que tudo isso deixe uma lição para todos: ocupe, persista e resista pelo que você acredita.
Vitória de J. Monteiro Leite, 16 anos, é aluna da escola Dona Ana Rosa de Araújo.
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