Uma zona boêmia com locais repletos de jovens à noite
Lugares escolhidos pelos terroristas são especialmente conhecidos no bairro
Os ataques terroristas em Paris ocorreram principalmente nos distritos 10 e 11 da capital francesa, situados a nordeste do centro da cidade. Limítrofes com a célebre Place de la République e de passado marcadamente operário, localizam-se no ponto de início dos antigos subúrbios da cidade. Ambos são lugares de moradia de estudantes, profissionais jovens com trabalhos em setores criativos e famílias de bourgeois bohème (burgueses boêmios), expressão francesa nascida no século XIX que define uma das tribos urbanas parisienses por excelência: pessoas na casa dos 30 e 40 anos com alto poder aquisitivo, e com estilo de vida hedonista e interesse pela cultura e a moda, que começaram a se instalar na região no início da década passada, acelerando a valorização da área. Hoje convivem com famílias de perfil operário que já viviam no lugar antes de sua chegada. Nas áreas mais distantes do centro (e dos ataques múltiplos da noite de sexta-feira), no arco geográfico que vai da Gare du Nord ao bairro de Belleville, há também numerosos imigrantes de origem magrebina, subsaariana, indo-paquistanesa e asiática.
Os locais escolhidos pelos terroristas são especialmente conhecidos no bairro, e muito frequentados durante as noites parisienses. Le Petit Cambodge é um pequeno restaurante pegado ao canal Saint-Martin, pitoresca via que transportava a água potável da capital, que no passado Sisley pintou e serviu de cenário ao filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, transformado em centro nevrálgico dessa nova população que colonizou a área. O restaurante foi criado por uma família cambojana que possui outro local a poucos metros, instalado nos anos noventa, de tamanho um pouco maior e mais conhecido que o primeiro. Na calçada em frente da Rue Bichat se encontra Le Carrillon, um bar de preços acessíveis e especialmente frequentado por estudantes, e que conta com um dos terraços mais concorridos do bairro. Neste outono, de temperaturas surpreendentemente agradáveis, suas mesas na noite de sexta-feira estavam totalmente cheias.
Já o Bataclan se localiza no Boulevard Voltaire, no limite entre ambos os distritos, e a apenas dez metros a pé dos dois lugares mencionados. O espaço de shows, onde foram assassinadas dezenas de pessoas, fica em um edifício do século XIX com aparência de pagode colorido, onde naquela época se representavam vaudevilles. Transformado em uma das principais salas de espetáculos parisienses de porte médio desde 1983 e declarada monumento histórico em 1991, possui uma programação eclética. Nos últimos meses, a sala –com capacidade para 1.500 pessoas– tinha acolhido artistas como Nina Hagen, Tiken Jah Fakoly, Maceo Parker, Jesse J, Death Cab for Cutie, Limp Bizkit e Calle 13. O cruzamento das ruas de Charonne e Faidherbe fica um pouco mais distante, a um quilômetro e meio da casa de espetáculos, em pleno distrito 11. Segundo as testemunhas, o ataque era dirigido contra o café La Belle Équipe, restaurante e bar de coquetéis com outro terraço frequentado a partir da hora do apéro, o aperitivo entre amigos que precede o jantar, segundo a tradição francesa. Esse ataque sem precedentes à população civil era dirigido a lugares especialmente frequentado por jovens durante as noites parisienses.
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