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Na Suíça, poucos dormem bem

Pessoas próximas a Blatter lembram que ele pode voltar a se apresentar para dirigir a FIFA

Carlos Arribas
Logotipo da FIFA na sede central, em Zurique, do organismo.
Logotipo da FIFA na sede central, em Zurique, do organismo.H.Cunningham (Getty)

Um fantasma percorre a Suíça, causando assombro nas margens tranquilas do lago Leman, em Nyon, onde fica o castelo da UEFA, e em Lausanne, alguns quilômetros ao norte, na sede do COI; provoca desespero em Zurique, nas bordas do rio Limmar, na altura da igreja com os vitrais de Marc Chagall, do outro lado, em Forrenweidstrasse, onde a casa da FIFA deslumbra a apenas quatro quilômetros da rua Spiegelgasse, onde o Lenin que sonhava com sua viagem a São Petersburgo despertava pelas manhãs com o cheiro triste da vizinha fábrica de salsichas.

E neste ano nem sequer houve clima para a realização, em outubro, da tradicional partida de futebol entre funcionários e trabalhadores da UEFA e da FIFA, em que Michel Platini e Joseph Blatter costumavam se abraçar e suar juntos.

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O fantasma, que não deixa os máximos dirigentes do esporte mundial dormirem tranquilos há algumas semanas, se chama opinião pública, e também fome de verdade, e teria a simpatia do revolucionário soviético, também de Shakespeare, e até de George RR Martin, de Game os Thrones.

Todos lembram que a atual crise da FIFA, que arrastou consigo o presidente da UEFA, teve origem nas investigações jornalísticas do Times, de Londres, sobre os subornos que os organizadores de Rússia e Catar distribuíram entre presidentes de federações nacionais para receberem o direito de organizar as Copas do Mundo de 2018 e 2022. Todos também sabem que a verdadeira corrupção não é a que gera um ganho extra para os dirigentes, mas é aquela que permite aos que aspiram aos cargos mais altos chegar, ou permanecer, no poder.

“Só uma coisa é certa: não estamos no final de todos os escândalos, e nem sequer se pode dizer que a FIFA é a única federação com problemas, e nem mesmo o COI, composto em grande parte por presidentes de federações internacionais, pode falar muito alto”, diz um advogado esportivo com escritório em Lausanne e conhecedor desse mundo. “Não existe dirigente que não tenha medo”.

Talvez exista uma exceção ao pavor: o infindável Blatter, presidente demissionário e suspenso, que, segundo alguns amigos indiscretos, era o homem mais feliz do mundo na quinta-feira, quando seu amigo Hans Joachim Eckert, presidente do Comitê de Ética da FIFA, impôs uma suspensão de 90 dias para ele e Platini, ambos investigados pela promotoria suíça como suspeitos de vários crimes de corrupção. “Não só limitou sua queda a 90 dias, mas também afundou Platini, o traidor que herdaria seu cargo”.

A primeira interpretação da alegria de Blatter (arrastar um inimigo junto em sua queda) é simplista, segundo pessoas de seu círculo: como um rei velho que nunca vê chegar o momento de ceder o poder, Blatter simplesmente se alegrava ao sair por cima de um rival. “A verdade é que Blatter, apesar de ter anunciado o contrário, não descartou em absoluto voltar a se apresentar à reeleição no congresso de 26 de fevereiro”, dizem diversas fontes em Zurique.

As reuniões de emergência dos comitês executivos convocadas pela UEFA para a próxima quinta para desenhar a estratégia de Platini, e pela FIFA para 20 de outubro para fixar definitivamente as datas das eleições, devem esclarecer nos próximos dias os movimentos dos concorrentes. E aliviar seu sono.

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