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Macri promete denunciar Maduro no Mercosul pelo caso de Leopoldo López

Candidato afirma que, se vencer, pedirá a aplicação da cláusula democrática contra a Venezuela se esta não soltar oposicionista preso

Carlos E. Cué
Mauricio Macri, após entrevista.
Mauricio Macri, após entrevista.ENRIQUE MARCARIAN (REUTERS)

O silêncio das lideranças sul-americanas diante da condenação do oposicionista venezuelano Leopoldo López a 13 anos de prisão pode ser rompido caso Mauricio Macri vença a eleição presidencial na Argentina, cujo primeiro turno se realizará no próximo dia 25. O principal candidato da oposição, líder da frente Cambiemos [Mudemos], prometeu em entrevista coletiva concedida a correspondentes estrangeiros em Buenos Aires que, caso seja eleito presidente, exigirá de Nicolás Maduro a libertação imediata de Leopoldo López. Caso não a obtenha dessa forma, o que seria o mais provável, Mauricio Macri acrescentou que pedirá a realização de uma reunião dos países do Mercosul, grupo ao qual pertencem tanto a Argentina quanto a Venezuela, "para exigir que se aplique a cláusula democrática constante do acordo do Mercosul". "Está muito claro, para nós, que Maduro tem de respeitar as liberdades", insistiu Macri.

O dirigente da oposição argentina, que precisa evitar que Daniel Scioli consiga 10 pontos percentuais de vantagem sobre ele no dia 25 para levar o pleito ao segundo turno, quando então teria chance de sair vitorioso, expõe, assim, um item claro de sua futura política externa e entra em confronto direto com o governo venezuelano. Até o momento, até mesmo países governados por políticos muito afastados de Maduro vinham mantendo silêncio sobre isso, limitando-se a registrar o respeito à justiça venezuelana. Cristina Fernández de Kirchner sempre apoiou Hugo Chávez e Maduro.

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Macri, que entra na reta final de sua campanha precisando romper pelo menos a barreira dos 30% para poder pensar em um segundo turno, se embrenhou com clareza também em algumas questões econômicas, em especial a da trava cambial, ou seja, a limitação existente na Argentina para a compra de dólares e o controle do tipo de câmbio, que gera um mercado paralelo e torna bastante difíceis os investimentos estrangeiros no país, segundo os especialistas.

Macri falou ao lado do principal assessor de sua equipe econômica, Roselio Frigerio, que deixou claro a sua intenção de acabar com a trava cambial no primeiro dia de seu eventual governo: "Vamos transformar a Argentina em um país normal, sem inflação, sem trava cambial, com crédito", garantiu Frigerio. Ao mesmo tempo, Macri prometeu que o primeiro país que ele visitará como presidente será o Brasil, a fim de reconstituir relações hoje bastante deterioradas. "Cada dia que passa sem que se elimine a trava é, para nós, um dia perdido, um dia em que os exportadores não conseguem vender sua produção e em que não entram novos investimentos. Não estamos condenados a ter de manter essa trava", insistiu Frigerio. Scioli insistiu em várias oportunidades que não permitirá a implantação de um câmbio livre, ou seja, que, de alguma forma, manterá a atual linha de política econômica do kirchnerismo.

A discussão política mais importante diz respeito à capacidade de Scioli de se afastar do kirchnerismo e dar uma virada

A principal discussão política na Argentina neste momento diz respeito à capacidade de Scioli de se afastar do kirchnerismo e dar uma virada, algo que parece cada vez mais difícil. Caso vença a eleição, Scioli o fará com os votos do kirchnerismo, em decorrência do pacto que tem com a presidente Cristina Fernández de Kirchner, que optou por ele em detrimento de seu vice-presidente, Carlos Zannini, e dá claros sinais, todos os dias, de que pretende controlar os passos de seu sucessor na Casa Rosada, a sede do Governo.

Macri procura explorar essa proximidade entre Scioli e o kirchnerismo, embora também encontre muitas dificuldades para obter a vitória, entre outros motivos, por ser visto por muitos dos argentinos como um representante da elite do país, à qual pertence sua família –Scioli também é filho de um homem rico, mas não no mesmo grau de Franco Macri, pai de Mauricio, um dos empresários mais conhecidos da Argentina. As pesquisas revelam um cenário ainda bastante aberto, no qual Macri tentar avançar para levar o pleito ao segundo turno, quando então teria chance de vitória caso venha a reunir os votos do conjunto da oposição, hoje dividida, em torno de sua candidatura. O braço direito do candidato e prefeito de Buenos Aires, Marcos Peña, afirma que o sobrenome Macri já não constitui um problema. "Sessenta por cento dos argentinos querem a mudança e 55% deles dizem que poderiam votar em Macri; não há hoje nenhum problema em relação a sobrenomes ou aos ataques feitos pelo Governo".

Assessores de Macri comentaram que 35% dos argentinos decidem seu voto nos últimos 10 dias anteriores à eleição e que, portanto, a verdadeira batalha começa agora. A chave do avanço consiste, para eles, em tirar votos de Sergio Massa, terceiro nome na corrida presidencial, que se mantém em torno de 20% e vem dificultando o crescimento de Macri.

Enquanto isso, Scioli mantém sua campanha sem comparecer ao único debate eleitoral e concentrando-se na mobilização da máquina peronista regional e buscando o apoio de lideranças da esquerda latino-americana. Na semana passada, ele recebeu apoio de Evo Moráles, assim como já havia sido feito por José Inácio Lula da Silva. Amanhã, deverá receber o apoio do uruguaio Pepe Mujica, que viajará a Buenos Aires para reforçar a campanha de Scioli.

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