PMDB entra em guerra com o PMDB em nome do futuro do PMDB
Um terço dos deputados peemedebistas reclama do 'balcão de negócios' criado por Dilma
O hall onde fica uma pequena cafeteria na Câmara dos Deputados costuma ser um termômetro do que está ocorrendo na Casa. Nos dias normais, está cheio de parlamentares, lobistas, servidores e repórteres. Quando algo está para estourar, fica esvaziado. A conclusão não é de um simples observador, mas de um garçom que há quase duas décadas transita por esse mesmo cafezinho. “Algo grande vem por aí”, alertou o experiente analista, na tarde desta quinta-feira. A análise dele demonstra bem o turbulento momento da crise política e, em especial, os movimentos e divisões de um protagonista, o PMDB, que ganha holofotes pelas oscilações —ora de maior tom governista, ora oposicionista—, e pelo papel de cada um de seus caciques no cenário: o vice-presidente, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – este último às voltas com novas denúncias contra ele na Operação Lava Jato.
É para acomodar todos esses interesses do partido, que habilmente sempre foi parte da máquina pública desde a redemocratização em 1985, que nas últimas semanas Rousseff ofereceu sete ministérios aos peemedebistas em troca de apoio no Legislativo e de, ao menos, ganhar mais tempo para se fortalecer contra as ameaças de impeachment. A ideia era, nas mudanças de pastas que serão anunciada nesta sexta-feira, contemplar todas as facções da legenda: os deputados, os senadores e o vice.
Ocorre que o movimento há exacerbado a disputa entre as facções. Uma das “bombas” esperadas estourou nesta quinta-feira, minutos depois do garçom fazer essa declaração ao repórter, quando um terço da bancada dos deputados peemedebistas, 22, divulgou um manifesto digno de um partido oposicionista. No documento, os parlamentares reclamam da atitude do partido na Câmara, que se aproximou do Planalto para negociar espaço nos ministérios, e pedem uma nova relação com o Governo Dilma Rousseff (PT).
“Nosso posicionamento em plenário não dependerá desse tipo de barganha por cargos. Temos um só compromisso que é com a nossa consciência, com o Brasil, respeitando a vontade da população, expressa mais de uma vez nas pesquisas e nas ruas do nosso país”, diz trecho da nota, vinda do partido mais experiente em compor Governos de diferentes matizes. Criticam "um balcão de negócios" aberto pela liderança da bancada junto à gestão petista para garantir a aprovação de projetos governistas.
No grupo de deputados cabe tudo. Desde os pró-impeachment, que esperam ansiosamente o Congresso da sigla em novembro para votar pelo desembarque do Governo, até nomes menos óbvios, o que complica o sucesso da presidenta em sua estratégia de pacificação com a legenda. Entre os que assinaram, boa parte diz que, apesar das críticas, apoiará o pacote de ajuste fiscal e atuará para manter os vetos presidenciais que serão analisados na próxima semana. Nem todos, no entanto, garantiram que vão se opor a um eventual pedido de impeachment da presidenta Dilma. É isso o que mais preocupa o Governo.
"Não podemos ter esse viciado troca-troca para sempre. Precisamos de um novo PMDB”, disse um dos signatários do manifesto, o deputado gaúcho Darcísio Perondi. “Pouco mais de 20 assinaram esse manifesto, mas sei que tem vários outros que gostariam de assinar, mas não assinaram por medo”, declarou o deputado por Mato Grosso do Sul Carlos Marun, outro que firmou o documento. Na semana passada, o deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos, já havia feito esse alerta ao EL PAÍS, de que ao menos 30 peemedebistas migrariam facilmente da base aliada para a oposição assim que surgissem novos argumentos que justificassem essa mudança.
De críticos a aliados
Um dos pontos que chama a atenção neste documento é que não são apenas os conhecidos críticos à Rousseff ou ex-aliados de Aécio Neves (PSDB) que o assinaram, como o baiano Luício Vieira Lima ou o próprio Vasconcelos. Na lista também há parlamentares muito próximos ao vice-presidente Michel Temer, como Baleia Rossi, de São Paulo, e defensores da presidenta, como Laudívio Carvalho, de Minas Gerais.
O líder da bancada, Leonardo Picciani, do Rio de Janeiro, que ganhou força nas últimas semanas ao se tornar interlocutor direto do Planalto na reforma ministerial, amenizou as críticas e, sem citar nomes, afirmou que alguns dos signatários do manifesto recuaram de suas posições. “Já ouvi alguns deputados dizerem que não tiveram a intenção de fazer um contraponto à posição da bancada [de indicar novos ministros], mas como uma posição construtiva de posições ao país”, afirmou. Picciani disse ainda que não se sente derrotado como o articulador escolhido pelo Governo para atuar junto ao PMDB. “Tenho certeza de que o Governo conta muito mais do que dois terços [dos deputados peemedebistas], ainda somos a maioria”.
Até o início do mês passado, o PMDB era um dos defensores de que a máquina pública deveria ser reduzida. Quase em uníssono defendia a aprovação de um projeto de lei que determinava um limite de 20 ministérios (metade da atual Esplanada). Dizia que não se importava em perder postos de comando para ver essa redução concretizada. Até ensaiou um aplauso quando o Governo Rousseff anunciou que dez pastas seriam cortadas. Hoje, está dividido entre os que se engalfinham por uma vaga no primeiro escalão e entre os que ainda querem essa diminuição. No fim, para agradar a maioria, a tesoura de Rousseff nos ministérios pode ser menor do que a pretendida por ela por aqueles peemedebistas de 30 dias atrás.
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