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Irã e Rússia buscam saída diplomática para al-Assad na Síria

Bombardeios da aviação do regime causam mais de 80 mortes nas proximidades de Damasco

Juan Carlos Sanz
Corpos das vítimas dos bombardeios do regime sírio em Duma.
Corpos das vítimas dos bombardeios do regime sírio em Duma.SAMEER AL-DOUMY (AFP)

Os bombardeios da aviação do regime sírio contra um mercado de um distrito rebelde de Damasco causaram pelo menos 82 mortes no domingo, nas vésperas da reunião prevista na segunda-feira pela Rússia e Irã para buscar uma saída diplomática para o conflito. Depois de mais de quatro anos de guerra, com 250.000 mortos e 10 milhões de refugiados, os dois principais aliados do presidente Bashar al-Assad tentam aproveitar a corrente internacional favorável gerada pelo acordo nuclear de Teerã com as potências mundiais.

Os ministros das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, e iraniano, Javad Zarif, terão de agir com rapidez diante da crescente perda de território sob o controle do Exército governamental – que pode ter ficado reduzido a 20% da superfície do país – após o avanço dos grupos insurgentes em todas as frentes, especialmente o jihadismo mais brutal encarnado pelas milícias do Estado Islâmico.

Os sucessivos ataques da aviação governamental contra o mercado de Duma, 15 quilômetros a nordeste de Damasco, deixaram também pelo menos 200 feridos, segundos os dados recolhidos pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG com sede no Reino Unido que recebe informação direto do território sírio dos serviços de defesa civil nas áreas rebeldes. “Foi uma matança documentada com imagens”, afirmou um membro do Observatório.

Um porta-voz do Exército sírio disse à agência Reuters que a operação não tinha como objetivo o mercado sírio, mas o quartel-general do grupo insurgente Exército do Islã, que atacou no sábado posições governamentais no bairro vizinho de Harasta.

Moscou e Teerã realizaram iniciativas diplomáticas separadamente nos dois últimos meses para “acabar com a crise na Síria”, segundo o comunicado divulgado no domingo pelos responsáveis do Mistério das Relações Exteriores russo. O Kremlin pretende fornecer em 2016 ao Irã os avançados sistemas de mísseis S-300 de defesa antiaérea e ao mesmo tempo se transformar no principal fornecedor de sua indústria nuclear.

Em meio aos preparativos de reuniões diplomáticas e econômicas, o próprio regime sírio deu recentemente sinais de uma certa abertura, segundo Michael Williams, ex-funcionário da ONU para o Oriente Médio, em um artigo publicado pelo Chatham House, o instituto britânico de relações internacionais.

“A visita do ministro das Relações Exteriores sírio, Walid al-Moallem, a Omã no dia 6 de agosto, a primeira efetuada por Damasco a um país do Golfo desde 2011 [quando a guerra civil síria começou], foi um sinal claro”, diz Williams, “mas é ainda mais importante a visita à Arábia Saudita do general Al Mamluk, chefe dos serviços secretos sírios, para conversar com o ministro da Defesa, Mohammed bin Salman, segundo na linha de sucessão ao trono. O príncipe Salman foi recebido em junho em São Petersburgo pelo presidente Vladimir Putin”.

O especialista britânico considera que o Kremlin tenta desempenhar um papel central nessa nova iniciativa diplomática na Síria. A vontade de Moscou ficou patente no dia 7, quando votou a favor no Conselho de Segurança da ONU para abrir uma investigação sobre o uso de armas químicas no conflito do país árabe. “Ocorreu uma rara exibição de unanimidade no Conselho e uma cooperação incomum entre a Rússia e os Estados Unidos (...) que mostra que os primeiros passos para buscar uma solução política para o conflito estão sendo dados”, conclui o analista de Chatham House.

O principal entrave para conseguir uma saída diplomática é precisamente determinar qual será o papel de Bashar al-Assad na fórmula de entendimento. Enquanto a Rússia e o Irã deixam claro que defendem o Governo da Síria, ainda que sem mencionar expressamente al-Assad, os Estados Unidos e os países europeus mostram-se contrários à sua manutenção no poder.

A Arábia Saudita, entretanto, exige sua saída imediata do poder, como já alertou o ministro das Relações Exteriores de Riad, Adel al Yubeir, na terça-feira em Moscou: “Não existe lugar para al-Assad no futuro da síria”. Segundo a agência Efe, Yubeir declarou que “ele é parte do problema, não da solução”.

Teerã planeja a divisão do país

O Governo de Teerã pretende criar um rascunho do plano de paz para a Síria que implica uma divisão de fato do país, segundo informações do jornal catariano Al Arabi al Yadid, citado pela BBC. A iniciativa iraniana pretende "congelar" o conflito no estado atual, de modo que cada adversário mantenha suas posições atuais, com a única exceção de Aleppo, a grande cidade do norte do país, que ficaria sob a supervisão da comunidade internacional.

O regime, de acordo com esse plano, exerceria o controle sobre Damasco, a fronteira sírio-libanesa, a colimitada região de Qalamun, Homs e a região costeira do oeste do país, incluindo o porto de Tartus, onde a Rússia tem sua única base naval permanente no Mediterrâneo.

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