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Almodóvar põe fim a seu ‘Silêncio’

O diretor finaliza a gravação de seu novo filme no bairro Justicia, em Madri

Almodóvar, na quarta-feira passada, durante a filmagem de 'Silêncio', em Madri.
Almodóvar, na quarta-feira passada, durante a filmagem de 'Silêncio', em Madri.Samuel Sánchez

Algumas pessoas que caminhavam na quarta-feira pelo bairro Justicia, em Madri, foram pegas de surpresa pela parafernália montada naquela tarde nas ruas Fernando VI e Regueros. Mas não foi o caso de boa parte dos moradores, que sabia o que estava acontecendo. Um cartaz alertava: "Filmando. Não estacionar devido à filmagem cinematográfica". Quase uma centena de pessoas, entre atores e equipe, disfarçavam o ambiente com ares dos anos oitenta. E, em meio a esse caos organizado, o cineasta. "É verdade que Pedro Almodóvar está gravando?", perguntava entusiasmado um casal que passava pela área, quase sem enxergar devido às luzes. Iam jantar, mas antes queriam ver o diretor, que usava um chapéu, dando instruções aos membros da equipe.

São os últimos dias de filmagem de Silêncio, vigésimo filme do diretor, estrelado por Emma Suárez e Adriana Ugarte. Quando começou as filmagens em maio passado, o cineasta definiu o filme como "um drama sombrio do universo feminino." Narra as dificuldades de uma mulher que, por três décadas, sofreu o abandono de pessoas importantes em sua vida. O elenco está cheio de rostos femininos: Rossy de Palma, Inma Cuesta, Nathalie Poza, Michelle Jenner, Priscilla Delgado, Susi Sánchez, Pilar Castro... Daniel Grao, Joaquín Notario e Darío Grandinetti são os atores. Na quarta-feira passada, estavam apenas Suárez e Grandinetti.

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"É uma sexta-feira à noite, vocês estão chegando de uma casa de apostas e os cumprimenta." São as indicações da equipe para os figurantes, vestidos com roupas da época do movimento cultural Movida Madrileña. "Parece que estou vestindo um quadro de Picasso", comentava uma jovem observando seu vestido, "mas adorei a jaqueta de couro vermelha", disse, enquanto acariciava a roupa, como uma relíquia. De repente, um grito: "Preparados? Ação".

Em outro plano, todos os olhares se voltavam para a protagonista: uma mulher caminhava entre as câmaras com ar sério. Um, dois, até três carros passaram em frente dela antes que se dirigisse a seu apartamento. Em seguida, os veículos davam marcha à ré e repetiam a cena. "A atriz é Emma Suarez", dizia uma senhora à sua amiga.

Anedotas para todos

A rua Fernando VI nem sequer foi bloqueada, mas os exteriores eram filmados em suas calçadas. Os interiores eram filmados no edifício alugado no número 19 dessa rua, repleta de restaurantes e lojas de delicatessen. Horas antes do fim da gravação, um integrante da equipe lembrava os detalhes de todo o trabalho: "A exposição da luz foi espetacular. Algumas semanas atrás, havia um enorme guindaste que, de fora, iluminava todo o interior do edifício. Lembrava a Janela Indiscreta".

O cineasta definiu o filme como “um drama sombrio feminino”

Aqueles que tiveram visão privilegiada da filmagem, finalizada na sexta-feira passada, foram os moradores. Mesmo com alguns inconvenientes, pareciam encantados. Um deles contava empolgado a uma amiga que, há 20 anos, atuou como figurante em outro filme de Almodóvar, A Flor do Meu Segredo. "Apareço na manifestação dos médicos. Na época tinha 24 anos, como o tempo voa. Fomos muito bem tratados e havia água grátis e sanduíches", lembrou sorridente.

"Almodóvar entrou nessa quitanda e comprou cerejas, peras e pêssegos", disse Shiraida Pérez, vendedora de uma de loja na região.

Para o gerente de um bar, o cenário cinematográfico lhe agradava em parte. Por um lado, havia tirado fotos com o celular e disse que uma garota perseguiu o diretor para tentar fazer um teste. Mas também estava um pouco irritado: "Só eles podem estacionar na rua, como se fosse sua propriedade! Com tanta confusão à noite, as pessoas quase não entram no bar. Almodóvar veio um dia com uns amigos para beber algo, mas tiveram que sair. Eram quatro e meia e já íamos fechar".

Todos os comerciantes parecem ter uma anedota das filmagens, como Paloma González, uma das responsáveis de uma loja de roupas: "Pediram se poderíamos mudar as vitrines com modelos dos anos oitenta". Alguém pediu a uma senhora que esperasse dois minutos antes de atravessar a rua para gravar uma cena. Ignorou o pedido. Com toca de lã apesar do calor, passou resmungando com seu carrinho de compras por todo o cenário de Silêncio.

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