Serviços de inteligência afegãos dizem que o mulá Omar morreu em 2013
Gabinete da presidência afegã confirma a informação sobre o emblemático líder talibã
Um porta-voz do serviço de inteligência afegão disse na quarta-feira que o mulá Omar, líder emblemático dos talibãs, morreu há mais de dois anos. O gabinete da presidência afegã, depois de afirmar durante horas que estava investigando relatos sobre a possível morte, confirmou por meio de um tuíte que o chefe talibã morreu em abril de 2013 no Paquistão.
Omar não foi visto em público desde que fugiu quando os talibãs foram expulsos do poder pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, em 2001. Há anos se especula sobre sua possível morte.
Essas informações chegam em meio aos preparativos para a próxima rodada de negociações de paz entre Cabul e os talibãs, marcada para esta quinta e sexta-feira. A incerteza sobre o mulá Omar poderia aprofundar as divisões entre os talibãs e dinamitar o processo de paz em amadurecimento. Há altos funcionários afegãos que apoiam as negociações para acabar com a guerra, enquanto outros optam por resolver o problema pela força das armas. A esse respeito, uma fonte da inteligência paquistanesa citada pela Reuters acusava o Afeganistão de envenenar a atmosfera das negociações: “É interessante perguntar por que essa notícia [a morte do mulá Omar] está sendo revelada hoje (...). Principalmente quando se trata de uma morte supostamente ocorrida há dois anos. Levanta perguntas sobre os interesses das pessoas que não querem que essas conversações sigam adiante”.
Os anúncios e desmentidos sobre o mulá se sucederam nos últimos anos e na terça-feira se tornaram uma cascata impossível de conter. O porta-voz do serviço de inteligência afegão, Haseeb Sediqi, disse que Omar morreu há dois anos. “O mulá Omar está morto. Ele morreu em um hospital de Karachi (sul do Paquistão) em abril de 2013, em circunstâncias misteriosas”, afirmou à agência France Presse.
O ex-chefe dos serviços secretos afegãos Assadullah Khalid disse que a agência de inteligência sabia há anos da morte do mulá Omar, depois que fontes de segurança disseram que o Paquistão informou o Afeganistão sobre a morte do líder talibã.
Um mistério que dura mais de 14 anos
Enigma. Não se sabe tanto sua data de falecimento como a de nascimento (em torno de 1959, segundo uma investigação do New York Times).
Depois dos atentados de 11 de setembro é suspeito de ter abrigado Osama Bin Laden. Por essa razão os EUA atacaram o Afeganistão em 2001. Essa é a última vez que foi visto.
Uma recompensa de 10 milhões de dólares pesava sobre sua cabeça.
Rumores. Fazia anos que o mulá não participava das decisões diárias dos talibãs. Suas opiniões se reservavam a assuntos estratégicos que lhe transmitiam seus fiéis.
Sua mística derivava do fato de que foi ele quem impulsionou a vitória talibã em 1996 depois da guerra civil no país.
“Nossa inteligência sabia há anos que o mulá Omar não está vivo”, tuitou Khalid, que dirigiu os serviços secretos afegãos entre 2012 e janeiro de 2015.
Os talibãs divulgarão um comunicado sobre o assunto.
Figura misteriosa
A figura do líder talibã está envolta em mistério. É um líder sem rosto. Das duas ou três fotografias suas que foram publicadas, uma resultou ser de outro talibã e o resto delas está tão borrada que seria preciso muita perspicácia para reconhecê-lo. Além disso, poucos estrangeiros o viram e, entre eles, apenas dois ou três não são muçulmanos.
No entanto, algumas características o tornam inconfundível; a mais notável é a ausência de um olho. Omar o perdeu em meados dos anos oitenta, durante a guerra contra a invasão soviética. Até esse detalhe é objeto de lenda. Seus admiradores dizem que quando ferido no olho direito ele mesmo o arrancou, fechou a pálpebra continuou lutando. Biógrafos mais imparciais encontraram relatórios nos quais consta que foi submetido a uma cirurgia num posto da Cruz Vermelha, perto da fronteira com o Paquistão.
A anedota dá uma ideia da admiração que desperta esse homem alto e barbudo. Seu caráter visionário e seu senso de oportunidade fizeram com que muitos afegãos o conhecessem como “príncipe dos crentes”, apesar de sua escassa formação teológica. O apelativo mulá que costuma anteceder seu nome significa apenas “homem de Deus”, um termo honorífico para clérigos de baixa hierarquia.
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