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Crise hídrica em São Paulo chega ao ‘Charlie Hebdo’

Diretor da revista Laurent Sourisseau, sobrevivente do atentado terrorista em Paris, retrata a rotina do desabastecimento

Durante visita ao Brasil neste mês, Sourisseau, que ainda se recupera do tiro que levou no ombro durante o ataque, visitou o sistema Cantareira, que abastece 5,2 milhões de pessoas em São Paulo e beira o colapso desde o ano passado. Acompanhado por agentes armados, responsáveis pela sua proteção, o cartunista tomou notas sobre a situação dos seis reservatórios que abastecem São Paulo.Thiago Mundano
"São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, enfrenta a uma escassez de água inédita", afirma a charge. A crise hídrica é considerada a pior dos últimos 84 anos e trouxe cortes de abastecimento desde fevereiro do ano passado.
O cartunista relata as ações dos moradores para economizar água, como reaproveitar a água do chuveiro para dar descarga. Apesar de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmar que ninguém ficou sem água, todos os bairros de São Paulo sofrem cortes de até 20 horas no abastecimento.
O artista urbano Thiago Mundano, cuja segunda exposição sobre a crise hídrica está em cartaz na cidade, acompanhou ao francês até o Cantareira. Uma das conclusões do cartunista foi que, nos bairros de classe média, a falta de água se conta em horas, enquanto nas favelas o cortes podem durar dias. O Riss reparou também que alguns restaurantes começaram a usar pratos descartáveis e menciona "um projeto em andamento que pretende ligar os rios [poluídos] aos reservatórios". "O governador do Estado, que gere a água, responde a todos os questionamentos dizendo que ou é dessa forma ou não haverá mais água", escreve. O quadrinho menciona também um dos principais gargalos para a Sabesp executar obras emergências a tempo e sem as devidas licenças ambientais, como acusam vários ativistas. "Todas as leis ambientais foram suspensas para a realização de procedimentos urgentes."
"Ele ficou surpreendido com as coisas que contei, dos absurdos dessa má gestão de recursos hídricos e com o fato de que não podemos usar a água do rio Tietê e de outros reservatório por estar poluída", relata o artista Thiago Mundano que acompanhou Riss na expedição. "A primeira coisa que ele disse ao chegar no Cantareira é que fazia tempo que ele não sentia tanta paz e tranquilidade, porque desde janeiro ele vive uma rotina intensa em Paris, e São Paulo não estava diferente", lembra Mundano.
O cartunista mostra a lógica que seguem os contratos de demanda firme da Sabesp, aqueles que premiam com descontos os maiores consumidores de São Paulo. "Para a indústria e a agricultura, que são os que mais consomem, a lógica é a inversa à aplicada aos particulares: quanto mais eles consomem, menos eles pagam", diz a charge, que inclui incorretamente a agricultura, que não se beneficia do tipo de contrato.
O cartunista retrata os dois agentes da Polícia Federal que o acompanharam até o Cantareira, a 150 quilômetros de São Paulo. Riss ressalta o chão da represa, seco e coberto de mato, e desenha uma foto antiga onde o chão aparece completamente rachado. O relato acusa a Sabesp de não fazer os investimentos necessários para enfrentar a crise e ironiza o fato de a companhia cotizar na Bolsa de Nova York.