Assassina serial e apaixonada
A mexicana Juana Barraza, a ‘Mataviejitas’, condenada a 754 anos de detenção pelo assassinato de 17 idosas, se casou na prisão
Se existe uma fronteira entre as revistas de fofocas e a grande imprensa, a mexicana Juana Barraza Samperio, de 56 anos, a atravessou. Barraza tem muitos apelidos. La Dama del Silencio, quando se dedicava à luta livre e subia no ringue. Mas o mais famoso de todos é o apelido que ela ganhou ao ser condenada a 754 anos de prisão pelo assassinato de 17 idosas, entre o final dos anos 1990 e janeiro de 2006, quando foi presa: La Mataviejitas (a Mata-velhinhas). Depois de nove anos de prisão, ela se casou no fim de semana. “Encontrou o amor”, destacam os periódicos mexicanos.
O noivo é outro recluso, preso na seção masculina do centro penitenciário. Chama-se Miguel Ángel, tem 74 anos e também cumpre sentença por assassinato. A relação dos dois começou há um ano. Eles se casaram em cerimônia coletiva com outros 48 casais no presídio de Santa Martha Acatitla. Depois da cerimônia civil houve música, comida e bolo, informa um comunicado, segundo o qual o enlace foi celebrado dentro do programa governamental Laços em Reclusão.
Barraza se casou com outro detento, de 74 anos, da prisão onde cumpre sua pena
Barraza tem todo o perfil de uma assassina serial. Em liberdade, La Mataviejitas se dedicava ao comércio e à luta livre. Quando descia do ringue, se fazia passar por membro do público e escolhia suas vítimas, todas idosas. Em alguns casos as matava a socos, em outros, a facadas ou por estrangulamento. O Governo mexicano passou anos em seu rastro, até localizá-la em 2006. O juiz a sentenciou por 17 homicídios, mas estima-se que ela pode ter feito até 40 vítimas.
Ela conquistava a confiança de idosas que viviam sozinhas. As poucas testemunhas diziam que tinham, de fato, visto uma pessoa com as vítimas. Aqueles que a viram fugir momentos depois de cometer seus crimes testemunharam que ela sempre estava vestida de vermelho, e em pelo menos três casos as vítimas possuíam uma cópia de O menino de colete vermelho, de Paul Cézanne. “É sumamente inteligente”, disse na época o promotor da Cidade do México. Foi feito um retrato falado. As autoridades achavam que procuravam um homem vestido de mulher.
Ela matava suas vítimas, todas idosas, a socos, facadas ou por estrangulamento
Mas em janeiro de 2006, Barraza cometeu um erro: apunhalou e estrangulou Ana María de los Reyes Alfaro, de cerca de 80 anos. Nessa ocasião, porém, a vítima não estava sozinha: tinha um inquilino. O homem avisou a polícia, que deteve a assassina minutos depois. A Mata-velhinhas era uma mulher.
No dia em que foi presa, ela explicou por que matava idosas com quem não tinha qualquer relação prévia. “Eu odiava as senhoras de idade, porque minha mãe me maltratava, me batia, sempre me xingava e me deu de presente a um homem adulto.” A mãe de Barraza era alcoólatra e oferecia sua filha a seus vários companheiros em troca de dinheiro.
Barraza nunca mostrou qualquer sinal de arrependimento por seus crimes. Explicou que escolheu matar as idosas por “necessidade econômica” e disse que não cometeu todos os assassinatos dos quais foi acusada, mas apenas aquele no qual foi surpreendida no ato.
La Mataviejitas é mais um ícone do imenso imaginário mexicano. Ela inspirou um programa de televisão, e canções são compostas sobre suas andanças. “A Mata-velhinhas quer pôr sua vovó para fora / ela é uma descarada, nada a detém / lutadora profissional / A Dama do Silêncio é como se faz chamar / Ninguém desconfia, ninguém imagina / Essa assassina pode ser uma vizinha”, diz uma composição da artista Amandititita.
Em 2014 Barraza disse ao jornal mexicano Excélsior que “dorme tranquila à noite” e que estava contente com sua vida. E, nove anos depois de chegar à prisão, “encontrou o amor”.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.