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Presidente da Sabesp promete apurar elo entre doenças e a crise hídrica

Kelman diz não saber casos de enfermidades causadas pelo cenário de desabastecimento

María Martín
Presidente da Sabesp, Jerson Kelman, na FIESP.
Presidente da Sabesp, Jerson Kelman, na FIESP.martha lu

O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, se comprometeu nesta quarta-feira a verificar se há falhas na qualidade da água e a correlação entre a crise hídrica e o aumento de casos de doenças como diarreia em São Paulo. Kelman assumiu o compromisso de durante uma conferência sobre saneamento básico organizada pela Fiesp (Federação de Indústrias de São Paulo). Questionado, Kelman disse desconhecer o tema de estudo da Vigilância Epidemiológica de São Paulo, publicado pelo EL PAÍS, que associa os surtos de diarreia aguda recentes ao cenário de desabastecimento.

"Eu não tenho conhecimento, mas é um assunto muito sério. O controle de qualidade da água da Sabesp é feito com extremo profissionalismo. Agora, se tem falha, não vou ficar aqui defendendo. Não podemos brincar com isso. É muito sério. Vou mandar verificar", disse Kelman, que pediu os endereços das pessoas afetadas para providenciar uma vistoria.

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A crise hídrica em São Paulo trouxe desde o ano passado o risco de colapso dos reservatórios, cortes diários no abastecimento em toda a região metropolitana, assim como um aumento expressivo de casos de diarreia aguda em todo o Estado, conforme mostrou um informe do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), órgão da Secretaria Estadual de Saúde.

O centro qualificou 2014 como um ano “hiper-epidêmico”, após uma análise detalhada, embora preliminar, das notificações de surtos da doença. O órgão associa o evidente aumento de casos comunicados no Estado – quase 35.000 em algumas semanas de fevereiro, março e setembro – aos problemas de abastecimento de água que ainda afetam toda a região metropolitana e várias cidades do interior. No município de São Paulo, que por seu tamanho concentra o maior número de casos e onde a Sabesp é a responsável pelo abastecimento, a tendência é também de aumento como no resto do Estado como um todo.

Comparativa da série histórica 2008-2013 com 2014 no município de São Paulo. Fonte: DDTHA/CVE/CCD/SES-SP (SIVEP_DDA)
Comparativa da série histórica 2008-2013 com 2014 no município de São Paulo. Fonte: DDTHA/CVE/CCD/SES-SP (SIVEP_DDA)

A diminuição de pressão, a intermitência do abastecimento, o racionamento, o consumo do volume morto das represas, e o uso da água de poços e caminhões-pipa, cuja qualidade não é sempre fiscalizada conforme a lei, são as principais causas que podem comprometer a qualidade da água e promover o surgimento de surtos (ocorrência de dois ou mais casos) de diarreia e outras doenças transmissíveis pela água, conforme aponta a pesquisa do CVE.

Embora o presidente da Sabesp afirme desconhecer o assunto, a relação dos cenários de seca com o aumento de algumas doenças tem sido abordada por vários organismos este mesmo ano, inclusive pela Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde.  "Os planos de emergência devem estar acoplados a políticas transparentes para o enfrentamento destas crises cíclicas, de modo a evitar o consumo de águas de fontes não oficiais e improvisadas, bem como o armazenamento inadequado de água, que contribui, entre outros efeitos, para o risco de surtos de doenças como diarreias, gastroenterites, rotavírus e hepatite A", diz um estudo elaborado conjuntamente com o Ministério de Saúde e sua parceira a Fundação Oswaldo Cruz.

O estudo defende também a relação da crise hídrica com a epidemia de dengue que São Paulo sofreu no começo deste ano. "Em São Paulo, a população por não saber claramente sobre as medidas de racionamento, bem como, quando e o quanto de água seria fornecida, passou a armazenar água, muitas vezes de forma de inadequada. Uma das consequências desse processo de armazenamento foi um aumento no número de óbitos e casos notificados de dengue. No primeiro bimestre de 2014 foram 5 óbitos e 11.876 casos notificados. No mesmo período em 2015, o número de óbitos foi de 24 (aumento de 380%) e o de casos notificados, 94.623 (aumento de 697%)."

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