Cuidado: o mundo está cheio de impostores famosos
Rachel Dolezal faz parte de uma longa série de infâmia. Reunimos outros casos famosos
Rachel Dolezal queria ser negra. Assim começa a disparatada e incrível história da última grande impostora de nosso tempo. Porque, para alguns, a ideia de que “se desejar algo muito forte, essa coisa se tornará realidade”, não é só uma frase de auto-ajuda, mas um mantra vital. Por isso Rachel, branca e loira, decidiu contar ao mundo que era negra. E contou tão bem que acabou sendo porta-voz da plataforma pró-direitos civis de pessoas de cor (NAACP) e professora de educação africana na universidade de Eastern, Washington.
Rachel acreditava tanto nisso, que abraçava o primeiro homem negro que passava por perto e subia uma foto dos dois em seu Facebook chamando-o de pai. Acreditou tanto que contava orgulhosa as aventuras de seus irmãos negros adotados como se fossem filhos de suas entranhas. Acreditou tanto que tiveram que aparecer seus próprios pais biológicos para contar ao mundo (e lembrar a ela), que cabelos bastante encaracolados e falta de protetor solar não fazem com que uma pessoa seja negra.
Rachel Dolezal não é a primeira (nem será a última) a ocupar um lugar que não é seu, nem em mentir descaradamente para nós e a si mesma no processo. A seguir, um punhado de exemplos de grandes mentirosos.
Thamsanqa Jantjie
Quem não recebeu oferta de um trabalho para o qual realmente não está preparado? Quando o Governo da África do Sul ofereceu a Thamsanqa Jantjie ser intérprete de linguagem de sinais no funeral de Nelson Mandela, ele nem duvidou. Afinal, o que pode dar errado, além de que todo o mundo o veja inventando o discurso de Obama?
Verônica Aparecida dos Santos
Uma bola de pilates e um ultrassom encontrado na Internet foram os ingredientes para que a brasileira Verônica Aparecida dos Santos se lançasse ao estrelato dos programas de TV como a sortuda mãe de quadrigêmeos. Ela ganhou holofotes e estimados 7.000 reais em produtos de bebê até ser desmascarada e virar "a falsa grávida de Taubaté". Ela chegou a responder a processo pela mentira, mas não foi punida.
Tania Head
Dizem que a mentira tem pernas muito curtas, mas para Alicia Esteve a brincadeira durou seis anos. A protagonista do documentário The 9/11 Faker convenceu a todos que esteve lá. Que se chamava Tania Head e foi uma das vítimas do 11 de Setembro, onde se salvou por pouco perdendo, no caminho, seu (imaginário) marido. E foi tão convincente que acabou se convertendo na porta-voz dos familiares das vítimas dos atentados.
Marcelo Nascimento da Rocha
Ele queria ser VIP e não mediu esforços. Um das suas identidades falsas favoritas foi dizer que era filho do dono da companhia área Gol, mas ele também se apresentava como integrante de bandas de rock. Marcelo Nascimento da Rocha namorou modelos e foi recebido por globais. A sua obsessão acabou virando filme, estrelado por Wagner Moura.
Anna Allen
Até inventarmos o teletransporte, o Photoshop é a única ferramenta que temos, além da imaginação, para colocar nosso corpo onde quisermos. O que você quer? Passear com um lindo vestido pelo tapete vermelho do Oscar? Sem problema. Só é preciso seguir os passos de Anna Allen, que foi da série espanhola Cuéntame Cómo Pasó a Hollywood em apenas uns cliques do mouse. Ali, através de intrépidas fotomontagens, apareceu ao lado de Matt Bomer, superou Summer Glau em The Big Bang Theory e nos mostrou sua vida de luxo e glamour através do copiar-colar das fotos do Instagram de Sophia Bush.
Jean-Claude Romand
O protagonista do livro O Adversário de Emmanuel Carrère deve toda sua incrível história a um despertador com defeito. No segundo ano de medicina, pouco antes de uma prova importante, Jean-Claude Romand não acordou e, a partir daí, toda sua vida, durante mais de 18 anos, foi mais estranha que a ficção. Parou de frequentar as aulas, inventando que foi aprovado em tudo e que tinha se formado. Contou a seus conhecidos que tinha câncer, para assim poder justificar por que passava todo o dia trancado em casa (estudando para manter a mentira). Chegou a falar que trabalhava na OMS e conseguiu grandes somas de dinheiro administrando as finanças de seus conhecidos e vendendo sua milagrosa cura contra o câncer a doentes desesperados. Até que o castelo de cartas começou a cair e Romand optou por assassinar toda sua família para evitar ter que dar explicações.
Enric Marco
Uma história sempre será muito mais poderosa se for contada em primeira pessoa. Pelo menos foi isso que Enric Marco deve ter pensado, pois durante trinta anos relatou suas misérias como prisioneiro do campo de concentração de Flossenburg sem jamais ter estado lá. E tudo isso porque, ele justificava, assim dava mais impacto à sua missão divulgando os horrores nazistas como presidente da associação Amical de Mauthausen. Mas as histórias contadas por Marco tinham inconsistências, e a verdade apareceu graças ao historiador Benito Bermejo que, com a lista de arquivos de Flossenburg na mão, jamais conseguiu encontrar nenhum rastro do imaginativo Enric em nenhum lado.
Frank Abagnale
O que se pode contar de Frank Abagnale que Steven Spielberg já não tenha contado? A inspiração por trás do personagem de Leonardo DiCaprio em Prenda-me se for Capaz fez o que quis com a empresa aérea Pan Am, fingiu ser médico na Geórgia durante um ano e advogado em Nova Orleans. Depois de passar um tempo preso (em sua defesa diremos que só tentou escapar duas vezes) trabalhou para o FBI oferecendo seus serviços como especialista em falsificação. Agora tem sua própria firma de advocacia na qual assessora seus clientes contra a fraude financeira, e uma fortuna legítima nada desprezível. Nada mal para quem começou a falsificar cheques quando tinha 16 anos.
Amy Martin
Milhares (e milhares) de euros em dois anos para escrever 14 artigos para a Fundação Ideias do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), na Espanha. Parece muito, mas pense em tudo que isso envolve: invenção de um personagem com seus títulos próprios, conhecimentos na matéria e méritos profissionais falsos; ser o diretor da fundação, ser apontado como o alter ego da colunista em questão, e acabar convencendo sua ex a admitir publicamente a autoria dos textos. E tudo isso para ter que acabar devolvendo o dinheiro e que sua ex-mulher relance sua carreira musical com um vídeo psicotrópico que espantaria a própria Lady Gaga. Querem mais?
Alan Conway
Poderíamos pensar que para fingir ser uma pessoa concreta deve existir uma mínima semelhança física. Mas estamos errados. Que o diga Alan Conway, cuja pouca semelhança com Stanley Kubrick não o impediu de se apresentar na sociedade como se fosse o próprio diretor. Que importa que Conway não tinha nem barba, nem óculos, nem a mais remota ideia de cinema em geral nem da obra de Kubrick em particular? Pouco se via o diretor de O Iluminado em público, quem ia poder comparar? Na verdade, quando o próprio Kubrick descobriu a fraude desse improvável doppelgänger, longe de ficar incomodado, afirmou estar absolutamente fascinado.
Milli Vanilli
Filhas sobreviventes do Czar, ou filhos de Sidney Poitier, sobrinhos de Tom Hanks, Rockfellers perdidos... a história está cheia de grandes impostores. Mas essa lista não estaria completa sem os farsantes trash por excelência. A dupla que se adiantou ao auto-tune e nos mostrou, em plenos anos 80, cheios de euforia e esperança, que não eram eles que cantavam. Um autêntico trauma para essa geração, que perdeu não apenas o Grammy de melhor artista revelação que eles tiveram que devolver quando a farsa foi descoberta, mas também nossa inocência musical. Os ternos gigantes de cores gritantes com ombreiras jamais voltaram a ser os mesmos. Milli Vanilli: descanse em paz.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.