Capacetes azuis trocam produtos por sexo no Haiti e na Libéria
Relatório da ONU afirma que essa é uma prática comum das tropas de paz
Os casos de exploração sexual por parte dos capacetes azuis das Nações Unidas continuam sendo algo sistêmico. O último relatório de supervisão interna da organização concentra-se na conduta dos soldados no Haiti (onde o Brasil tem o comando militar da missão da ONU) e na Libéria, dois dos países mais pobres do planeta e os mais afetados por esses abusos. O estudo revela que o sexo utilizado como moeda de troca é “bastante comum”, ainda que as vítimas tendam a não denunciar – o que dificulta a assistência adequada.
A ONU tem cerca de 125.000 capacetes azuis mobilizados no mundo todo, em missões de manutenção da paz em zonas de conflito ou realizando tarefas de assistência em países atingidos por desastres naturais. A prática de pagar por sexo é proibida aos capacetes azuis, pois coloca em risco a credibilidade da instituição de proteger a população civil mais vulnerável. É inclusive desaconselhada a relação pessoal com os que recebem ajuda.
O rascunho do relatório, que será divulgado em breve embora tenha sido vazado na imprensa, revela que durante o ano passado houve denúncias de 51 casos de abuso e exploração sexual em todas as missões da ONU, segundo a agência AP. São 15 a menos que no último relatório anual. Mas os pesquisadores consideram insuficiente essa redução, apesar do aumento no número de soldados mobilizados.
No caso concreto do Haiti, os capacetes azuis pagaram para ter sexo com 225 mulheres que necessitavam de alimentos e remédios. O documento não especifica em que período os atos ocorreram nem quantos membros da missão, civis e militares, estariam envolvidos. As primeiras tropas foram enviadas em 2004. Há um ano foi publicado um estudo semelhante, que mencionava 231 mulheres afetadas por essas “transações sexuais”.
O problema atinge especialmente as mulheres da zona rural, que tentam obter acesso a produtos e serviços básicos para sustentar suas famílias em meio à miséria. E também as que moram em áreas urbanas ou nos subúrbios, que recebem “sapatos, celulares, laptops, joias e dinheiro” em troca da relação sexual.
Segundo o documento, houve 480 denúncias de exploração sexual e abuso entre 2008 e 2013. Um terço dos casos envolveu menores, o que aumenta a dimensão do problema. Além de Haiti e Libéria, as outras duas missões mais afetadas são a do Sudão do Sul e a da República Democrática do Congo. O relatório também denuncia que a assistência às vítimas é “seriamente deficiente” e pede que as regras sejam esclarecidas.
A revelação do relatório não é nova. A ONU vem arrastando esse problema desde que ele veio à tona, há uma década. O secretário-geral Ban Ki-moon anunciou, na semana passada, o início de outra investigação sobre os últimos casos que afloraram na missão da República Centro-Africana, onde capacetes azuis franceses estariam envolvidos. O objetivo deste último relatório é jogar luz sobre a maneira como a ONU lida com um problema considerado persistente e prolongado. Além da conduta abusiva dos soldados que exibem as cores da organização, existe o problema de que a população local, que se beneficia com a assistência, desconhece que esse tipo de relações com os capacetes azuis não é consentida.
Apenas sete das entrevistadas no estudo sabiam dessa proibição e nenhuma era consciente de que havia possibilidade de denunciar o abuso. A ONU recorda que os países membros são encarregados de investigar a conduta de suas tropas, que costumam permanecer mais de um ano nas missões de paz. Mas a organização é obrigada a agir caso o problema não seja solucionado.
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