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Hipólito Mora, o candidato mexicano que acaricia a escopeta

Antigo líder miliciano, investigado por assassinato e sequestro, quer se eleger

Juan Diego Quesada
Hipólito Mora em La Ruana, Michoacán (México), dezembro de 2014.
Hipólito Mora em La Ruana, Michoacán (México), dezembro de 2014.Saul Ruiz

Existe um candidato no México, de alpargatas, chapéu de vaqueiro e óculos de armação fina, que fez campanha eleitoral protegido por colete à prova de balas e acompanhado por um padre pronto a oferecer-lhe a extrema-unção a qualquer momento. Porque a morte, em seu mundo, está sempre próxima. Hipólito Mora, o agricultor que anunciou em 2013 que pegava em armas contra o terror do narcotráfico, concorre no domingo ao cargo de deputado federal pelo partido Movimento Cidadão apesar de enfrentar duas acusações judiciais por homicídio e sequestro. É a última jogada de um personagem ambíguo, um sobrevivente dentre desse território nebuloso tão próprio da política mexicana.

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Mora percorreu Apatzingán, La Ruana, Aguililla, Yurécuaro. Nomes dos povoados de Tierra Caliente nos quais as milícias de autodefesa combateram os Cavaleiros Templários. Esse cartel de características sectárias produzia metanfetamina e extorquia agricultores e comerciantes de Michoacán. Até que uma série de personagens com carisma, entre eles Hipólito, disseram basta e foram expulsando-os das localidades. O enfrentamento foi tão encarniçado que precisou da intervenção do Governo, que mandou um enviado especial para pacificar a região.

Mora, acusado

Sufocado parte do conflito, os membros das milícias de autodefesa foram convidados a se integrar às polícias rurais. O Governo federal pretendia desarmar uma espécie de soldados acostumados à guerra que poderiam perder o controle. Mora aceitou, mas encontrou a justiça pelo caminho. Em uma ocasião foi detido por ser suspeito de ter assassinado duas pessoas próximas a outro líder comunitário, O Americano, e foi novamente preso por participar de um tiroteio. Nas duas ocasiões ficou em liberdade, mas o procurador da Justiça de Michoacán, Martín Godoy, revelou que ele ainda tem duas acusações pendentes por homicídio e sequestro. Caso seja eleito deputado, segundo o site Animal Político, o foro do cargo público o protegeria de uma nova detenção

O procurador de Justiça de Michoacán, Martín Godoy, revelou que Hipólito ainda tem duas acusações pendentes por homicídio e sequestro

Esse homem prestes a completar 60 anos perdeu muito pelo caminho. Nessa troca de tiros da qual participou morreu um de seus filhos, Manuel. Durante a campanha temeu que também fosse assassinado. “Querem me matar”, declarou ao jornal A Voz de Michoacán. Diz que como representante de seu partido, de esquerda, não será um deputado “acomodado” e que trabalhará “para o povo” pelo caminho pacífico. Uma declaração de intenções de um senhor acostumado a acariciar o cano de uma escopeta.

Mora demonstrou ter olfato político e capacidade de negociação. Outro dos líderes milicianos, José Manuel Mireles, alguém com até mais carisma do que Mora, não obedeceu às exigências do Governo de abandonar as armas e acabou preso. Alguns partidos políticos, conscientes de seu magnetismo, gostariam de contar com ele em suas fileiras, mas nunca foi liberado e não pôde concorrer às eleições. Na época, Hipólito já havia dado um passo atrás que lhe permitiu continuar vivo. Poucas vezes alguém de fora movimentou-se tão bem dentro do sistema.

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