Tsipras urge seus negociadores a fechar os temas pendentes com a UE
Além do fantasma da saída do euro, está em jogo uma injeção de 7,2 bilhões de euros
Quase 3.000 servidores públicos a menos que em dezembro, 880 milhões de euros (3 bilhões de reais) abaixo do previsto em receita, leis que demoram dias para serem votadas e cuja aprovação, quando acontece, é feita aos tropeços, como a que confirmou, na segunda-feira, a nova diretoria da renovada televisão pública. As dificuldades de Alexis Tsipras à frente do Governo da Grécia ficam evidentes diariamente, pela premente falta de liquidez —é uma incógnita se conseguirão devolver ao FMI 300 milhões nos dia 5, o primeiro desembolso de junho à entidade— e por um acordo com os parceiros para desbloquear o último lance do resgate que não chega nunca.
Cláusulas contra a quebra
O medo da insolvência grega transparece de diferentes maneiras: da retirada maciça de depósitos à cláusula de default (quebra) que alguns operadores turísticos estrangeiros começaram a aplicar a seus pacotes na Grécia. Derivada de outras similares como as que contemplam catástrofes naturais ou atentados —contingências menos previsíveis que o denominado Grexit—, grandes agências impõem aos empresários gregos do ramo esta salvaguarda para não ter de compensar os hotéis ou outros serviços contraídos em caso de saída do euro e, portanto, de cancelamento da viagem.
Segundo o jornal Kathimerini, já teria recorrido a ela um organizador de eventos que planeja celebrar uma conferência internacional em junho, obrigando o hotel que sediará o fórum a assumir essa condição.
Não é o primeiro contratempo para o turismo. Em fevereiro, depois da vitória eleitoral do Syriza e a mudança de política para os parceiros, o gigante turístico alemão Tui anunciou o cancelamento de numerosos pacotes fechados meses antes. A Tui tem uma notória presença no turismo grego, o único setor que parece driblar a crise com folga.
Em uma guinada para acelerar o pacto, o primeiro-ministro convocou nesta terça-feira uma reunião de emergência da equipe negociadora, que, segundo fontes próximas ao processo, teria recebido ordens de fechar todas as pendências, que são muitas —e quatro especialmente difíceis, as linhas vermelhas: aumento do IVA, reforma das aposentadorias e do mercado trabalhista e o objetivo de superávit primário. Sobre a mesa de negociações, Tsipras sente a pressão da facção mais radical do Syriza, que exige uma ruptura com os credores e, eventualmente, uma saída do euro, e cuja correlação de forças com a maioria liderada pelo primeiro-ministro não é pequena: a proposta de confrontação obteve 75 votos na reunião do comitê central do partido neste fim de semana, frente aos 95 da maioria negociadora de Tsipras.
Além do fantasma do Grexit, está em jogo, principalmente, uma injeção vital de liquidez (7,2 bilhões de euros do segundo resgate) para os cofres gregos, de que depende o cumprimento das obrigações com o Fundo (precisa devolver 1,6 bilhão de euros em junho), e os pagamentos a aposentados e servidores; ou seja, o próprio funcionamento do Estado. Por isso o Governo, e o Syriza, formularam nos últimos dias uma dicotomia extrema: o FMI ou as aposentadorias, uma proposta que, segundo disse na terça-feira um membro do partido eleito para um cargo regional que prefere manter o anonimato, poderia constituir mais uma moeda de troca na negociação do que uma alternativa real.
A versão desta terça-feira a esse respeito era mais conciliadora (haverá para todos, disse o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis; para o FMI e para aposentados e funcionários), sinal para alguns de que o acordo é iminente e, para outros, das contradições em que incorre o Gabinete, dessa cacofonia que deixa bastante confusos —e fartos— os parceiros. Basta um único exemplo: a proposta de grava o saque de dinheiro de caixas formulada por Varoufakis na terça-feira para incentivar o uso de cartões (e controlar a fraude) foi desmentida por Tsipras horas depois.
O teórico —e suposto— alívio de poder pagar tanto ao FMI, como as aposentadorias não serviu para acalmar os rumores de um provável corralito no fim de semana, de três dias (na segunda-feira é feriado), ou a inquietação de alguns operadores de turismo, que já instrumentam uma inédita cláusula de insolvência em seus contratos. “Corralito? Mas se já não há nada para levar!”, protesta o empresário Yanis Papas, dono de vários restaurantes em Atenas. “Por isso não existe sensação de pânico ou abismo, porque as pessoas, quando muito, têm 1.000 ou 2.000 euros na conta. Os que tinham dinheiro já tiraram”, conta, em referência aos quase 30 bilhões que saíram do país desde dezembro. Alguns optam por uma via intermediária, como várias empresas, entre elas redes de supermercados, que transferem seus ganhos diariamente para a Bulgária, para reexpedi-los de volta no dia seguinte, e assim sucessivamente. Planos de contingência para o temido Grexit.
Para evitar a insolvência, o Governo prevê centralizar todos os recursos de reserva de empresas públicas (salvo as caixas de aposentadorias), entidades locais e até embaixadas, que na semana passada receberam a ordem de transferir todo o dinheiro disponível ao banco central; no total, 1.039 contas de titularidade pública que deverão ter sido remetidas antes de 5 de junho. Dos 542 prefeitos do país, só dois se negaram a fazê-lo, e um deles, Yorgos Kaminis, de Atenas, chegou a formular uma queixa pela suposta inconstitucionalidade da medida, que poderia paralisar o funcionamento da cidade —muito castigada pela crise, mas de pé— e todos seus programas sociais.
Dois membros da equipe negociadora contatados por este jornal na terça-feira recusaram-se a fazer comentários. Uma conselheira explicou: “Não faremos declarações por estarmos na fase final, e enquanto o acordo não for fechado”. Está previsto para esta quarta-feira o início dos pagamentos das aposentadorias e dos salários públicos de maio. “Todas essas declarações fazem muito barulho, o próprio Varoufakis diz uma coisa e o contrário… É um jogo muito perigoso para todos”, considera Nikos Konstandaras, diretor da versão inglesa do jornal conservador Kathimerini. “Com as atuais cartas sobre a mesa, parece-me impossível que se chegue a um acordo. As duas partes, Grécia e os credores, mal se aproximaram, e no seio do Syriza há uma ampla brecha que não pôde ser fechada. Não vejo nada fácil, embora espere que possa ser firmado. A renda caiu e o Estado funciona com muitos problemas, deve dinheiro a fornecedores… Os problemas são ainda maiores que em dezembro, e isso não tem nada a ver com as instituições”.
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