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Promotoria alemã investiga se o serviço secreto espionou para os EUA

Segundo o site 'Spiegel Online', BND deu informações à NSA sobre políticos europeus

A chanceler Angela Merkel, nesta sexta-feira.
A chanceler Angela Merkel, nesta sexta-feira.BRITTA PEDERSEN (EFE)

O famoso e polêmico serviço federal de inteligência da Alemanha (BND na sigla em alemão) tem desde quinta-feira um problema que pode tirar do cargo seu presidente, Gerhard Schindel, e submeter a perguntas incômodas a chancelaria do país, para as quais, por enquanto, não há resposta. Nesse dia, o site Spiegel Online revelou que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) fez durante anos um bem-sucedido trabalho de vigilância e espionagem na Europa graças ao decidido apoio de seus colegas alemães do BND. A promotoria alemã já investiga o caso.

O novo escândalo, que está provocando furor em Berlim, começou quando os técnicos da NSA, possivelmente há 10 anos, entregaram a seus colegas do BND os chamados “seletores”, uma ferramenta de informática que inclui números de telefones celulares, endereços IP de conexões e endereços de e-mail, permitindo ao BND espionar políticos e empresas europeias. As informações obtidas pela espionagem alemã foram entregues às NSA.

Segundo informações dos jornais alemães, os agentes do BND encarregados de fazer o trabalho sujo para a NSA perceberam em 2008 que os “seletores” tinham sido projetados para realizar um trabalho de vigilância e espionagem que não era permitido pela legislação que regulamenta o trabalho do serviço alemão nem pelos acordos assinados entre Berlim e Washington para regulamentar a luta contra o terrorismo internacional. Em vez de informar à chancelaria, o BND continuou a colaborar com a NSA.

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Quando estourou na Europa em 2013 o escândalo de espionagem protagonizado pela NSA, o BND fez uma investigação interna e descobriu que pelo menos 2.000 seletores violavam os interesses alemães e europeus. A verdadeira dimensão do escândalo foi revelada graças a um requerimento dos Verdes e do partido A Esquerda, cujos representantes apresentaram novas provas a uma comissão parlamentar que continua a investigar o escândalo da NSA.

Um grupo de trabalho do BND voltou a revisar o trabalho executado e descobriu que cerca de 40.000 seletores tinham sido usados para espionar políticos e empresas europeias, revelação que obrigou o BND a fazer um relato à chancelaria em março. A revelação feita pelo Spiegel Online obrigou o titular da chancelaria, Peter Altmeier, responsável pela coordenação e vigilância do trabalho dos serviços de inteligência do país, a informar à comissão parlamentar o novo escândalo.

Durante uma tumultuada reunião da comissão parlamentar realizada na própria quinta-feira, vários deputados acusaram o BND de ter feito a espionagem pelas costas do Governo e exigiram a imediata destituição do presidente do serviço, Gerhard Schindler. “Existe a possibilidade de que tenha sido cometido o crime de traição da pátria”, afirmou o deputado do partido A Esquerda, André Hahn, ao passo que seu colega da CDU (democracia cristã) Clemens Binniger admitiu que as acusações “eram muito graves”.

O novo escândalo obrigou a chanceler Angela Merkel a se envolver. Ela fez saber, por meio de seu porta-voz, Steffen Seibert, que o Governo exigiu do BND uma explicação rápida sobre o caso. “No marco da supervisão técnica e administrativa, a chancelaria identificou sérias deficiências técnicas e organizacionais do BND”, ressaltou o porta-voz num comunicado. “A chancelaria deu instruções para que essas deficiências sejam imediatamente corrigidas.”

Mas nesta sexta-feira o porta-voz se negou a dar detalhes sobre o escândalo e também não quis se referir à possibilidade de que o presidente do BND seja obrigado a renunciar ao cargo, como exige a oposição. “O escândalo não afeta apenas o BND, mas também evidencia a falta de controle que a chancelaria tem sobre os serviços de inteligência”, denunciou o deputado verde Hans-Christian Ströbele.

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