No cinema, a Bolívia que você acredita conhecer
A primeira mostra carioca de filmes bolivianos reúne 18 títulos do país vizinho, tão próximo mas do qual sabemos tão pouco
Crianças de bochechas queimadas, mulheres indígenas de saias rodadas e tranças, lhamas povoando altas montanhas e outros: são inúmeros os clichês sobre a Bolívia. O cinema boliviano sabe disso, e em 2007 produziu um filme chamado Quién mató a la llamita blanca?, meio cult meio B, que faz uma divertida sátira a esse respeito. Protagonizado por um casal tipicamente boliviano de foras da lei, ao melhor estilo Bonnie & Clide, o longa faz parte da primeira mostra de cinema da Bolívia já realizada no Rio de Janeiro.
O ciclo, que conta com 18 títulos de ficção e documentários, clássicos e contemporâneos, acontece na CAIXA Cultural até 3 de maio.
Não faltam, em versões restauradas, Vuelve Sebastiana (1953), um dos filmes seminais do cinema boliviano e latino-americano, dirigido por Jorge Ruiz e Augusto Roca, e Ukamau (1966), o primeiro filme falado em uma das línguas indígenas faladas oficialmente na Bolívia, o aimará, e a principal obra de Jorge Sanjinés – o mais reconhecido cineasta do país. Dele, foi selecionado também Insurgentes (2012), sua produção mais recente.
Entre as novidades dos últimos anos, aparecem Dependência sexual (2003), instigante obra pop de Rodrigo Bellott que foi sucesso de público e crítica, e Zona Sul (2009), de Juan Carlos Valdívia, que conquistou prêmios internacionais revelando a classe alta de La Paz.
Jaiê Saavedra, responsável pela curadoria da mostra, ressalta sua relevância para o público brasileiro, até pouco tempo carente da presença do cinema latino-americano em salas e inclusive em lojas de DVDs, e ainda muito distante das realidades vizinhas – apesar da migração boliviana ser uma das mais expressivas no país nos últimos anos. “Buscamos exibir e discutir a linguagem de resistência estabelecida pelo grupo Ukamau e por Sanjinés, a sensibilidade social de Paolo Agazzi, a potência de Rodrigo Bellot e as visões únicas e peculiares trazidas nos últimos dez anos por tantos outros realizadores da mais recente onda do cinema boliviano, composta por filmes que até hoje pouco foram vistos no Brasil”, explica o curador.
As entradas têm preços simbólicos, e a programação envolve debates como o do próximo dia 20 de abril, em que especialistas discutem a história do cinema boliviano e sua influência no cinema do Brasil – e vice-versa. Programa perfeito para combater a tentação tão humana de alimentar os clichês com uma boa dose de repertório cultural.
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