BC admite estouro da meta de inflação pela primeira vez em 12 anos
Relatório do BC mostra projeção de alta de 7,9% em 2015, acima do teto de 6,5%.

Pela primeira vez, o Banco Central admitiu que a inflação deste ano deve estourar o teto da meta inflacionária, de 6,5%, e deve chegar a quase 8% até dezembro. Esta é a primeira vez em 12 anos que o BC admite o estouro. O Governo já vinha dando pistas de que reconhecia a alta de preços acima da meta, mas num patamar menor. Nesta semana, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, tratou do assunto como algo passageiro. “O aumento da inflação está sendo percebido como temporário, fruto do realinhamento de preços. Vamos trazê-la para baixo o mais rapidamente do que o mercado esperava no fim do ano passado, mas não tão rapidamente quanto gostaríamos”, declarou Barbosa, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
O BC, porém, alinhou-se à percepção do mercado financeiro, que nesta semana cravou numa alta de 8%, segundo a pesquisa Focus, que reúne a avaliação de mais de 100 instituições financeiras. De acordo com o relatório do BC, o ajuste de preços de tarifas (luz, tarifa de ônibus e gasolina, por exemplo) e a alta do dólar (preços relativos) empurrou para cima a inflação no primeiro trimestre deste ano. Desta maneira, a projeção foi revista de 6% para 7,9% em 2015. A instituição prevê uma melhora do quadro em 2016. A projeção para o ano que vem foi revisada de 5% para 4,9%, mais próxima do centro da meta, de 4,5%.
"O Banco Central não tinha mais como ocultar o que todos já sabíamos. As pessoas estão sentindo em diversos ramos de negócios que a economia desacelerou, que a inflação aumentou e que o poder de compra caiu", explica Virene Matesco professora da FGV.
Segundo a especialista, os preços administrados, como a gasolina, tarifas de luz e ônibus, pressionam fortemente a inflação em 2015, assim como a alta do dólar. Além disso, o índice é puxado pelos preços dos serviços - que vão de manicure, lavanderias, a prestadores de serviço em geral - e do comércio. Virene alerta que a dobradinha recessão e inflação, conhecida como estagflação, é preocupante para a economia.
"O Brasil fica no pior dos mundos. Não consegue crescer e a inflação não cai. A pior consequência é para os níveis de investimentos produtivos. Quando as empresas deixam de investir, você compromete o futuro e já estamos comprometendo o ano de 2016", afirma.
A inflação medida pelo IPCA tem ultrapassado a meta de 4,5% desde 2010, mas vinha se mantendo abaixo do teto estabelecido na legislação que conta com uma tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Caso a inflação fique mais alta do que o teto, o presidente do Banco Central precisará escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, explicando as razões que motivaram o "estouro" da meta. A última vez em que isso ocorreu foi em 2003, ou seja, há 12 anos, e o documento foi assinado pelo então presidente do BC na época, Henrique Meirelles.
Atividade em baixa
A instituição também prevê uma retração na economia para 2015 de 0,5%. Os dados foram divulgados pelo BC, nesta quinta-feira, em seu relatório de inflação do primeiro trimestre.
Em 2014, a estimativa da instituição é que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha recuado 0,1%, diferentemente da projeção de dezembro, que previa alta de 0,2% do ano passado. O dado oficial será divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE. Com as novas projeções, a possibilidade de uma recessão técnica na economia brasileira – que se caracteriza por dois trimestres seguidos de queda no crescimento, aumenta, segundo especialistas.
Desemprego
O Governo tem injetado doses de juros altos para ajudar a encarecer o crédito e atenuar o impulso pelo consumo. O efeito colateral dessa dosagem, entretanto, é a desaceleração da economia, que já provoca também efeitos no mercado de trabalho. A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas do país subiu pelo segundo mês seguido e atingiu 5,9% em fevereiro, maior nível desde junho de 2013, com aumento da procura de trabalho associada à dispensa de trabalhadores. Os dados são da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE.
Com um mercado de trabalho menos aquecido, o rendimento médio real dos trabalhadores também caiu: 1,4% frente a janeiro e 0,5% em relação a fevereiro de 2014, para 2.163,20 reais, segundo o IBGE.
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