“Nos últimos tempos o bolso está gritando muito mais”
Costureira, Juciara se queixa da conta de luz mais cara. Inflação castiga mais os pobres
Moradora da Favela Real Parque, na zona oeste de São Paulo, a costureira Juciara Santos, de 48 anos, viu a conta de luz passar de 80 reais para 130 no último mês. Ela não quer nem calcular o quanto esse valor vai subir em abril com os novos ajustes que passaram a ser aplicados, na semana passada, na tarifa de energia elétrica. “Eu dependo de energia para tudo, inclusive para o meu trabalho”, explica.
Juciara tem uma pequena oficina em casa com seis máquinas de costura. Já pensava em comprar a sétima, mas se sentiu obrigada a deixar os planos para depois. “Nos últimos tempos o bolso está gritando muito mais. Está tudo mais caro. Esses 50 reais fazem muita diferença no fim do mês. Vou ter que começar a negociar o preço do meu serviço”, explica a costureira que não tem uma renda fixa. Ela depende da produção, que em um bom mês pode render até 3 salários mínimos.
A costureira não está sozinha, segundo pesquisa do instituto Data Favela, os moradores de favela já estão preocupados com a alta dos preços dos produtos e com a dificuldade para pagar as contas. A cada 10 moradores, 8 têm medo da inflação e faz da pesquisa de preços a principal arma da economia doméstica. Já para 53% está difícil pagar as contas.
O temor ao fantasma da inflação tem explicação.O aumento dos preços registrados no Brasil, no mês passado, ficou em 1,22%, puxado principalmente pela alta dos impostos que incidem sobre a gasolina (PIS/Cofins). Considerando o período de 12 meses ( de março de 2014 a fevereiro de 2015), a inflação acumulada é de 7,6%, a maior desde 2005 e longe da meta estimulada pelo Governo de 4,5%.
O IBGE já avalia que o novo reajuste das tarifas de energia elétrica de diversas concessionárias do país e o aumento na taxa extra das bandeiras tarifárias, cobrada nas contas de luz quando há aumento no custo de produção de energia, devem ser o próximo vilão da inflação oficial do país em março.
Na opinião do professor de economia Heron do Carmo, não apenas os moradores da favela, mas toda a classe de baixa renda sentirá mais a inflação, uma vez que a remuneração não acompanha essa alta. "Muitos deles são autônomos, dependem de uma demanda do mercado que estará cada vez mais enfraquecida. E, proporcionalmente, o valor dessas tarifas os penaliza mais", explica.
O fato da maioria das altas incidirem em bens não suprimíveis também dificulta que os gastos sejam cortados, explica Adriana Molinari da Tendências. "Você necessita, não consegue trocar e, consequentemente, a renda disponível da família diminui, afetando o consumo e contendo a demanda, em um cenário que já há retração no mercado de trabalho".
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