Partido de Sarkozy freia Le Pen em eleições locais
A UMP vence o primeiro turno com 29,4% dos votos, à frente da FN e dos socialistas


A União por um Movimento Popular (UMP) e seus aliados de centro conseguiram frear o avanço da extrema direita na França. No domingo, o partido de Nicolas Sarkozy foi o mais votado no primeiro turno das eleições departamentais, com 29,4% dos votos. Com isso, impede que a Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen, que conseguiu 25,1%, se estabeleça como a primeira força do país, depois de ter ganhado as eleições europeias no ano passado. Os socialistas e seus aliados evitaram o colapso anunciado pelas pesquisas, já que conseguiram 21,8% dos votos, e o fracasso foi menor do que o esperado.
“A extrema direita não é a primeira força política da França e fico contente por isso”, afirmou solenemente o primeiro-ministro Manuel Valls, minutos depois do fechamento da urnas. Sarkozy também demonstrou satisfação por ter contido o avanço da extrema direita, à qual as pesquisas dos últimos meses indicavam a vitória nas eleições. O ex-presidente acrescentou que seu partido não firmará nenhum acordo nem no âmbito “local nem nacional” com a FN. Mas também afirmou que aconselhará os eleitores para que não votem nem no Partido Socialista nem na extrema direita.
O triunfo de Sarkozy, o maior de seu partido nesse tipo de eleições, reforça sua liderança. São as primeiras eleições depois que o ex-presidente assumiu o comando do partido, no fim do ano passado. Sarkozy afirmou no domingo à noite que o resultado das eleições demonstra o “desejo dos franceses de uma clara mudança no poder”. Agora, disse, “apresentam-se as condições para essa enorme mudança” nos departamentos.
Para evitar isso, Valls convocou todas as forças de esquerda a se unirem no segundo turno das eleições, que serão realizadas no próximo domingo. A mobilização dos eleitores beneficiou os socialistas — o comparecimento às urnas foi de apenas 51%, mas nove pontos acima do previsto —, mas a presença de diferentes candidaturas de esquerda, como dos comunistas e dos verdes, foi um fator negativo. Se toda a esquerda estivesse unida, teria alcançado cerca de 37% dos votos.
Os franceses optaram por passar do tradicional sistema político bipartidário a outro tripolar
Valls fez um apelo à “mobilização” para evitar que a extrema direita consiga um bom resultado no segundo turno. “Convoco todos os republicanos para que enfrentem a extrema direita”, para que “votem em um candidato republicano”, ou seja, qualquer um, menos na FN.
Apesar do freio ao avanço da extrema direita, os resultados demonstram que o novo mapa político francês é tripolar, radicalmente diferente do bipartidarismo que tem dominado o país nos últimos 50 anos. O terremoto que abalou a França em maio de 2014, quando a FN foi o partido mais votado nas eleições europeias (25% dos votos), ainda está em ação. O partido de Marine Le Pen mostrou que conseguiu uma ampla base em todo território. Ao mesmo tempo, também deixa claro que atingiu o pico da crescente onda de apoio dos cidadãos.
A campanha de Le Pen foi financiada por um banco russo, com um empréstimo de nove milhões de euros (31,5 milhões de reais) — os bancos franceses não concedem empréstimos ao partido—. A líder de extrema direita mostrou-se muito satisfeita, apesar da “violenta campanha” que disse ter sofrido e acrescentou que no próximo domingo seus simpatizantes irão escrever “uma nova página para levar ao poder uma nova geração”.
Em entrevista a este jornal na última sexta-feira, o coordenador de sua campanha e secretário-geral do partido, Nicolas Bay, de 37 anos, comentava em seu escritório: “Um dia podemos ganhar o Eliseu. A primeira medida que tomaríamos seria renegociar o Tratado europeu. O atual nos impede de proteger nossas fronteiras frente à concorrência, aos fluxos migratórios, nacionalizar um setor estratégico... Queremos uma Europa baseada em Estados-nação que cooperem de forma soberana”.