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Eu também quero uma casa em Miami

Insatisfeitos com a crise e a política, sobe o número de brasileiros que sondam a cidade para encontrar um imóvel. No entanto, na hora H, são poucos o que realmente se vão

Brasil foi o terceiro maior comprador internacional de imóveis em Miami.
Brasil foi o terceiro maior comprador internacional de imóveis em Miami.Divulgação

Insatisfeitos com o rumo da economia brasileira e com a política petista, não foram poucos os brasileiros que, no calor da emoção da disputa eleitoral, ameaçaram fugir do país caso a presidenta Dilma Rousseff fosse reeleita em outubro do ano passado. Diferentemente do cantor Lobão que fez alarde sobre sua intenção de ir embora do país, mas depois voltou atrás, um número expressivo de brasileiros de classe média e alta que levaram a sério a vontade de se mudar daqui começaram a procurar informações para auxiliar na mudança. A busca sobre vistos e imóveis nos EUA aumentou nos últimos meses, especialmente em Miami, no Estado da Flórida, de acordo com especialistas do ramo.

“Percebemos um aumento muito significativo no número de pessoas nos procurando para auxiliá-los com questões sobre imigração, compra de imóveis, aparentemente desmotivados com a perspectiva do Brasil”, explica Luciana Puggina da FL Alliance Group, que faz consultoria imobiliária e jurídica para quem quer morar nos EUA. “Na área de consultoria, o volume da procura chegou a dobrar nos últimos meses do ano passado e depois aumentou 40% depois das eleições”, afirma.

O corretor Cristiano Piquet, dono da Piquet Realty, umas das maiores empresas de venda de imóveis para brasileiros,  observa que realmente o “apetite” por imóveis na Flórida continua grande, mesmo com a alta do dólar. “Surpreendentemente, as vendas em janeiro e fevereiro já foram superiores a 2014. Há um movimento grande de brasileiros comprando terrenos aqui e buscando oportunidades de investimentos nos EUA”, explica.

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A advogada paulista Paula Pereira faz parte do grupo que já está pesquisando opções de imóveis em Miami e Orlando. Ela pretende se mudar com o marido e as duas filhas gêmeas o quanto antes para algum dos dois destinos da Flórida, no sul dos Estados Unidos. “A maneira que estão sendo conduzidas a política e a economia do nosso país me incentiva a sair do Brasil e, também, a própria qualidade de vida. Quero proporcionar uma educação mais qualificada aos meus filhos, além de uma vida mais segura”, explica.

Em um primeiro momento, a ideia da advogada é ir revezando o local onde vai morar: alguns meses nos EUA e outros no Brasil. “É bom para toda a família ir se adaptando, mas, no máximo em dois anos, já quero estar morando no exterior de forma definitiva”, afirma. Para isso, Paula pensa em abrir uma franquia e conseguir um visto de investidora.

Segundo a Miami Realtor Association, no ano de 2014, o Brasil foi o terceiro maior comprador internacional de imóveis em Miami, representando 8% do total, somente atrás dos venezuelanos e argentinos. Os brasileiros são atraídos pelos investimentos, pelo clima ensolarado da cidade, pelas belas praias, os altos índices de qualidade de vida e segurança.

No entanto, de acordo com o corretor Cristiano Piquet, o número de pessoas que realmente se mudaram ainda não é tão expressivo. “O que realmente subiu foi a quantidade de brasileiros sondando a possibilidade de viver nos EUA e que investem em imóveis comerciais para aluguel”. Piquet ressalta que entre a vontade de se mudar para Miami e a concretização do sonho há alguns obstáculos e um dos principais é a obtenção do green card.

Atualmente, um dos caminhos mais procurados para conseguir um visto para residência fixa tem sido o programa de investimento EB5, que assegura o green card para quem investir em negócios com potencial para geração de emprego nos EUA. O aporte mínimo é de 500.000 dólares para a geração de pelo menos 10 empregos em território norte-americano.

“Em troca, recebe de forma legal, o green card provisório, e depois o permanente em até 24 meses, com o direito de estender o benefício da residência fixa ao cônjuge o a filhos de até 21 anos. É uma forma de emigrar de forma segura e legal”, afirma Ilka Komatsu gerente da LCR Partner, que assessora interessados no EB5 no Brasil.

Sobe adesão ao programa de investimento

No ano passado, foram cerca de 30 brasileiros com visto através do EB-5, contra apenas 11 em 2013. Levantamento feito pela LCR identificou que as pesquisas feitas na internet sobre o programa do Governo norte-americano cresceram de 200 por mês em janeiro de 2014 para cerca de 350 em dezembro do mesmo ano, sendo em que novembro, logo após as eleições, alcançaram quase 600. “Acreditamos que o número de brasileiros este ano será de 150. A maioria quer proporcionar uma educação melhor aos filhos e querem melhores oportunidades para eles mesmos”, afirma Ilka.

Daniel Rosenthal, diretor do Investir USA Expo, uma feira que reúne especialistas do segmento imobiliário norte-americano, afirma que, as palestras mais cheias do evento são as que explicam a obtenção do EB5. “Desde o ano passado, começamos a perceber que as pessoas comparecem ao evento porque querem morar nos EUA, não almejam apenas investir no país. Há uma insatisfação generalizada, uma falta de perspectiva no Brasil a curto e longo prazo”, explica.

Ainda segundo Rosenthal, é importante ressaltar que a compra de imóveis não é válida para conseguir um greencard através do EB5. “Investir em ter um imóvel de locação, é um bom negócio, para alugar para os próprios americanos que perderam credito com a última crise. E você investe em uma economia forte, protegida e em crescimento. Mas não é um caminho de conseguir o visto”, afirma.

 

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