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Recriação do PL deve aumentar ainda mais a base do Governo Dilma

Mais da metade dos 30 parlamentares que a legenda calcula atrair são da oposição Pedido de registro ao TSE será entregue depois do Carnaval

R. B.
Deputados votam MP dos Portos, em maio de 2013.
Deputados votam MP dos Portos, em maio de 2013.Luis Macedo (Câmara dos Deputados)

"Se não pode vencê-los, junte-se a eles", seria uma bom lema para a política brasileira. A expressiva base aliada do Governo Dilma Rousseff no Congresso Nacional pode não ser muito unida ou fiel, mas não para de crescer. Extinto em 2006 para dar origem ao Partido da República (PR), o Partido Liberal (PL) tenta retornar neste ano para reforçar as trincheiras governistas e o presidente de seu diretório nacional, Cleovan Siqueira, estima que metade dos 30 parlamentares que a legenda calcula atrair fazem parte atualmente da bancada de oposição. "E são eles que estão nos procurando", disse Siqueira ao EL PAÍS, acrescentando que, se conseguir o registro, o partido volta a existir como parte da base do Governo por agradecimento e lealdade ao ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que tem trabalhado pela recriação do PL.

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O Partido Liberal, que já tem nove diretórios estaduais e cujo pedido de registro será apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após o Carnaval, deve ser a terceira legenda governista criada nos anos de Governo Dilma, e a segunda capitaneada por Kassab. Enquanto os Governos europeus buscam sair da crise em meio a debates ideológicos polarizados entre a defesa da austeridade, protagonizada pela chanceler alemã, Angela Merkel, e a ascensão de partidos de esquerda como o grego Syriza e o espanhol Podemos, a regra no Brasil ainda parece ser o poder em primeiro lugar.

Em 2011, o ex-prefeito de São Paulo pelo Democratas criou o PSD, que transformou automaticamente 11 deputados de oposição e uma senadora — a hoje também ministra (da Agricultura) Katia Abreu, que migraria meses depois para o PMDB — em governistas, ainda que sob o autoclassificação de "independentes". Dois anos depois, o também governista Partido Republicano da Ordem Social (Pros) surgia para abrigar cinco deputados do PSB, que se preparava para deixar a base do Governo em nome do projeto alternativo de Eduardo Campos, morto em acidente durante a campanha presidencial de 2014.

Ranking do "governismo"

O Brasil tem 32 partidos políticos atualmente, e mesmo os maiores rivais, como PT e PSDB, conseguem se entender em nível estadual. Inimigos mortais na Esplanada dos Ministérios, tucanos e petistas compõem a base aliada do governador Paulo Hartung, no Espírito Santo.

Se os dois principais polos da política nacional não se importam em partilhar o mesmo Governo, que dirá os outros partidos. Veja abaixo o ranking do "governismo" no Brasil, que leva em conta a quantidade de Governos (estaduais e federal), comandados partidos como PMDB, PCdoB e PP, apoiados por cada legenda:

PSD - 20

PDT - 19

PTB - 17

PROS - 16

PSDB e PP - 15

PMDB - 14

PR, PV, PSB, PHS - 14

PT, DEM, Solidariedade - 12

PRB, PEN, PPS, PSL, PRP - 11

PCdoB, PSDC, PTdoB - 10

PSC - 9

PRTB, PTC - 8

PMN - 7

PTN, PPL - 6

O cientista político Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, diz que o governismo é um fenômeno recorrente na história da política brasileira, mas que mudou de figura depois que a legislação passou a impedir que o parlamentar que troca de partido permaneça no cargo, em 2007.

“É um processo recorrente, mas a característica é diferente em função da legislação. O Kassab criou o PSD para aderir [ao Governo federal] e terminou tendo uma retribuição importante, virou ministro. Isso mostra a fragilidade do sistema político eleitoral brasileiro. Os partidos se configuram como legendas que não têm conteúdo, nem em função de ideologia nem de programa de Governo”, diz Barreto.

O governismo típico da política brasileira fica ainda mais claro quando se analisa as alianças estaduais dos partidos políticos no Brasil. O PSD faz parte de mais da metade (19) dos 27 governos nos Estados, desde o Governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, até o de Fernando Pimentel (PT), em Minas Gerais, ao qual o partido aderiu depois de ter apoiado o oposicionista tucano Pimenta da Veiga durante a campanha. No ranking do "governismo" (veja o levantamento feito pelo EL PAÍS ao lado), o PDT aparece em segundo lugar, com 18 Governos estaduais apoiados, além do Governo federal — o partido mudou de lado no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul depois de compor chapas derrotadas.

A prometida reforma política, que ganhou força após os protestos de junho de 2013, poderia corrigir o comportamento de legendas erráticas, que mudam de Governo ao sabor do poder, diz Túlio Barreto, mas as alterações levam tempo e dependem de vontade política, alerta o pesquisador. "A discussão sobre a reforma é cíclica. Retorna sempre que há uma nova legislatura ou certa crise, do tipo [da decorrente dos protestos] de junho de 2013. Mas a última mudança significativa para a política brasileira foi a lei da Ficha Limpa, uma iniciativa que partiu da sociedade civil. Os políticos brasileiros estão em um posição muito confortável e, por isso, a ideia da iniciativa popular nesse âmbito é fundamental", defende.

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