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Caso Alberto Nisman

Polícia suspende três agentes que faziam a segurança de Alberto Nisman

Dois deles demoraram 11 horas para avisar que o promotor não atendia ao telefone O terceiro guarda-costas suspenso o assessorou na compra de uma arma de fogo

F. P.
A promotora Viviana Fein, encarregada de investigar a morte de Alberto Nisman.
A promotora Viviana Fein, encarregada de investigar a morte de Alberto Nisman.STR (AFP)

A investigação sobre a morte do promotor Alberto Nisman, quatro dias depois de denunciar a presidenta Cristina Kirchner por encobrimento de terroristas, continua se deparando com novidades. Na última terça-feira foram suspensos provisoriamente da Polícia Federal dois dos dez policiais encarregados da segurança do promotor e, na quarta-feira, foi suspenso um terceiro agente de forma temporária. Os dois agentes suspensos na terça são o sub-oficial Armando Niz e o sargento Luis Miño. Ambos declararam ter chegado à casa de Nisman às 11h de domingo, 19 de janeiro. No entanto, só informaram seus superiores do ocorrido quase 12 horas depois, às 22h40, quando já se encontravam na residência a mãe do promotor e o juiz encarregado de investigar a ocorrência.

Os três agentes passaram para o regime de “disponibilidade preventiva”, ou seja, foram punidos com uma sanção administrativa mediante a qual são suspensos de seus cargos e proibidos de portar armas até que a Superintendência de Assuntos Internos se pronuncie.

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Niz e Miño além disso, entraram em contradição. Coincidem em declarar que chegaram à casa do promotor às 11h domingo, tal como Nisman tinha pedido a eles. Mas, em suas declarações à promotora Viviana Fein, divergem sobre o momento em que dizem ter subido para bater à porta do apartamento, uma vez que o promotor não respondia ao telefone. Niz assegura que subiram entre 14h e 14h30 e Miño sustenta que foi às 17h. Além disso, Miño declarou que permaneceram com o carro estacionado no subsolo do edifício, onde não havia cobertura telefônica. E Niz afirma que se encontravam no chamado “estacionamento de cortesia”, onde podiam receber chamadas. Em qualquer caso, ficaram mais de 11 horas sem informar seus superiores.

Já Rubén Benítez, o policial afastado na quarta-feira, é o que trabalhava havia mais tempo na escolta do promotor e em quem Nisman mais confiava. A imprensa argentina revelou que o promotor convidou Benítez a entrar em seu apartamento no sábado de manhã, horas antes de sua morte. O promotor lhe disse que queria comprar um revólver e perguntou questões práticas como a marca, o calibre e o lugar onde poderia conseguir a arma. A intenção de Nisman, segundo o testemunho de Benítez, era ter a pistola consigo quando saísse com sua filha.

Por outra parte, o último homem que supostamente viu Nisman vivo, o técnico em informática Diego Lagomarsino, contratou o advogado criminalista Maximiliano Rusconi, que já defendeu o ex-presidente Carlos Menen em outro caso. Lagomarsino se viu de repente no centro do furacão desencadeado pela morte de Nisman na Argentina. Na segunda-feira foi imputado no caso por ter emprestado ao promotor a arma de onde saiu a bala que o matou. O empréstimo de arma na Argentina é punível com um a seis anos de prisão. Além disso, a presidenta pôs o foco sobre ele ao mencioná-lo tanto em suas mensagens do Facebook, como em seu pronunciamento na televisão na segunda-feira.

A juíza encarregada ordenou que sejam investigados o trajeto entre a casa do promotor morto e a do técnico de informática Diego Lagomarsino

A presidenta aludiu a várias mensagens grosseiras que Lagomarsino tinha em sua conta de Twitter onde criticava Cristina Kirchner e seu Governo. Além disso, chegou a utilizar quatro vezes a palavra íntimo para referir-se à confiança e à amizade que uniam Nisman e Lagomarsino. “Não é apenas um feroz opositor e tem todo o direito de sê-lo”, declarou a presidenta, “mas além disso é irmão de um importante executivo do estúdio Saenz Valente, sócio do Grupo Clarín”. O Grupo desmentiu a presidenta com um comunicado onde assegurava que o irmão de Lagomarsino “jamais trabalhou, nem tem qualquer vínculo com o Grupo Clarín”.

O advogado do técnico em informática, Maximiliano Rusconi, declarou na quarta-feira: “Vou sugerir que Cristina Kirchner e Aníbal Fernández [secretário da presidência] se apresentem como testemunhas, já que têm tanta informação”.

Enquanto isso, a juíza encarregada de investigar a morte de Nisman, Fabiana Palmaghini, publicou na página do Centro de Informação Judicial um relatório completo sobre as diligências praticadas de 20 a 27 de janeiro. Palmaghini indica as 20 medidas de prova que pediu à promotora Viviana Fein. A juíza pede uma cópia da gravação que o canal privado C5N divulgou a respeito da chegada do promotor Nisman ao aeroporto internacional de Buenos Aires, quando interrompeu suas férias para tramitar a denúncia contra a presidenta. Palmaghini considera “chamativo” o acompanhamento que a câmara faz de Nisman.

A juíza ordena também que sejam fornecidas todas as provas possíveis que permitam verificar traslados entre o domicílio de Alberto Nisman e o do técnico Diego Lagomarsino, o último homem que o teria visto com vida. Diz a juíza em seu relatório: "Considerando a localização estratégica do apartamento onde residia Natalio Alberto Nisman – próximo a auto-estradas com pedágios – e tendo em vista que o domicílio declarado por Diego Angel Lagomarsino nesta pesquisa guarda idênticas características, julgo indispensável que, em caráter de grande urgência, se requeira todo tipo de registro (em vídeo, nominal, fotográfico) que possa ter sido feito nas auto-estradas úteis ao traslado entre ambos os lugares."

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