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Nisman “desconfiava de sua escolta”, diz amigo que emprestou arma

Diego Lagomarsino disse que o promotor se emocionou ao confessar: “Você sabe o que é sentir que suas filhas não querem estar com você por medo de que lhes aconteça algo?”

Francisco Peregil
Diego Lagomarsino, durante seu pronunciamento.
Diego Lagomarsino, durante seu pronunciamento.ALEJANDRO PAGNI (AFP)

Diego Lagomarsino, o técnico em informática que emprestou a Alberto Nisman o revólver que acabou com a vida do promotor, falou na quarta-feira à tarde com a imprensa pela primeira vez. Depois de ter sido objeto de críticas por parte da presidenta Cristina Fernández e de ter sido imputado no caso por emprestar sua arma, Lagomarsino declarou que o promotor pediu uma arma porque dizia que não confiava nem em sua segurança. Acrescentou que o promotor pretendia levá-la só para proteger suas filhas. “Ele me disse: ‘Não se preocupe, é para levá-la no porta-luvas caso apareça um louco e me chame de traidor, filho da puta’”, afirmou Lagomarsino.

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Sem ler nenhum papel em nenhum momento e com a voz emocionada em várias ocasiões, Lagomarsino explicou que o promotor lhe disse que tinha mais medo de ter razão do que de estar errado. Contou que Nisman pediu um revólver e que ele perguntou: “Mas para que você quer uma arma?” “Ele me disse: ‘na verdade, tenho medo pelas meninas’”, acrescentou o técnico.

- Mas Alberto – contou Lagomarsino que respondeu ao promotor – você tem segurança.

- Mas não confio mais nem na segurança.

“E nesse momento”, acrescentou Lagomarsino, “ele se emociona e me diz: ‘Você sabe o que é ouvir de suas filhas que não querem estar com você por medo de que lhe aconteça algo?’” Lagomarsino bebeu nesse momento um copo de água e acrescentou: “Eu sou pai, como a maioria de vocês, imagino. E o mais importante que temos são os filhos...”. A voz do técnico se emociona e ele continua: “Ele tinha um orgulho tremendo de suas filhas. Segundo sei... Então, eu falei: ‘Olha, é uma arma velha, é um 22, do que você vai se defender com isso?’. E ele me responde: ‘Não se preocupe, é para levá-la no porta-luvas caso apareça um louco com um pau e me chame de traidor, filho da puta’. Eu falei: ‘Mas Alberto, isso não assusta ninguém.’ E ele me respondeu: ‘O único favor que te peço e você não quer fazer?’”.

Lagomarsino confirmou que no sábado esteve em duas ocasiões na casa de Nisman. Na primeira chegou uns vinte minutos depois que Nisman ligou para ele às 16h25. Quando chegou ao domicílio do promotor, este perguntou se tinha uma arma. “Fiquei totalmente sem jeito, não podia acreditar que estava perguntando isso. Imaginem se o chefe de vocês pede algo assim. E lamentavelmente disse que tinha.”

A promotora Viviana Fein desmentiu a presidenta Fernández ao dizer que Nisman já tinha comprado sua passagem de volta a Buenos Aires e não interrompeu suas férias

Lagomarsino foi até sua casa buscar o revólver e voltou horas mais tarde à casa de Nisman com a arma enrolada em um pano verde. O técnico quis levar o pano, mas segundo relatou, o promotor disse que em duas semanas terminaria tudo e devolveria o revólver e o pano.

Às onze de domingo, Lagomarsino lhe mandou um WhatsApp: “Está mais tranquilo agora?”, perguntou. “Nunca me respondeu.”

Lagomarsino foi imputado na segunda-feira por ter emprestado ao promotor a arma de onde saiu a bala que o matou. O empréstimo de arma na Argentina é punível com um a seis anos de prisão. A presidenta o colocou no centro do redemoinho ao citar seu nome nas três ocasiões em que se pronunciou sobre a morte de Nisman. Na última, diante das câmeras de televisão, Cristina Kirchner chegou a utilizar quatro vezes a palavra íntimo para referir-se à confiança e à amizade que uniam Nisman e Lagomarsino.

A promotora que investiga a morte de Nisman, Viviana Fein, declarou ontem aos jornalistas que não há elemento algum que possa comprometer Lagomarsino em um fato doloso de maior gravidade, além de ter emprestado o revólver. Em relação a outro ponto da investigação, Fein afirmou que, segundo a informação oficial fornecida por Iberia Nisman, já havia comprado em 31 de dezembro, em Buenos Aires, a passagem de volta para a capital argentina para 12 de janeiro. Com isso, ficou desmentida a declaração pública da presidenta efetuada no Facebook, segundo a qual Nisman interrompeu suas férias na Espanha para apresentar a denúncia contra ela.

Por outro lado, na terça-feira foram suspensos provisoriamente da Polícia Federal dois dos dez policiais encarregados de proteger Nisman e na quarta-feira foi suspenso um terceiro agente. Os de terça-feira são o sub-oficial Armando Niz e o sargento Luis Miño. Ambos declararam ter chegado à casa de Nisman às 11h de domingo, 19 de janeiro. No entanto, só informaram seus superiores do ocorrido quase 12 horas depois, às 22h40, quando já se encontravam na residência de Nisman a mãe do promotor e o juiz encarregado de investigar a ocorrência.

Niz e Miño além disso, entraram em contradição. Coincidem em declarar que chegaram à residência às onze da manhã de domingo, tal como Nisman tinha pedido a eles. Mas, em suas declarações à promotora Viviana Fein, divergem sobre o momento em que dizem ter subido para bater à porta do apartamento, uma vez que Nisman não respondia ao telefone. Niz assegura que subiram entre 14h e 14h30 e Miño sustenta que foi às 17h. Além disso, Miño declarou que permaneceram com o carro estacionado no subsolo do edifício, onde não havia cobertura telefônica. E Niz afirma que se encontravam no chamado “estacionamento de cortesia”, onde podiam receber chamadas. Em qualquer caso, ficaram mais de 11 horas sem informar seus superiores.

Rubén Benítez, o policial afastado na quarta-feira, é o que trabalhava havia mais tempo na escolta do promotor e em quem Nisman mais confiava. A imprensa argentina revelou que o promotor convidou Benítez a entrar em seu apartamento no sábado de manhã, horas antes de sua morte. O promotor lhe disse que queria comprar um revólver e perguntou questões práticas como a marca, o calibre e o lugar onde poderia conseguir a arma.

Os três agentes passaram para o regime de “disponibilidade preventiva”, quer dizer, foram punidos com uma sanção administrativa mediante a qual são suspensos de seus cargos e proibidos de portar armas até que se pronuncie a Superintendência de Assuntos Internos.

O promotor Nisman foi encontrado morto em sua residência em 18 de janeiro, um dia antes de apresentar na Câmara dos Deputados uma denúncia contra a presidenta argentina e outros membros de seu Governo por suspeita de acobertar os terroristas responsáveis pelo atentado à sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1994, que causou 85 mortos.

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