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Egito reconhece remendo em Tutancâmon

Ministro de Antiguidades diz que a máscara do faraó “está segura” e que cola será retirada

Detalhe da máscara onde se vê a junção da barba com o rosto com cola.
Detalhe da máscara onde se vê a junção da barba com o rosto com cola.mohamed el-shahed (afp)

As autoridades egípcias não puderam esconder por mais tempo os problemas que a ornamentação pomposa ocasionaram a Tutancâmon. Três dias depois de o escândalo sobre uma reparação mal feita dar a volta ao mundo, o Governo do país árabe reconheceu, no sábado, que em agosto do ano passado a barba postiça se soltou do busto do faraó e que foram obrigadas a consertar com um produto pouco apropriado para um personagem de sua envergadura.

Acima, foto de sábado da máscara de Tutancâmon.
Acima, foto de sábado da máscara de Tutancâmon.khaled elfiqi (efe)

Dezenas de câmeras e jornalistas se aglomeraram no sábado à tarde para conseguir um lugar na sala do Museu Egípcio, local escolhido pelo ministro de Antiguidades, Manduh al Damati, para realizar uma entrevista coletiva internacional. Ele afirmou que “não há perigo”, que “a máscara está segura”, e que a única dificuldade é eliminar os restos da cola utilizada para substituir por um material mais adequado.

O arqueólogo alemão da Universidade de Mainz Christian Eckmann, que há anos trabalha com as autoridades egípcias, explicou que realizar “uma nova reparação é inevitável”. “Em agosto do ano passado, a barba caiu”, reconheceu o especialista. “Se você olhar a máscara, é óbvio que não foi feito da melhor maneira, porque ainda é possível ver restos de cola”, acrescentou depois aos jornalistas.

A joia do tesouro

São famosas as palavras pronunciadas por um obstinado Howard Carter quando seu mecenas Lord Carnavon o pediu para expressar o que via ao abrir, pela primeira vez, a tumba de Tutancâmon. "Coisas maravilhosas", disse o arqueólogo britânico, ao encontrar a morada intacta do faraó que estava procurando durante anos.

Era novembro de 1922 e Carter já havia ultrapassado todos os ultimatos, chegando, inclusive, a prometer pagar a escavação de seu próprio bolso, quando se deparou com os mais de 5.000 objetos que formavam o tesouro de Tutancâmon (1332 - 1323 a. C.). A máscara de 11 quilos e 54 centímetros estava sobre a própria múmia, que, por sua vez, se encontrava dentro de um precioso jogo de sarcófagos talhados em ouro.

O inventário levou 10 anos, apesar de a máscara ter sido levada para o Museu Egípcio, no Cairo, em 1924. Desde então, só saiu deste refúgio para um giro internacional nos anos 1970, quando visitou o Louvre e o Museu Britânico. No fim de 2015, poderá ser transferida para o novo Grande Museu Egípcio, que será aberto nesta época nos pés das Pirâmides de Gizé.

As autoridades, então, já tinham permitido a entrada na sala solene do museu onde fica exposta a famosa figura e os tesouros do jovem faraó. Aos olhos dos visitantes menos atentos, os sinais do reparo atrapalhado não são tão evidentes como pareciam nas primeiras fotos que começaram a circular. Mas, fixando a atenção, é possível ver os resíduos amarelados entre a barba e o queixo.

Ao que parece, é um problema de peso. “Durante sua história, a barba já caiu várias vezes”, esclareceu o arqueólogo alemão. “Em 1941, foi reparada pela primeira vez e foi mostrada assim no museu. Há alguns meses, durante trabalhos para mudar a iluminação, encostaram na barba e caiu, porque a cola anterior não conseguiu resistir depois de 70 anos”, acrescentou.

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O material utilizado desta vez foi uma resina epóxi, um produto de secagem rápida que se emprega em metais, pedras ou plástico, geralmente na construção civil. Segundo o ministro de Antiguidades, “o debate se concentra em saber se é prático ou não”, apesar de os especialistas aparentemente já saberem com clareza.

O diretor do Museu Egípcio já havia assegurado que, durante os três meses que está no cargo, nenhum incidente havia ocorrido. E o próprio ministro reconheceu que soube do problema “há dois dias”. Somente os trabalhadores do laboratório de restauração estavam cientes do ocorrido até então.

Agora, as autoridades prometeram formar um comitê de especialistas, integrado por arqueólogos e cientistas, que será responsável por realizar um novo reparo na barba. “Será um trabalho extremamente delicado”, afirmou o especialista alemão. “Não tem mais arranhões, não tem mais perigo”, repetiu inúmeras vezes o ministro de Antiguidades.

Momento em que os dois funcionários colaram a barba, em agosto.
Momento em que os dois funcionários colaram a barba, em agosto.

As autoridades egípcias acusam a mídia de exagerar os danos e lamentam a imagem negativa criada após a repercussão na imprensa do mundo todo e nas redes sociais. Durante as últimas 72 horas, os responsáveis pelo patrimônio egípcio insistiram que a máscara se encontra em bom estado de conservação, mas só reconheceram o problema depois que a polêmica saiu completamente de seu controle.

Até nova ordem, a máscara do jovem faraó continuará ocupando seu lugar de destaque no Museu Egípcio, um prédio localizado no centro do Cairo onde estão reunidas mais de 100.000 peças e cujos depósitos guardam muito mais itens do que os que estão em exibição. Está previsto para o fim deste ano a inauguração de um novo recinto, perto das Pirâmides, para onde será transferida grande parte da coleção. Os tesouros de Tutancâmon devem ser levados para lá, e sua máscara poderá seguir brilhando sem medo de sentir vergonha devido a seu cuidado facial.

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