Os ex-prisioneiros de Guantânamo se apresentam no Uruguai
Os seis libertados pelos EUA confraternizam em Montevidéu, aprendem espanhol e têm mais de 30 ofertas de emprego

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Foi o que concluíram os presos de Guantânamo libertados pelos EUA e levados ao Uruguai. Apesar de terem o anonimato garantido por seu estatuto de refugiados, nesta sexta-feira decidiram posar para os fotógrafos de barba feita e com camisas azuis. A mudança é tão impactante que a imprensa local publicou informações interativas do antes e depois. Assim, descobre-se que Ahmed Adnan Aham, sírio de 37 anos, é um homem de aparência juvenil e sem barba. Um contraste total com a imagem que o mostrava temível, com barba e o macacão laranja dos prisioneiros. Algo parecido acontece com Abd Hadi Omar, sírio de 22 anos, que, mesmo tendo deixado a barba, tem um aspecto bem diferente do que apresentava nas imagens que tanto assustaram a opinião pública uruguaia.
Desde sua chegada a Montevidéu no sábado passado, os ex-prisioneiros multiplicaram os gestos em relação à população local, que segundo uma pesquisa de outubro passado declarava-se majoritariamente contra sua chegada (58% dos entrevistados). Acomodados desde quinta-feira em uma casa do sindicato único uruguaio (Pit-CNT), passearam por Montevidéu sem se esconder e se mostraram sorridentes e até tomando mate, a infusão que os uruguaios tanto apreciam.
O Governo do Uruguai e o presidente José Mujica cumprem por enquanto sua promessa de lhes dar toda a liberdade —“No primeiro dia que quiserem ir, podem ir”, disse o presidente. Os Estados Unidos exigiu a princípio que ficassem no Uruguai obrigatoriamente por dois anos. Os seis homens foram declarados ex-detentos pelo Governo de Washington em 2009 e são considerados pouco perigosos. Todos passaram mais de dez anos na base militar norte-americana em solo cubano sem julgamento nem sentenças. Quatro são sírios, um, palestino, e outro é tunisiano. Seu traslado para o Uruguai foi o de maior importância desde 2009 e o primeiro a ser feito na América do Sul. Depois dessas libertações, restam 137 presos em Guantânamo, 68 deles na qualidade de libertados.
Os seis antigos presos serão submetidos a discreta vigilância, garantiu à imprensa local uma fonte do Ministério do Interior. Segundo dados norte-americanos, dos 88 libertados de Guantânamo enviados a outros países, cinco voltaram às atividades terroristas.
Vários ex-detentos transladados mostraram seu interesse em receber seus familiares no Uruguai, um país de 3,3 milhões de habitantes. Os seis estão aprendendo espanhol, receberam exemplares do Corão e, segundo o sindicato, já têm mais de 30 ofertas de emprego. Muitos cidadãos identificaram a casa em que vivem, em pleno centro de Montevidéu, e doaram roupas, alimentos e vários objetos. Tanto o Governo como esses novos cidadãos livres esperam que se supere a desconfiança de grande parte da sociedade.
Baseado em uma ideia interativa do jornal El Observador.