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São Paulo para inglês não entender

Marcas da identidade paulistana que ninguém de fora entende podem se tornar rentáveis

María Martín
www.facebook.com/sintasepaulistano
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– Então, para você curtir mais da cidade, este final de semana a gente vai organizar um picnic no Ibira...

– Legal, mas tem certeza? Depois você não vai ligar. Paulistanos já me deram cano [balão, migué, mancada] em todos os idiomas.

– Claro que vou te ligar, meu. Tá fechado para o sábado.

O picnic, obviamente, nunca aconteceu, assim como o convite formal ao open-house ou o happy-hour com os colegas do trabalho, mas hoje uns cartazes satíricos sobre o lifestyle paulistano confirmam que não foi nada pessoal: “Marque compromissos como se tivesse todo o tempo do mundo. Cumpra como se tivesse nenhum”.

Paulistano é assim mesmo, e se apega aos códigos que o tornam único e que agora a fanpage do Facebook “Sinta-se paulistano” está começando a compilar.

www.facebook.com/sintasepaulistano
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A ideia de extrair a essência do paulistano contemporâneo em frases, gírias ou costumes veio do paranaense Flávio Pucci. Um cara de fora, claro. E parece que ele pegou o jeito. Basta ouvir as gargalhadas ao ler coisas como “Visite diversas exposições de arte. Pelo Instagram”, “Economize tempo. Abrevie o nome de tudo: Ju, Pri, Ibira, Fla, Ka” ou “Desconfie dos lugares sem fila”. Um elenco de expressões que resumem um estilo de vida [nada fácil] e que supõe um desafio para o gringo, mas também para o resto dos brasileiros.

A iniciativa, que surgiu apenas para caricaturar o jeito do paulistano de lidar com a própria cidade, ganhou tantos seguidores nos últimos três dias que seu idealizador já pensa nos planos para rentabilizá-la. O domínio para criar um site está comprado, e o fornecedor de camisetas contatado.

“Eu venho de uma cidade pequena e sempre falei que nunca moraria em São Paulo. No começo, não gostava e comecei a reparar com um amigo nesses jeitos de lidar com a cidade e fazíamos piada. Virou um arquivo de google drive abandonado, mas reli em agosto e vi que tinha muita coisa boa, engraçada e resolvemos lançá-lo”, explica Pucci, publicitário de 32 anos.

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Pucci, na verdade, não está contando nada novo e apenas colocou no papel o amor do paulistano pelas filas, o carro, o celular, o Facebook ou o shopping e a construção de um dialeto próprio com palavras como “mano”, “padoca”, "bolacha", “bexiga” ou “meu”. Alguns aludidos contataram Pucci revoltados, afirmando que não poderia fazer as mesmas piadas com os nordestinos porque o acusariam de preconceituoso. Outros simplesmente se identificaram, gargalharam e se animaram a mandar sugestões. A lista é longa, mas não é nada pessoal. Depois de conquistar São Paulo, Pucci irá atrás dos cariocas e dos gaúchos.

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