Corrupção influenciará no voto dos eleitores dessa vez?
O segundo turno será um teste importante para descobrir se a consciência cívica dos brasileiros mudou ou se acreditam, ainda, que ser corrupto faz parte
Os analistas políticos estão voltando atrás na ideia de que essas eleições estavam deixando os brasileiros passivos e indiferentes, que estariam se refugiando, por desencanto, na comodidade do voto de abstenção, branco ou nulo.
Pelo contrário, parece cada dia mais claro que dessa vez os eleitores estão concedendo um peso especial para seu voto, o que não ocorria no passado. Será que esse fato reflete, cada dia mais em evidência nas redes sociais, que os brasileiros estão amadurecendo e compreendendo a importância que cada voto pode ter no presente e no futuro de suas vidas?
Existe algo tangível nesse caso, já que no primeiro turno foi possível ver as pessoas indo votar levando em suas mãos um voto com a seriedade de quem está decidindo os destinos do novo Brasil, país para o qual outras nações do mundo voltaram sua atenção, pelo peso que esse líder latino-americano tem hoje na política mundial.
Era fácil observar em diversos colégios eleitorais como brasileiros de todas as idades, geralmente felizes, que transformam em alegria e barulho até as manifestações cívicas mais sagradas, entravam às pressas, sem vontade de conversar, como se devessem tomar uma decisão importante e deveriam fazê-la com seriedade e sem distrações.
“Agora não, que o voto é uma coisa séria” me respondeu um amigo que entrava para votar e com quem fiz uma brincadeira. E acrescentou: “Apareça na minha casa depois e nos divertimos. Aqui, não”.
Sempre existiu a ideia de que votar era uma rotina a mais para os brasileiros, convencidos de que os políticos não mudam e tanto faz eleger um ou outro. Existia uma espécie de fatalismo de que o voto servia para pouco, pois a sorte já estava decidida e muitos votos, comprados, às vezes até a preço de liquidação.
Poucas vezes como essa eu ouvi no Brasil, entretanto, se discutir tanto de política e das eleições nos mercados, nas filas da lotéricas e até nas ruas. Esta tarde, na minha farmácia, ocorreu uma discussão entre um aposentado e uma senhora de meia idade, que debatiam se o escândalo de corrupção na Petrobras era maior, diferente ou igual a todos os outros do passado. A discussão quase acaba em briga.
E essa é uma pergunta que está no ar, e de difícil resposta. É costume dizer que no passado os candidatos se preocupavam pouco sobre o tema corrupção nas eleições. Existia a ideia que os brasileiros haviam aceitado que todos os políticos roubam e que o importante é se além de roubar, “fazem”. E mais, explicavam os antropólogos, a corrupção já fazia parte do subconsciente coletivo brasileiro pois, de um modo ou de outro, todos se corrompem alguma vez em benefício próprio e permitem assim que os demais também o façam.
A incógnita é se essa herança do passado continua viva ou se algo mudou depois do despertar dos protestos de rua de 2013. Começou ou não uma nova consciência de que a política pode ser diferente, que se pode governar sem se corromper e roubar e que é possível ir para a política não para enriquecer, mas para se empenhar em melhorar o país e defender os valores da ética, a convivência pacífica e esse velho porém cada vez mais atual sentimento da honradez?
O jornal Folha de S. Paulo insinuou que a derrota do PT em São Paulo pode ter ocorrido por conta do escândalo de corrupção do mensalão, cujos responsáveis acabaram na cadeia e eram os mais influentes líderes políticos do partido naquele Estado.
Até que ponto o voto do próximo dia 26 estará ou não influenciado em todo o país pelas revelações de corrupção na Petrobras, com cifras absurdas que ao que parece afetam personagens importantes do partido do Governo e de outros aliados dele?
A presidente e candidata Dilma Rousseff assegurou que deseja que se tornem públicas todas as denúncias para que ela possa tomar as medidas necessárias. É uma decisão correta, já que se a corrupção corrói a democracia, não é menos grave a impunidade que envolve os escândalos sob uma blindagem protetora.
E tão grave quanto a impunidade seria continuar condenando o mensageiro, ou seja, a imprensa, por revelar a corrupção ao invés de colocar diante dos juízes os que foram descobertos com o dinheiro nas mãos ou em seus bolsos.
O voto do dia 26 será dessa vez, mais do que nunca, um teste importante para descobrir se a consciência cívica dos brasileiros mudou ou se continuam acreditando que a corrupção política faz parte da idiossincrasia nacional e que pouco ou nada afeta os valores da democracia.
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