_
_
_
_
_

O líder supremo iraniano recusa o pedido dos EUA de lutar contra o EI

Ali Khamemei afirma que vetou a cooperação contra os jihadistas porque desconfia de Washington

Um soldado do Exército sírio, em Hama.
Um soldado do Exército sírio, em Hama.GEORGE OURFALIAN (REUTERS)

O Irã recusou o pedido dos Estados Unidos de cooperação na luta contra o Estado Islâmico (EI). Foi o que assegurou nesta segunda-feira o líder supremo iraniano, Ali Khamemei, que afirma que os EUA buscam “um pretexto para fazer no Iraque e na Síria o que fizeram no Paquistão, bombardeando onde bem entendem sem autorização”. Suas palavras colocam fim às especulações sobre um possível entendimento entre os velhos inimigos, que agora enfrentam um adversário em comum. A profunda desconfiança do regime iraniano também esconde seu mal-estar pelo alinhamento de Washington com seus rivais árabes.

“Os Estados Unidos, por meio de seu embaixador no Iraque, solicitaram a cooperação contra o EI. Neguei porque [os norte-americanos] têm as mãos manchadas nesse assunto", colocou Khamemei, fazendo referência a aliança com a Arábia Saudita e outros países árabes que o Irã considera responsáveis pela propagação do extremismo islamita.

De acordo com as autoridades iranianas, depois do pedido do embaixador norte-americano, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, telefonou pessoalmente para o ministro de Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, que também recusou a proposta. A revelação acontece logo depois da saída do hospital onde o líder iraquiano se submeteu a uma cirurgia de próstata na semana passada.

Mais informações
Trinta países decidem usar “todos os meios, inclusive militares” contra o EI
Vários países árabes são a favor do bombardeio ao EI
Hollande pede “compromissos claros” Paris contra o EI
A CIA acredita que cerca de 31.500 extremistas lutem com o Estado Islâmico

“Enquanto estava internado, ficava entretido escutando as declarações norte-americanas sobre o ataque ao EI", declarou Khamemei, que teve suas falas retiradas de seu site e prontamente traduzidas para o inglês em sua conta de Twitter. John Kerry respondeu que assegura que os EUA manterão os esforços diplomáticos para contar com o apoio do Irã, explica o The New York Times.

Em um inusitado reconhecimento dos desentendimentos entre a elite dirigente, Khamemei admitiu que “alguns servidores públicos não se opunham a analisar uma cooperação com os EUA”. Não obstante, afirmou que ele recusou a possibilidade porque esse país “tem tomado ações para criar e difundir o terrorismo”. Além disso, defendeu que “quem freou ao EI no Iraque não foram os EUA, mas sim o Exército e as forças populares iraquianas”, disse fazendo referência à ruptura do cerco de Amerli, localizado no leste do Iraque.

Foi precisamente essa operação que alentou as teorias sobre a existência de algum tipo de cooperação entre o Irã e os EUA. A aviação norte-americana bombardeou as posições do EI ao redor de Amerli horas antes que o Exército iraquiano e as milícias xiitas treinadas pelo Irã chegassem na cidade, sitiada por 75 dias. O general Qasem Soleimani, chefe da Fuerza Qods, a unidade de operações exteriores dos Guardiões da Revolução (Pasdarán), não teve problemas em ser fotografado nessa frente.

Os especuladores não estavam divagando. Teerã e Washington, que não mantêm relações diplomáticas desde a crise dos reféns há 35 anos, enfrentam um inimigo comum nos extremistas sunitas do EI. Além disso, ambos foram os principais aliados do Iraque pós-Sadam (dois terços dos iraquianos professam o islã xiita, do qual o Irã é o farol). Inclusive uma vez que os jihadistas tomaram Mossul em junho, o regime iraniano aceitou retirar o apoio a Nuri al Maliki, quem apoiava até então como primeiro-ministro.

No entanto, a luta contra o EI não se limita ao Iraque. O grupo também conquistou amplas zonas da Síria, onde a República Islâmica apoia Bachar el Asad. Para fazer frente a sua ameaça, o Irã propõe “reforçar os Governos iraquiano e sírio”, e nega-se a bombardear o território sírio sem a anuência de Damasco. Isso se choca com os interesses dos EUA e seus aliados árabes, que têm apoiado os rebeldes na guerra civil daquele país e que rejeitaram a oferta de cooperação do regime sírio.

Daí a complexidade de montar uma coalizão regional que supere as rivalidades políticas; além de não convidar o Teerã à conferência em Paris que aconteceu na segunda-feira. Embora alguns analistas defendam que só com seu envolvimento (e sua eventual aproximação da Arábia Saudita) possa ser resolvida a crise do EI, Washington concluiu que isso poderia exacerbar ainda mais as tensões religiosas. Para a Casa Branca, trata-se de uma briga “dentro do islã sunita”. Agora é esperar para ver no que poderá acarretar esse desencontro em relação as quase esquecidas negociações nucleares.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_