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Hollande pede “compromissos claros” na reunião de Paris contra o EI

Caças franceses Rafale já fazem voos de reconhecimento sobre o Iraque

Carlos Yárnoz

Paris sedia, nesta segunda-feira, uma conferência internacional organizada pelo presidente francês François Hollande sobre “a paz e a segurança” no Iraque, em um gesto novo e significativo para mostrar ao mundo, e especialmente aos Estados Unidos, que a França quer desempenhar um papel próprio e preponderante na batalha contra o Estado Islâmico (EI). Hollande convocou o presidente iraquiano, o curdo Fuad Massum, ministros de Relações Exteriores e representantes de 23 países, a União Europeia, a Liga Árabe e a ONU. Na abertura do encontro, Hollande pediu aos aliados “compromissos claros” para ajudar o Iraque a enfrentar os jihadistas.

“Não há tempo a perder”, destacou Hollande diante de seus convidados. “O combate dos iraquianos contra o terrorismo também é nosso”, destacou, para acrescentar que “a França assumirá sua parte” nessa coalizão internacional contra o EI proposta pelos EUA. O presidente iraquiano, por sua vez, descreveu os ataques jihadistas selvagens que estão ocorrendo em boa parte de seu país e incluem “a purificação religiosa”, destacou, para pedir em seguida que o apoio aéreo dos aliados na luta contra o EI não cesse.

Na verdade, e na mesma hora em que tinha início a reunião de Paris, na manhã desta segunda-feira, caças-bombardeiros franceses Rafaele da base de Al Dhafra (em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos) iniciavam 15 voos de reconhecimento sobre o Iraque, segundo fontes oficiais francesas. A operação é realizada a fim de localizar (e fotografar) potenciais objetivos do Estado Islâmico (EI) que a França prevê bombardear em datas próximas em coordenação com os países que participam da coalizão internacional contra os jihadistas. O ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, visita nesta segunda-feira a base francesa para verificar seu estado de funcionamento.

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No encontro parisiense, estão presentes os representantes dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, incluindo John Kerry pelos Estados Unidos, além de ministros de países vizinhos ao Iraque e à Síria. Também participa o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel García Margallo. Fontes do Governo francês destacaram a este jornal que o Irã não participa “devido às desconfianças” da Arábia Saudita e Estados Unidos.

Entre os objetivos do encontro, essas fontes citam a criação do marco adequado para coordenar os esforços de cada país, incluindo o financeiro: a concretização das fórmulas nas ações militares, e a gestão dos apoios ao Iraque para que disponha de forças operacionais bem dotadas de armamentos.

A França, que não participou da invasão do Iraque em 2003, quer deixar claro com essa nova iniciativa “seu compromisso total” com Bagdá, “dentro de um marco internacional, e especialmente europeu”, garantem as fontes oficiais. Paris assume que seu papel é “complementar” e que os EUA, que está bombardeando os jihadistas do EI desde 8 de agosto, tem um protagonismo óbvio e indiscutível.

Mas a França também pretende colocar em destaque que esta não é só uma operação de Washington e que quer jogar na primeira fileira. Além dos próximos ataques aéreos anunciados, a França foi o primeiro país europeu a entregar, em julho, armas aos curdos iraquianos para que se defendam do EI. Já fez quatro entregas, sobretudo de metralhadoras pesadas. Na sexta-feira passada, Hollande foi o primeiro chefe de Estado a visitar Bagdá e, depois, Ervil, a capital curda. Ali prometeu mais ajuda militar direta.

Ainda que Paris acredite dispor de cobertura legal internacional para as ações militares —porque o Governo iraquiano o solicitou e provavelmente repita o pedido hoje na capital francesa—, acredita ser “mais conveniente” que haja resoluções da ONU a respeito. Além disso, a França está especialmente em guarda diante da possibilidade de que membros da coalizão ataquem objetivos na Síria, uma opção na qual Paris não quer se ver envolvido. Hollande já disse na abertura da reunião que a opção da França na Síria é apoiar a oposição democrática do país, porque é a única capaz de conseguir acordos políticos duradouros no futuro.

Para explicar seu protagonismo, fontes do Governo francês relembram seu envolvimento militar especial diante dos jihadistas na região subsaariana —operações no Mali e na República Centroafricana com a participação atual de 3.000 soldados— e a inclusão de extremistas franceses nos grupos jihadistas: 946 viajaram à Síria e 349 se tornaram combatentes, dos quais 37 morreram, segundo dados oficiais de agosto. Em janeiro, 70 pessoas desse grupo eram mulheres. Em agosto, já eram 175. E 40, menores.

A Espanha ainda não decidiu se participará da coalizão internacional contra os jihadistas e, em caso afirmativo, em que nível o faria.

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