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A AMEAÇA JIHADISTA

Vários países árabes são a favor do bombardeio ao EI, segundo Washington

Os interessados não se manifestaram, mas sua intervenção legitimaria a coalizão global

Ángeles Espinosa
O presidente iraquiano, Fuad Masum, quando chegou a Paris.
O presidente iraquiano, Fuad Masum, quando chegou a Paris.Françoois Mori (AP)

Vários países árabes se ofereceram para participar nos bombardeios aéreos contra o autodenominado Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, segundo revelaram funcionários norte-americanos este domingo em Paris. Esse passo contrasta com o pouco entusiasmo que os árabes mostraram com o plano de Washington para acabar com esse grupo terrorista. Embora sem dúvida ajudará a legitimar a campanha, a ausência de um anúncio oficial por parte dos implicados mostra as tensões e contradições que abordam estes Governos.

“Não quero deixar a impressão de que os membros árabes [da coalizão] não se ofereceram para realizar bombardeios porque vários deles fizeram isso”, revelou um alto funcionário norte-americano aos jornalistas que viajam com o secretário de Estado John Kerry, citado pela agência Reuters. Os ataques não se limitariam ao Iraque, já que “alguns indicaram faz algum tempo sua vontade de ir além”.

As fontes se negaram a identificar quem está disposto a dar esse passo. Trata-se de uma contribuição crucial já que não significaria apenas a possibilidade de ampliar para a Síria a atual campanha norte-americana contra as posições do EI no Iraque, mas também reforçaria a credibilidade desse projeto em uma região que suspeita muito do compromisso norte-americano. Por enquanto, os EUA estão identificando as tarefas que cada país vai desenvolver na coalizão contra os jihadistas.

Durante sua escala na Arábia Saudita na última quinta-feira, Kerry conseguiu o apoio desse país e outros nove Estados árabes para a coalizão global proposta poucos dias antes pelo presidente Barack Obama para enfrentar as ameaças do EI. O comunicado, assinado, além dos sauditas, pelo Kuwait, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Omã, Egito, Jordânia, Líbano e o próprio Iraque, não concretizava o tipo de assistência que cada um se comprometeu a prestar. Os porta-vozes norte-americanos deixaram claro que têm uma interpretação ampla do que constitui a contribuição para a campanha militar: desde o envio de armas até qualquer tipo de treinamento, como o oferecido por Riad para preparar os insurgentes sírios moderados.

Também essa assistência foi anunciada a partir de Washington, sem que os responsáveis sauditas tenham desmentido. Por que não a tornam oficial? O cauteloso silêncio dos governos árabes parece estar ligado tanto às diferenças de matizes que mantêm com os EUA, quanto ao temor de que a operação termine voltando-se contra eles.

Por um lado, a Arábia Saudita, os Emirados e o Egito têm seus próprios interesses em jogo e temem que os bombardeios contra o EI na Síria terminem beneficiando o regime de Bashar Al-Assad, e seu mentor no Irã, contra os quais estiveram apostando na guerra civil desse país. Além disso, gostariam que a luta antiterrorista não se limitasse a esse grupo, mas que se ampliasse contra outros islâmicos, como a Irmandade Muçulmana, que são os que desafiam diretamente seus governos.

Por outro, sem a construção de um projeto político paralelo, o mero recurso aos bombardeios sobre regiões eminentemente sunitas cria o risco de alienar ainda mais esta comunidade, majoritária em todos os países árabes, exceto em Bahrein, Omã e Líbano. Até agora os propagandistas do EI manipularam a seu favor as vítimas civis dos ataques aéreos realizados por Damasco e Bagdá.

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