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Cebrián defende a reforma da Constituição diante do conflito catalão

O presidente do Prisa considera a reforma eleitoral preparada pelo Governo "uma monstruosidade"

Amanda Mars
Juan Luis Cebrián, durante o café da manhã informativo.
Juan Luis Cebrián, durante o café da manhã informativo.samuel sánchez

O presidente do Prisa, grupo editor do EL PAÍS, Juan Luis Cebrián, defendeu nesta segunda-feira uma reforma da Constituição espanhola de âmbito federal como única resposta possível para deter o movimento independentista da Catalunha e, em conjunto, lidar com a crise institucional sofrida pela Espanha e a insatisfação dos cidadãos quanto ao sistema político. Em um café da manhã informativo organizado por Nueva Economía Fórum, Cebrián também arremeteu contra a reforma eleitoral preparada pelo Governo —classificou de “monstruosidade”— e expressou sua “enorme satisfação” com a decisão de Ana Botella de não se apresentar como candidata à prefeitura de Madri, já que tê-la como governante, rebateu, “é um suplício”.

Para Cebrián, a participação em massa na manifestação da Diada passada em Barcelona “era previsível” e o fato de que “uma manifestação tinha 500.000 pessoas e outra, 7.000 [em referência à convocada em Tarragona pelos contrários à soberania] é um dado que precisa ser levado em conta por políticos e empresários”. O presidente do Prisa se mostrou convencido de que “não há outra resposta além da reforma da Constituição federal” já que, na verdade, estatutos de autonomia como o valenciano e o catalão “salvo no plano fiscal, já contemplam competências próprias de estados federais, como nos cantões suíços”.

“Não há outra saída além da reforma da Constituição em seu artigo 8”, ressaltou o empresário, e à realização de “uma lista fechada de competências do Estado que sejam indiscutíveis”. De outro modo, “não haverá estabilidade política territorial”.

"Considero um suplício ter uma prefeita como Ana Botella"

“‘É preciso regenerar a democracia’ é o slogan mais recente com o qual a direita nos surpreendeu”, em um contexto de crise institucional global, destacou Cebrián, mas para conseguir essa regeneração “é preciso mudar o sistema, caso contrário é praticamente impossível que este sobreviva”. A Constituição de 1978 trouxe um longo período de paz e convivência, disse, mas os ciclos, advertiu, “acabam se não for alterada”. Dentro desse contexto, é necessário enfrentar uma reforma constitucional “nem traumática, nem apressada, mas combinada”.

A reforma eleitoral anunciada pelo Executivo de Mariano Rajoy, e que conta com a oposição de todos os partidos exceto o PP, não é a via para melhorar essa qualidade democrática, a seu ver. A modificação, proposta a poucos meses do pleito municipal, consiste na eleição direta de prefeitos, de forma que governe o mais votado, e beneficia sobretudo os candidatos populares. Cebrián qualificou de “uma arbitrariedade” que se pretenda mudar as regras do jogo exatamente antes da convenção eleitoral e “uma monstruosidade incrível”.

"Estamos criticando a casta há anos"

Sobre o fato de que Botella não vai concorrer como candidata nessas eleições, o presidente do Prisa também foi taxativo: “Sinto-me muito satisfeito porque, como madrilenho, considero um suplício ter uma prefeita como Ana Botella”, reforçou. Em relação ao futuro prefeito, apenas manifestou sua esperança de que “seja capaz e financeiramente responsável, e não endivide a cidade no nível feito pelo Panamá para construir seu segundo canal, que é o que custaram os túneis da M-30”.

‘Podemos não me preocupa’

Em relação à ascensão de Podemos, o novo partido liderado por Pablo Iglesias e que chamou a atenção nas últimas eleições europeias ao conseguir cinco cadeiras, Cebrián não demonstrou inquietude. “Podemos é a expressão de alguns cidadãos e não me preocupa que os cidadãos se expressem”, destacou.

Indagado sobre se acredita nos bons resultados atribuídos pelas pesquisas a ele, explicou que confiava nelas sim — “Mais nas privadas do que nas do CIS, pelo temor atávico de que as públicas possam ser manipuladas”— ainda que tenha acrescentado que “as sondagens demonstram muitos votos ocultos ao PP e ao PSOE”. Mesmo assim, opinou que o Podemos pode conseguir bons resultados. “Se os sistemas se integram ao sistema, este fica melhor, e os antissistema desaparecem, porque entram nele”, disse.

Cebrián discordou de algumas propostas esboçadas por esse novo partido, que defende não pagar a dívida, por exemplo, e colocou a necessidade de uma Lei da Mídia. “Não pagar a dívida leva à falta de financiamento e ao desabastecimento, como na Venezuela”, advertiu. No entanto, compartilhou as críticas dessa formação “à casta” ainda que “temos feito essa crítica há muitos anos”. Também brincou: “acho engraçado que os líderes de um partido antissistema tenham os sobrenomes Iglesias e Monedero”.

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