A UE convoca uma cúpula para impulsionar a economia
A recaída da crise obriga os líderes a convocar uma nova reunião O conflito com a Rússia marca as nomeações na cúpula europeia
Após vários meses de otimismo em que a única coisa que realmente funcionou são os mercados, os líderes europeus despertaram do sonho neste sábado e perceberam que a proclamada recuperação era uma ilusão e que a política econômica – austeridade e reformas expressas das mais diversas formas – continua sem resultados. Diante deste cenário, mais cúpulas: o Conselho Europeu anunciou com a fanfarra habitual uma nova reunião em 7 de outubro na Itália para discutir “emprego, crescimento e investimento”.
Será a terceira com o mesmo leitmotiv em pouco mais de um ano: os mesmos líderes se reuniram com os mesmos objetivos, duas vezes no ano passado em Berlim e Paris, e concordaram com uma injeção de 6 bilhões de euros (18 bilhões de reais) contra o desemprego juvenil. Não funcionou: os números do desemprego melhoraram timidamente, Alemanha, França e Itália voltam ver sinais de recessão e as sanções contra a Rússia por causa da crise Ucrânia terão efeitos graves em todo o continente. Chega o outono e vêm curvas: a história se repete sem variações desde 2007, diante da crise de liderança e de ideias em que a UE está mergulhada.
Anunciada mil e uma vezes, a recuperação europeia não decola. O desemprego continua dramaticamente alto, o continente está cheio de dívidas, os bancos continuam gripados e a inflação baixa antecipa problemas graves: talvez até mesmo alguma década perdida à japonesa, quando já se vão sete anos de vacas magras.
Diante dessa dupla crise, os líderes formaram, na noite passada, a nova cúpula que deverá lutar contra os desafios que se avizinham: a economia debilitada, a possível saída do Reino Unido e o conflito com a Rússia. O Leste europeu ganha peso: o conservador moderado Donald Tusk, uma estrela emergente de um país emergente como a Polônia, será o novo presidente do Conselho Europeu. Com isso, o bloco do Leste assume o comando 10 anos após a ampliação, em pleno conflito com a Rússia. E a social-democrata italiana Federica Mogherini será finalmente a nova chefa da diplomacia europeia. A crise na Ucrânia paira sobre essas duas nomeações: em contraste com a beligerância contra Moscou demonstrada pela Polônia, a Itália tem sido o país menos favorável às sanções. A UE, em suma, continua buscando o equilíbrio para não descarrilar.
E não apenas na política externa: a política econômica, muito marcada pelas receitas alemãs, está prestes a buscar novos enfoques. No verão de 2013, o presidente do BCE, Mario Draghi, presenteou a Europa com um ano de tranquilidade depois do seu “farei tudo que for necessário”. Essa mensagem impressionou os mercados. Mas só os mercados: a economia não deslancha e agora o próprio Draghi admite que a União precisa mudar de rumo. Após seu recente discurso em Jackson Hole, no qual alertou para problemas graves, a UE começou a mostrar o seu novo mapa de rota neste sábado.
O essencial são as reformas estruturais na Itália e na França, especialmente no mercado de trabalho: aí se inclui tanto a recente crise de Governo na França, como a reunião de cúpula anunciada para outubro. Draghi exige essas medidas a Roma e Paris como moeda de troca para comprar apoio político em Berlim e nas compras maciças de dívida pública e outros ativos financeiros. E, para mitigar os efeitos recessivos das reformas a curto prazo, defende política fiscal: na reunião, o novo presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, delineará seus planos de investimento (basicamente em infraestrutura) para dar suporte ao crescimento, sempre em troca das reformas na França e na Itália.
A política econômica da União tensionou-se em demasia – em relação a outras regiões do mundo – e chega a hora de dar uma virada à qual a Alemanha resiste: apenas concede giros retóricos apesar das reclamações de François Hollande, Matteo Renzi e todos os líderes que têm procurado algo diferente. A nova liderança da UE deve conseguir o que a anterior não conseguiu: que Merkel abrace essa mudança com algo mais do que palavras.
Mas a União fala mais alemão do que nunca, e é tão moderadamente conservadora como sempre: a nova UE continua presidida por dirigentes populares (no Conselho e na Comissão) e agora também germanófonos; como Juncker e Tusk, e este último teve até que se desculpar, no sábado, por não poder se expressar em inglês. “É difícil manter o equilíbrio entre a disciplina orçamentária e o crescimento, mas pode ser feito”, disse ele em polonês com um sotaque político moderadamente alemão. Em sua apresentação em Bruxelas, que se defendeu Mogherini se defendeu dos que a acusam de inexperiência e, com relação à Rússia, deixou claro que continuará negociando: “Não haverá solução militar. Trata-se de conseguir um equilíbrio entre aplicar sanções e manter abertos os canais diplomáticos”. Mudaram os nomes; a música, por enquanto, soa igual.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.